• Quarta-feira, 24 de abril de 2024
  • Receba nossos relatórios diários e gratuitos
Scot Consultoria

Os consultores pensam 2015


Segunda-feira, 2 de março de 2015 - 16h23

Encontro em São Paulo aposta no sucesso das carnes apesar do prometido ajuste fiscal anunciado pela equipe econômica da presidente reeleita.


O agronegócio do Brasil chega ao novo ano vigoroso e cético como nunca. Segura a peteca da balança comercial, garante preços baixos dos alimentos no mercado interno, profissionaliza-se a passos largos, aumenta a eficiência e projeta novos investimentos. E mais. Tem sugestões concretas para ajudar o governo federal a desatar o nó em que meteu a economia do país. Mas não consegue responder com segurança uma pergunta que paira soberana sobre uma nação inteira: que Levy vai comandar nossa retomada de crescimento? O liberal de carteirinha que sabe que dois e dois somados resulta em quatro ou um novo seguidor da "contabilidade criativa", que vai estender ao longo de mais quatro anos uma agonia de programas sociais abastados e economia paralisada?


O futuro é promissor, mas 2015 deve mesmo ser marcado por controle de gastos públicos da União, dos Estados e Municípios, além de baixo crescimento. Mas não deve provocar queda no preço da carne bovina brasileira. O preço pago pelo bezerro e boi gordo vai continuar firme. E o Brasil deve seguir produzindo carne de maior qualidade, porém sem significar, necessariamente, copiar padrão de outros países. Todas estas questões dominaram mais de cinco horas de debates e análise que emergiram do Encontro de Analistas, realizado no fim de novembro, em São Paulo, numa promoção da Scot Consultoria. Criadores, pesquisadores, economistas e profissionais que trabalham na gestão de fazendas e propriedades que atuam com a pecuária de corte atuaram em três painéis. Economia e Agronegócio tratou de Macroeconomia e os reflexos na Pecuária Brasileira.


Crises envolvendo a Rússia, os Estados Unidos e a União Europeia. Estagflação, política cambial, o papel da China, demanda mundial e projeções de preços das commodities. Mercados externo e interno, oferta de grãos e carnes no planeta.


O painel do Mercado do Boi Gordo abordou preços, consumo, oferta, perspectivas, bezerro, margem da cria, custos, os impactos trabalhista, ambiental e fiscal. A seleção de produtores de grande porte, concentração no setor de insumos, proibição das avermectinas, rentabilidade, novos entraves na exportação de bovinos vivos, participação das fêmeas no abate, intenção de confinamento. Por último, profissionais do varejo, da Academia e de produção discutiram a Qualidade da Carne. Crise econômica, carnes especiais, marca de carne, boutiques de carnes, programas de bonificação e exemplos de sucesso. Gente, antes de tudo, que entende e estuda especialidade onde atuam. Juntos, refletiram sobre o ano que começa. Foi assim:


PAINEL ECONOMIA E AGRONEGÓCIO


Décio Zylbersztanjn | PENSA USP


"Mesmo com uma política econômica forte, de controle de gastos e respeito às metas de inflação, pode ter efeitos diferenciados sobre os vários setores. E, em casos assim, o que predomina é a capacidade tecnológica de cada segmento. Portanto, somente uma pecuária competitiva vai sobreviver se o ajuste necessário e prometido pelo novo Ministro da fazenda for mesmo severo".


"Apesar dos problemas, vimos surgir novas lideranças, interessantes, no Agronegócio e isto é excelente. Até pelo aparelhamento imposto em algumas entidades, como a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA)".


"O país sofre ataques às instituições, mas as normas avançam e espero que prevaleçam. Assim como espero que a ação dos lobbyes no Parlamento impeçam a continuidade da política de apoio a setores específicos da Economia".


Alexandre Mendonça de Barros | MB Agro


"Nada está em ordem na economia brasileira. Exceto o emprego. Logicamente, não é só uma questão da presidente eleita negar tudo o que propôs um mês depois de ser eleita. Não é brincadeira ajustar. Se houver mesmo vontade para consertar o que está errado, não vai haver arrecadação suficiente para respeitar inflação e ter crescimento. Minha grande dúvida é se o equilíbrio vai ser mesmo resgatado. Para melhorar, pode até ser necessário recessão. Será que a conversa do novo governo é mesmo séria?".


