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Scot Consultoria

Frigoríficos vivem tempos de crise com escassez de bois


Sexta-feira, 1 de agosto de 2008 - 11h52

A queda nas margens da JBS-Friboi de 12,2% para 4,9% entre o primeiro e segundo trimestre no Brasil pode ser o prenúncio da piora da crise que as indústrias vivem desde o final de 2007, quando a escassez de animais ficou mais evidente e os preços do boi mais elevados. Estimativas da Scot Consultoria são de ociosidade de 50%. O resultado é fechamento de fábricas, demissões e “leilão” pelo gado. No Rio Grande do Sul, no semestre, 25% das vagas foram fechadas. De acordo com o diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Carnes daquele estado (Sicadergs), Zilmar Moussalle, muitos frigoríficos fecharam as portas e estão abatendo em outros estabelecimentos para reduzir os custos. Uma fonte do setor diz que há um verdadeiro leilão por animal. “A disputa pelo boi é grande e há uma carnificina entre as indústrias”. Os sindicatos e associações do setor não têm estimativas nacionais de unidades fechadas e demissões. ”A indústria frigorífica vive uma crise sem precedente com a falta de matéria-prima”, disse Moussalle. Segundo ele, a ociosidade no estado é de 65% e o consumo está represado, por causa do repasse. Na sua avaliação, diante deste quadro terá de haver queda no preço do boi. O presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Pessoa, confirma que as indústrias estão com margens apertadas e com dificuldade de formar escala em prazo mais longo. “O preço do boi está incompatível com as exportações por causa do câmbio e no mercado interno, o consumidor não absorve os impactos da elevação dos preços”, diz. ”Se a situação ficar difícil, em 2009 vamos ter oportunidades de compras”, disse o presidente da JBS, Joesley Batista, referindo-se ao fato de acreditar em quebra de indústrias. Na sua avaliação, todo o setor deve ter redução de margem, com maior dificuldade no próximo trimestre. Batista diz que entre 4% e 5% de margem é razoável. Abaixo disto é ruim (ver matéria abaixo com os resultado do grupo). Luciana Leocádio, chefe de análise da Ativa Corretora, diz que o mercado aguarda a divulgação dos próximos resultados para confirmar a tendência de queda nas margens. “O JBS, como player mais representativo, tem uma opinião a ser considerada”, acrescenta. Para Miguel Cavalcantil, sócio-diretor da Agripoint, a expectativa é de manutenção ou piora das margens, em virtude dos preços e do câmbio. Na sua avaliação, haverá, no segundo semestre, “um embate” entre oferta e demanda, com abates ainda menores que os do primeiro, quando a queda foi de 20% em relação a 2007. Ele lembra que o setor produtivo está passando por um momento de ajuste de oferta, uma vez que o preço alto do bezerro atual desestimula a venda rápida do boi gordo para abate e estimula a retenção de fêmeas para recomposição do rebanho. Mas isto traz redução da oferta também. ”Fica muito claro que à medida que o preço da matéria-prima vai subindo, os frigoríficos têm uma situação complicada porque são obrigados a conviver com capacidade ociosa por falta de gado e de mercado”, diz José Vicente Ferraz, diretor da AgraFNP. Isto porque, segundo ele, os frigoríficos não estão conseguindo repassar o aumento nos custos ao consumidor, tanto interno quanto externo. Ferraz diz que a tendência é de piora no terceiro trimestre uma vez que, apesar da entrada de animais confinados, não haverá volume suficiente de boi a pasto. Levantamento da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon) mostra que em relação à intenção de confinamento das pesquisas realizadas no primeiro semestre houve redução no volume de 12%, para 578.451 cabeças. Mas na comparação com o ano passado, há um acréscimo de 6,7%. Fabiano Tito Rosa, analista da Scot Consultoria, também não acredita em reversão do quadro atual de crise das indústrias porque “o investimento que o campo vem fazendo demora um certo tempo para surtir efeito”. Além disso, segundo ele, como os custos da produção subiram, o ritmo do investimento dos pecuaristas diminuiu. A grande pressão nas margens dos frigoríficos vem do preço do boi gordo que, em dólar, é o mais caro do mundo, perdendo apenas para o europeu. Segundo a Scot Consultoria, ontem a arroba valia, em São Paulo, US$57,55; para US$54,00 a no Uruguai e US$36,45 na Austrália. “Ou o frigorífico repassa para a carne ou perde margem. E isso diminui a competitividade”, afirma. O presidente da JBS confirmou que a unidade americana voltou a exportar para a Rússia porque o preço do Brasil ficou caro demais. Mas Rosa acredita que os outros países também passarão por um ajuste, pois há diminuição na produção americana, dificuldade de expansão no Uruguai e na Austrália. “Se o consumo mundial continuar crescendo, a produção não vai acompanhar o ritmo e os países vão ter de aumentar a carne no médio prazo”, acredita o analista. Fonte: Gazeta Mercantil. Agronegócio. Por Neila Baldi. 01 de agosto de 2008.
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