• Sexta-feira, 26 de abril de 2024
  • Receba nossos relatórios diários e gratuitos
Scot Consultoria

Recria e confinamento reunidos


Segunda-feira, 11 de maio de 2015 - 17h59

Encontro de Confinamento da Scot Consultoria


Tempos atrás, início dos anos 2000, a pecuária de corte era uma atividade livre, um destacado universo formado por criadores, compradores e abatedores, conta o diretor-fundador da Scot Consultoria (Bebedouro/SP), Alcides Torres. "Uma concorrência perfeita", define. Porém, de alguns anos para cá, o segmento assistiu ao crescimento de algumas empresas via financiamento público, gerando concentração do mercado e desequilíbrio no setor. "Isto não foi bom para pecuária brasileira". Aliado a isto, novas gerações adentraram nos negócios do boi, produtores sem experiência em períodos inflacionários severos; o número de mulheres pecuaristas cresceu; e hoje, a informação chega à palma da mão do pecuarista em abundância.


Mais dinâmica do que nunca, a bovinocultura de corte passa dia a dia por uma série de transformações e, quem não acompanhar tais mudanças, terá como destino a saída da atividade, conforme descreve Torres: "Os grãos empurram a pecuária extrativa para a marginalidade, forçando estes produtores a desistir da pecuária". Desta forma, para sobreviver e se destacar no segmento, o consultor sugere: "A melhor resposta é sempre a solução mais simples".


Mesmo não sendo novo, o tema é preocupante e, neste sentido, a Scot Consultoria organizou em Ribeirão Preto (SP), entre 14 e 16 de abril, a primeira edição do Encontro de Recriadores, unido ao já tradicional Encontro de Confinamento, que neste ano chegou a sua décima edição. "Em função da elevação do preço da arroba dos animais de reposição, há confinadores trabalhando com animais de 10@, bezerros. Isto é uma novidade. Portanto, reunimos em um mesmo evento a carência de informação acerca da recria e confinamento, matando dois coelhos com uma cajadada só", alinha o analista.


CENÁRIO DE TRANSIÇÃO. Nos últimos anos, o mercado viu não só uma alta do preço do boi gordo, mas também da reposição, ocasionada pela oferta escassa, inicia o consultor e diretor Técnico da Scot Consultoria, Gustavo Aguiar. "Atravessamos uma fase onde se abateu muitas fêmeas, o que propiciou uma redução da disponibilidade de animais, e isso repercutiu em aumento dos preços. Porém, ao longo dos próximos anos, veremos uma reversão deste processo". (Veja no gráfico abaixo um comparativo por Estado da variação do preço boi gordo e do bezerro desmamado)


comparativo por Estado da variação do preço boi gordo e do bezerro desmamado


A explicação para a mudança deste quadro está na demanda, como explica o analista da Scot Consultoria, Alex Lopes. "Cerca de 80% da produção brasileira é destinada ao mercado interno, e, como a população vem sentindo os efeitos macroeconômicos do País, o consumo vem sofrendo baixas". O mercado externo também não se apresenta de forma animadora: "Países como Estados Unidos e China ainda não compraram quantidades expressivas da carne brasileira e, mesmo o Brasil exportando para diversas regiões, ainda há uma concentração, como Rússia e Venezuela, países que sentem a crise internacional do petróleo". Desta forma, o próprio mercado atua na direção de limitar o poder de valorização da arroba.


Este conjunto de fatores resulta em um cenário único: o produtor é quem está dando as cartas do jogo. Lopes detalha: "Além de ser escassa a oferta de boi atualmente, as fazendas estão com pasto, devido às chuvas, ou seja, isto possibilita ao pecuarista reter o animal e só entrega-lo ao frigorífico mediante a pagamento acima do preço de referência". Porém, o analista ressalta os riscos para a cadeia como um todo, pois a operação dos frigoríficos está com margens baixas. "Com o poder de compra reduzido e resultados menores, a indústria pode não conseguir mais pagar pelos animais. Então, não adianta querer crucificar determinado elo da cadeia, é preciso andar juntos e trabalhar de forma harmônica. Se houver prejuízos para a indústria, toda a cadeia acaba sofrendo".


Acreditando em um mercado firme devido a menor oferta de bois, o atual momento é o ideal para o produtor fazer contas e saber exatamente o seu custo de produção, para assim utilizar as ferramentas de comercialização via mercado futuro, sugere o médico veterinário e consultor de Mercado da Scot Consultoria, Hyberville Neto. "É preciso ter em mente os valores mínimos que se pode receber pela arroba e trabalhar daí para cima. Assim que aparecer a oportunidade, não esperar até o segundo semestre e utilizar a ferramenta de preço mínimo e travar a negociação, pelo menos parte dos animais, se esta já o remunera de maneira satisfatória".


"O confinador não pode se tornar refém do momento de venda", complementa o pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP (Piracicaba/SP), Sérgio De Zen, e reforça: "Em um ano totalmente incerto como 2015, como o pecuarista depende de valores externos, não dá pra correr riscos".