"Infelizmente, as decisões técnicas atuais são demoradas demais e estão nas mãos de pessoas sem qualificação. O governo do PT personalizou negativamente as decisões. E o Ministério da Agricultura nunca foi tão fraco politicamente como agora".


"A política das grandes campeãs não deu certo. O mercado é que está francamente favorável para a proteína animal. Mas internamente, vem ocorrendo algumas curiosidades. O pecuarista vem ganhando e muito bem. Quando há pique de preços, o consumidor não aumenta o consumo de frango. Prefere trocar de proteína, optando pelos cortes dianteiros do boi. Podemos ter chegado ao teto do consumo da carne de frango no Brasil".


"A previsão é de que os juros vão subir nos Estados Unidos e isto vai provocar a queda nos preços dos grãos, pois os fundos vão perder o interesse nestas commodities. Mas a queda vai se verificar em dólar, não em reais".


"O Agronegócio brasileiro é a prova de que é possível crescer com recursos naturais e tecnologia. Mas é necessário resolver o nó fiscal , pois o setor pode ser sugado assim como o dinheiro do petróleo já está indo direto para o caixa do governo federal".


Felipe Miranda | Empiricus Research


"Na verdade, ninguém sabe o que o Joaquim Levy vai fazer. Ninguém ainda entendeu o que ele está fazendo ao lado de quem venceu a eleição. Qual o tamanho do ajuste fiscal que ele anunciou pretender fazer. E quando o desemprego apertar, o que vai ser feito? O futuro é preocupante. A situação internacional ainda é nebulosa, vai haver crise política no Brasil no ano que vem, o Petrolão assusta e o país vai crescer pouco. 2015 é bastante preocupante!".


"Um país ideal é o que formata e incentiva a competição de mercado. E estabelece regras claras".


Giovana Araújo | Itau BBA


"Realmente, não sabemos sobre 2015. Que vêm problemas pela frente ninguém nunca duvidou. Mas se efetivamente o governo federal vai enfrentar os problemas da melhor maneira... A mensagem boa é que os melhores olhos estarão para as carnes e os grãos".


"Se você me perguntar, acho que inflação é pior do que baixo crescimento. Judia mais do consumidor. E não vamos nos esquecer de que o Brasil é diferente de países mais sofisticados do que os Estados Unidos. Aqui, quando o bolso aperta, a pessoa troca de proteína, come mais frango, larga a carne bovina".


"Acredito que a carne brasileira vai passar por uma prova de consolidação. Modernizar e fazer. Ter mais qualidade. E ganhar ainda mais mercados no exterior. E deixar de ser fornecedor spot".


"O país deve deixar os preços livres. Não acho que vamos virar uma Argentina, mas há preocupação. A remuneração das commodities pode sofrer, mas permaneço na crença de que as proteínas animais são excessão".


Gustavo Diniz Junqueira | Sociedade Rural Brasileira


"O agronegócio brasileiro vive mudanças complexas nos últimos dez anos. E o consumo de carnes e grãos aumentou drasticamente. Penso que o grande desafio agora é operar esta máquina com menos recursos já que é urgente ajustar os princípios da nossa macroeconomia".


"Hoje, temos margens muito apertadas na indústria de carnes. O mercado externo segue bem, mas internamente os preços do boi não estão se sustentando. Temos que deixar de ser pecuaristas e agirmos como produtor de carnes. Adaptarmos nossas operações, esquecer de cabeças e pensar em fluxo de caixa".


"Temos que aproveitar e abusar do caráter parlamentarista da Constituição brasileira de 1988. O papel de propor e formular políticas cabe a Câmara Federal. É por isto que atuamos fortalecendo a ação dos nossos grupos, agindo de maneira coesa, apresentando propostas, participando das comissões, agindo global e pontualmente. Precisamos aproveitar o espaço que é dado para tentar implementar o que achamos melhor para o país".


