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Scot Consultoria

Informativa ABAG entrevista Sebastião Costa Guedes


Quinta-feira, 5 de março de 2009 - 16h40

Em entrevista ao Informativo Abag, o presidente do Conselho Nacional da Pecuária de Corte (CNPC), Sebastião da Costa Guedes, fala sobre as exigências internacionais com a segurança alimentar, sobre emissões de gases de efeito estufa e das vantagens produtivas do Brasil em relação aos paises europeus. ABAG - No início de 2005 vivemos uma situação difícil com o embargo da União Européia às exportações de carne bovina in natura do Brasil. Hoje estamos com 200 fazendas habilitadas. O que tiramos de positivo desta virada de jogo? Sebastião da Costa Guedes - O mundo globalizado e a segurança alimentar exigem que se cumpra o prometido. Nos países desenvolvidos as exigências serão cada vez maiores e fornecedores decidem se as acatam ou não. Uma vez acertado, o acordo tem que ser cumprido! A época do “só para inglês ver” está superada. O governo adotou uma postura realista e começa a destravar gradativamente o processo seguindo o atualmente acordado. Talvez no futuro possamos negociar uma rastreabilidade mais flexível, pois não temos a vaca louca, da qual os nossos adversários do Reino Unido e da República da Irlanda ocupam o 1º e o 3º lugares no pódio mundial da incidência acumulada. Em resumo, acordos assinados devem ser cumpridos, pois o comércio internacional é assunto sério. ABAG - Este ano a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) reconheceu como área livre de aftosa 16 estados brasileiros e o DF e, em maio, o MS. Essa decisão pode sofrer reviravoltas ou evoluímos? Guedes - O Brasil melhorou muito os investimentos em defesa sanitária, embora ainda não estejamos no nível ideal. O resultado foi positivo. Espero que não haja reviravoltas e que as novas auditorias transcorram sem problemas. As atuais discussões com a UE para remover restrições geográficas parciais de alguns estados, como MT e MG mostram que as avaliações da OIE começam a dar reflexos em outras áreas. A volta das discussões para exportar carne in natura aos EUA é outro bom sinal. O dia que Brasil e EUA estiverem mais ligados no tema, o mercado mundial da carne pode ficar mais atraente para todos os paises produtores e exportadores. A postura dos representantes do MAPA junto à OIE mostra um Brasil amadurecido, responsável e que sabe discutir tecnicamente seus dados e avaliações. A aftosa continua sendo ainda uma barreira para muitos mercados interessantes. O Pará recebeu visita do diretor geral da OIE, Dr.Bernard Vallat, que ficou impressionado com o potencial e a motivação de suas lideranças e autoridades para erradicar totalmente a doença. No NE estamos em franco progresso principalmente no MA, PE e RN. O Piauí também investiu recentemente na redução de seu risco. Todos estes indicadores são positivos, mas vigilância é essencial e deve ser constante. ABAG - Em um País com áreas fronteiriças imensas e a cada dia notícias sobre novas ocorrências de aftosa em países como Bolívia, Colômbia, Equador, Paraguai e Venezuela, nos defrontamos com uma estratégia global ou nacional? Guedes - O Brasil atua nacional e continentalmente para erradicar a doença. Acho essencial prosseguir investindo nas áreas fronteiriças com o Paraguai e mais do que nunca com a Bolívia, cuja situação de defesa sanitária parece estar retrocedendo. Na Amazônia temos mostrado boas medidas tanto na calha do rio Amazonas como na fronteira com a Venezuela. Nesta o Giefa pode ajudar muito, disponibilizando consultoria técnica. Brasil e Colômbia, conforme contatos recentes entre autoridades governamentais, Panaftosa e lideranças da Fedegan, CNPC e CNA estão concentrando esforços para apoiar Bolívia, Equador e Venezuela no projeto de erradicação da aftosa. No recente Congresso Mundial da Carne houveram boas discussões colombiano-brasileiras sobre o tema. Na próxima visita de zoo-pecuaristas colombianos ao Brasil, no início de outubro deste ano, a cooperação internacional é para apoiar os citados países críticos (Bolívia, Equador e Venezuela) na meta de erradicar a aftosa até 2010. ABAG - Como podemos incluir o Brasil, que detém 200 milhões de cabeças de bovinos, correspondente a 15% do rebanho nacional, no balanço mundial da emissão de gases de efeito estufa, se temos uma pecuária extensiva e não intensiva? Trabalhos realizados por europeus só levam em conta a emissão e não retenção dos gases nos pastos. O que é preciso ser feito para nossa imagem e credibilidade melhorar cada vez mais e conquistarmos mais mercados? Guedes - Se observarmos os dados oriundos de pesquisadores da Embrapa e da Scot Consultoria entre outros, vamos ver que mesmo a pecuária extensiva brasileira tem um saldo positivo no balanço de C02, ai incluído o metano. Pelos dados disponíveis temos em média uma lotação de pastagens da ordem de 0,88 cabeças/hectare. Assim temos uma emissão da ordem de 1.226,72 kg de CO2 hectare/ano. Considerando que 23% de nossas pastagens estejam degradadas e 77% com bom manejo, teremos uma fixação de CO2 de 1.772,72 kg de C02/hectare/ano, o que redunda em um balanço positivo para a pecuária brasileira de 546 kg de C02/hectare/ano. Deste modo o livro “Livestock ,The Long Shadow” deveria considerar não apenas as emissões, mas também a fixação pelas pastagens e o balanço final, que no nosso caso já é favorável. A própria Agroanalysis em setembro do ano passado publicou excelente análise feita por Palma Nogueira,Torres e Tito Rosa, técnicos da Scot sobre o tema. Estudos recentes mostram que a evolução tecnológica com aumento da pecuária mais intensiva permitirá resultados ainda mais favoráveis. O Brasil tem recursos e tecnologia para aprofundar pesquisas e análises sobre este importante aspecto da sustentabilidade, que os países desenvolvidos responsáveis por 75% das emissões de gases causadores do efeito estufa tentam com seus lobbies transformar em mais uma barreira à nossa pecuária em constante evolução. Agora estão cada vez mais críticos em lançar a culpa aos arrotos e flatulência dos bovinos ao invés de se dedicarem em reduzir suas próprias emissões industriais ou da alta velocidade de seus modernos e velozes automóveis. ABAG - A pecuária brasileira ainda tem espaço para crescer em tecnologia (melhores pastagens, aumento na taxa de desfrute, uso de confinamento e semi-confinamento, etc...), com base nas melhores práticas e ações de mitigações contra o efeito estufa? Guedes - Sim, nossa pecuária tem ainda enorme potencial evolutivo. Estudos criteriosos mostram que podemos aumentar nossa produção de carne bovina em até mais 4 milhões de toneladas anuais sem grandes esforços e sem derrubar uma árvore sequer da nossa floresta tropical amazônica, que é essencial para o mundo respirar, principalmente quando o Greenpeace revela que a exigente Europa Ocidental tem hoje menos de 0,3% de suas florestas originais e todavia ainda comprava recentemente 800 mil toneladas de madeiras nobres, pagando US$570 milhões/ano em operações sem certificação de origem, o que equivale a afirmar que seriam oriundas de desmatamentos que afrontam nossa legislação ambiental. Fonte: ABAG. 17 de outubro de 2008.
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