GESO E SANIDADE. Fundamental para a comercialização no mercado futuro, mensurar os custos da propriedade também se mostra como instrumento fundamental para elevação da eficiência produtiva. O pesquisador da Estação Experimental Hildegard Georgina Von Pritzelwitz e administrador da Fazenda Figueira (Londrina/ PR), da Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq/USP), José Renato Gonçalves, reforça o caráter dinâmico da atividade e a necessidade de uma gestão de qualidade: "É inadmissível esperar o surgimento de alguma solução milagrosa, como um novo capim, uma nova ração ou um sistema de IATF. A chave é trabalho. E o primeiro passo é mensurar. Ir além do custo, ou seja, projetar o quanto a propriedade terá de desempenho ao fazer uso de determinada tecnologia. No atual momento, no qual o produtor é bombardeado por possíveis tecnologias, a única ferramenta para selecionar os incrementos em determinado sistema de produção é a avaliação do ponto de vista do custo benefício".


Sendo ainda uma atividade historicamente extrativa, a produção a pasto nacional precisa rever seus conceitos, acredita o pesquisador: "O boi retira os nutrientes da planta, que por sua vez retira do solo. Como não existe produção sem aporte de insumos, para manter o sistema em equilíbrio, é preciso, no mínimo, repor tais nutrientes". Desta maneira, possuir dados e estatísticas na palma da mão é elementar. "O pecuarista precisa olhar o boi como uma ferramenta de colher o pasto, e produzir esta pastagem com qualidade, pois somente assim o animal desempenhará seu potencial em plenitude. Assim, para manter este sistema produtivo sustentável por longos períodos, a realização de análise de solo e monitoramento da fertilidade é indispensável".


E, não importa qual o sistema produtivo adotado na propriedade, recria ou confinamento, conciliar a produção animal com boas práticas de manejo, segurança alimentar e gestão ambiental é premissa para uma rentabilidade positiva, afirma o professor do Campus de Araçatuba (SP) da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquista Filho" (Unesp), Iveraldo Dutra. Segundo o especialista, o pecuarista não deve temer qualquer tipo de doença, mas sim possuir um sistema de detecção e controle. "É isto que falta no País", lamenta Dutra. "É fundamental que a cadeia como um todo discuta quais as medidas mínimas que deveriam ser adotadas dentro das fazendas, como notificação e diagnósticos das enfermidades. É preciso criar esta cultura de conhecimento e controle dos riscos, visando mitigar os impactos negativos na atividade. Isto, com certeza, geraria uma enorme segurança a todos, principalmente se tratando de exportação".


O professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL, Londrina/PR), Amauri Alfieri, corrobora o pensamento de Dutra apresentando estimativas relacionadas ao custo benefício de um protocolo de vacinação em um confinamento: "Se comparada às perdas acumuladas, um manejo sanitário correto não representa nem 3% deste montante".  Isso porque, além do custo do tratamento, é preciso arcar com a mão de obra e também com os índices reduzidos de conversão alimentar e ganho de peso do animal, justifica o professor.


Alfieri pontua como o principal problema relacionado à sanidade o manejo mal executado. Ao adquirir animais de diversas localidades, embarcar em um caminhão e então vacinar, o produtor acaba por não respeitar a biologia do animal nesta janela epidemiológica dos primeiros quinze dias do confinamento. "É sabido que o pico de ocorrência das doenças é nestes primeiros dias, então, não há tempo hábil para o medicamento surtir efeito". Segundo Alfieri, as vacinas inativadas necessitam da primeira dose, chamada sensibilizante, quando o antígeno é apresentado ao organismo, e também de uma segunda dose, 21 dias após a primeira. "Desta forma se dá o booster, o pico de imunidade. É uma questão biológica que deve ser seguida".


PARCERIA. No âmbito da pecuária de corte, várias são as escolas e as teorias, e todas verdadeiras, pontua Alcides Torres. "É uma questão de estratégia", sinaliza o engenheiro agrônomo. "Devido à questão de custos e bem-estar animal, existem pessoas com ojeriza ao confinamento. Acredito que, se possível terminar um boi em dois anos e meio sem confinar, melhor. Porém, existe uma demanda de frigoríficos, que é atendida pelos confinadores", completa.


Desta forma, a mensagem deixada pelo Encontro de Recriadores e de Confinamento da Scot Consultoria, nas palavras do professor de zootecnia da Universidade de São Paulo (USP, São Paulo/SP), Moacyr Corsi, é que o confinamento não deve ser utilizado como um artifício para mascarar a ineficiência da cria ou recria, a qual deve ser encarada como objetivo final da propriedade. "Com o confinamento como ferramenta de manejo da propriedade, propiciando ajustes na taxa de lotação, a atividade fim passa a ser a recria, pois esta proporciona ganhos capazes de absorver ágios na compra do bezerro e garante taxas de lotação rentáveis e compatíveis com outras alternativas de uso do solo", conclui.


Veja a matéria da Revista Feed&Food: https://www.scotconsultoria.com.br/down/encontros-de-recriadores-e-de-confinamento-feedfood.pdf


Fonte: Revista Feed&Food - edição 97 (maio de 2015), por João Paulo Monteiro. Leia a matéria pela edição online da revista - http://www.revistafeedfood.com.br/pub/curuca/



<< Notícia Anterior Próxima Notícia >>

Buscar

Newsletter diária

Receba nossos relatórios diários e gratuitos


Loja