"É necessário ter foco e representatividade. Pensar na sociedade que desejamos para daqui dez, vinte, trinta anos. Para onde vamos. E não dá para esperar. Temos que participar, atuar ativamente dentro dos canais democráticos de representação".


Sérgio de Zen | CEPEA - USP


"Acredito que todos devem saber o que deve ser feito para consertar a economia brasileira, mas ninguém sabe exatamente como. Todos ainda têm dúvidas sobre o ano que vem. Na Pecuária, ainda nem dimensionamos os efeitos da seca sobre a produtividade. Mas acredito que o setor hoje é melhor preparado para enfrentar as adversidades".


"Saber se o campo ou a indústria está ficando com o lucro da pecuária de corte? Ok, houve concentração dos frigoríficos nos últimos anos, é inegável. Em São Paulo, em 1994, havia 76 matadouros e 76 donos. Hoje, são 16 frigoríficos e menos de 14 empresários do setor. Mas a indústria do boi é diferente, difícil, peculiar. O setor industrial, normalmente, recebe inúmeros insumos e produz um só. Um frigorífico recebe um boi e poderia obter 400 sub-produtos".


"É um negócio difícil industrializar o boi. Quem vende sofre problemas. Não sei se a política federal de empresas grandes campeãs mundiais deu certo. Sei que a elasticidade da venda do boi de pasto complica a cadeia. A indústria não pode esperar para pendurar o boi, como dizem".


"Em relação ao comércio Internacional no futuro, temos que tomar cuidado. É que agora nós somos os imperialistas. Logo, a JBS, por exemplo, vai exportar qual carne deles? A brasileira, a americana ou a australiana?".


"Projetos de proteína animal exigem médios e longos prazos. E o futuro é atrativo. Mas o remédio para a doença de nossa economia deve ser ministrado logo. Assim, em pouco tempo, recuperaremos a saúde e o vigor. Ainda bem que temos novas lideranças, boas pessoas. É positivo".


PAINEL MERCADO DO BOI GORDO


Alcides "Scot" Torres | Scot Consultoria


"A pecuária precisa de conhecimento e profissionalização. Informação é vital".


"O ciclo pecuário ainda existe, mas a volatilidade diminuiu bastante. Os números mudaram. Hoje, fazer um quilômetro de cerca eletrificada custa dez mil reais".


Sérgio de Zen | CEPEA - USP


"Vender proteína animal é o melhor negócio. Bem mais do que soja, milho, etc.".


"A cria é uma fase complicada. Exige mão de obra, gestão e treinamento. Nutrição, genética e manejo. É um reloginho. E quanto mais cria, menos eficiência".


"Ainda existe uma memória inflacionária na cabeça do pecuarista brasileiro".


"Podemos ter perdas com bezerros em 2015. Ainda não se sabe o cenário completo das perdas causadas pela seca".


"Temos que vender a imagem do Brasil. Carne de boi é cara. Mas todos querem. E nosso principal capital é a capacidade empreendedora".


"Nossos deveres são diminuir o custo, criarmos grupos de discussão, abrir horizontes e acabar com os mitos. O engraçado é que alegamos não ter dinheiro para planejar, mas tem dinheiro para refazer tudo o que deu errado".


Fábio Dias | Agropecuária Santa Bárbara


"Ainda não conseguimos definir qual o melhor modelo para a pecuária brasileira. Carne barata ou steak?".


André Bartocci | Pecuarista, ACNB e Novilho Precoce (MS)


"Precisamos contar melhor nossa história à sociedade brasileira, ao mercado, ao exterior. E ser mais eficiente da porteira para dentro".


Rodrigo Albulquerque | Fazenda Buritis e Marca


"A nossa tarefa é entender melhor a venda do animal. Mudarmos de modelo produtivo para modelo financeiro".


PAINEL QUALIDADE DA CARNE


Roberto Barcellos | Beef & Veal


"Estamos ainda engatinhando no tema qualidade. O que é qualidade? Qual o nosso cliente? Americanos gostam de carcaça com até 28% de gordura. O brasileiro quer qualidade e não só gordura".


"Nossos programas de qualidade de carne têm qualidades, mas não padrão".


"O brasileiro está vivendo o ritual de experimentar. Como já fez com o vinho alemão da garrafa azul, na década de noventa. Não era bom o vinho, mas ensinou o brasileiro a beber cada vez melhor".


"O consumidor está aberto a novidades. Devemos oferecer produtos de acordo com a preferência dele".


"O boi pode ser de pasto, misto, suplementado, o que for. Mas faltam protocolos. Sem falar no mau uso de elementos na nutrição do confinamento. Precisa atenção maior com as dietas".


"Carne de programa é mais cara. Aliás, está tudo muito caro. Estamos abusando do consumidor. Há muita carne de qualidade com animais comuns".


"Nosso desafio é transformar biologia em matemática. Boi e vaca dão crias muito distintas".


"É impossível falar em carne de qualidade com animal inteiro. E fêmeas não dá porque tem eficiência menor. Menos de 1% faz carne de qualidade".


"Vejo bom futuro nas boutiques. Elas apresentam diferencial sobre os supermercados".


"Entre uma boa carne brasileira e outra importada, comprem a nacional e ajudem a produção de nosso país".


Marcelo Shimbo | Prime Cater


"Invariavelmente, para o consumidor brasileiro, qualidade de carne significa carne macia".


"Temos perdas até com marca de vacinas. Já perdi 3% num lote de picanhas. É impossível recuperar".


"Os protocolos de produtos são diferentes. Estamos muito no início. Ainda fazemos produto e não marca. Marca cria relação emocional com o consumidor. O sujeito não compra uma moto. Compra uma Harley-Davidson, compra um estilo de vida".


"Há um receio de que a economia possa afugentar clientes em 2015. Mas aumentar preço de pratos costuma ser a última estratégia. Antes, podemos diminuir a porção, trabalhar com novos cortes, etc.".


Lucas Ferriani | Minerva Foods


"Excesso de gordura é um problema também para o frigorífico. Quando muito, protege a refrigeração por mais tempo. Mas a limpeza é árdua".


Sérgio Pflanzer | UNICAMP


"Duas etapas fundamentais onde podemos avançar para termos carne melhor é no manejo pré-abate e no resfriamento pós-abate".


"Não é só questão só de gordura. Qualidade é bem mais amplo".


Eduardo Fornari | Vermelho Grill


"Já providenciamos alterações na dieta dos animais por causa de reclamação de clientes. Como o caroço de algodão. E procuramos municia-los de informação. Nossos pratos levam cartões individuais, com dados sobre o animal e a propriedade onde aquela carne foi produzida".


"A carne certamente é o maior custo que temos dentro da churrascaria. Usamos aproximadamente 25% da carcaça dos animais, mas tenho um parceiro para desossa, uma cozinha industrial. E já uso dois cortes de dianteiro. Temos que investir em novos cortes para combater a alta de preços".


"Gosto das boutiques. O comportamento do consumo muda sem parar. A carne por quilo vem acabando, os bifes são vendidos separados, empanados, etc.".


"Dá para ganhar dinheiro porque temos bons fornecedores, tecnologia, logística".


Gustavo Faria | McDONALDS


"Há consumidor para tudo. Gente que come carne prime e os que não largam do sanduíche. Tanto que o negócio hambúrguer está explodindo, com a abertura sem parar de casas".


"Sofremos bastante com perdas. O Bem Estar Animal é arma eficaz para combatermos este problema".


"O brasileiro faz boa carne. Temos que trabalhar o marketing do bom produto que temos". 


Promessas do triunvirato da Dilma


* Crescimento de 1,5% no PIB


* Respeito ao teto da inflação em 6,45%


Caminhos apontados


* O boitel vai prevalecer e mais recria com confinador.


* Cenários de preços ainda bons em 2015, mas sem os picos de 2014.


* Arroba deve se valorizar um pouco mais no ano que vem, a oferta é boa.


* O perigo é a nuvem da economia


* Confinamento vai ter boi para quem investe em recria e terminação 


Fonte: revista BeefWorld - edição 13, dezembro de 2014. Por Ulisses Riba.  



<< Notícia Anterior Próxima Notícia >>

Buscar

Newsletter diária

Receba nossos relatórios diários e gratuitos


Loja