Médico veterinário pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e mestre em Ciência Animal pela UFES.
Foto por: Bela Magrela
Scot Consultoria: Quais são os principais problemas relatados pelas fazendas quando utilizam currais mal estruturados? Como isso impacta o manejo diário do gado e nas perdas econômicas?
Eduardo Vargas: No meio pecuário, existem fazendas de vários sistemas de criação, tanto para gado de corte como de leite e ainda de outras espécies, como búfalos. Na sua grande maioria, as queixas são de currais mal estruturados, tanto no desenho do curral, onde não auxilia o manejo, pois trabalham contra o gado dificultando e atrasando os manejos, causando estresse tanto no gado quanto nos vaqueiros, aumentando os riscos de acidentes com ambos. Somado a isso, há também os currais feitos de vários materiais e, o que era solução no passado, já é uma preocupação: a madeira, pois as madeiras que seriam um pouco mais duráveis (“madeiras de Lei”), têm-se a questão do impacto ambiental e a legalidade dessa madeira, fora a mão de obra qualificada para fazer uma estrutura com esse tipo de produto e as manutenções que levam em consideração. Os impactos são diretamente na segurança dos vaqueiros e dos animais e, somado a isso, a eficiência no manejo. Se não tem uma planta de curral que promova segurança para todos e que o trabalho seja a favor dos animais, permitindo maior eficiência, maior é o risco de acidentes. Se não for bem planejado dentro das necessidades do trabalho na fazenda, torna-se mais difícil todo o processo de manejo, causando grandes prejuízos para o gado, para os trabalhadores e consequentemente para o “bolso”. Por isso, antes de implementar um curral na fazenda, deve-se ter clareza da atividade desenvolvida para escolher o melhor projeto.
Scot Consultoria: Como os diferentes tipos de currais, como o curral convencional e o curral anti-stress, impactam o bem-estar dos animais durante o manejo diário?
Eduardo Vargas: Existem várias formas de conduzir o gado nos currais, e os modelos de currais vêm sendo desenvolvidos para melhorar esses manejos. Os currais convencionais possuem seringas (embutes) em V e troncos coletivos retos, mas podem ter seus curraletes arredondados para não formar cantos. Já os currais anti-stress, que possuem seringa e tronco coletivo em curvas, favorecem o comportamento animal e evitam acidentes nesses locais. Tem se difundindo os currais Bud Box, que tem uma forma diferente de seringa, pois utiliza uma espécie de caixa (BOX) para levar os animais até o tronco coletivo.
Esses diferentes tipos de currais tem o mesmo objetivo: que é passar com o gado por ele para fazer os manejos necessários, seja vacinação ou simples conferência. Quando se tem o curral planejado, consegue-se ter um trabalho mais tranquilo e ágil, causando impactos mais positivos, como maiores índices reprodutivos, respostas imunológicas a protocolos vacinais mais acentuadas e o índice de lesões no gado serem reduzido ao extremo.
Entretanto, de nada adianta ter um curral com uma estrutura excelente e bem planejado, se a equipe que está trabalhando nele não tem a consciência de fazer um manejo correto. Para ter de bem-estar animal nos manejos diários nos currais, é necessário ter uma boa estrutura, mas também uma equipe consciente e bem treinada para promover o bem-estar dos animais durante o manejo.
Scot Consultoria: Existem tecnologias ou inovações recentes que foram incorporadas nos currais para melhorar a eficiência e a segurança no manejo bovino?
Eduardo Vargas: A lida com o gado era de forma mais bruta e não se observava como o gado agiria em certos ambientes. Na atualidade, já se percebeu que se deve ter um olhar mais voltado para como os animais se comportam em diferentes formas de manejo e entender como esse comportamento animal (etologia) está sendo uma das melhores formas de desenvolver tecnologias para a lida com esses animais. Depois que se percebeu como os animais se comportam, pensam, escutam e veem, começamos a desenvolver mecanismos nos currais e formas de trabalho que favoreceram todo o manejo, como porteiras com fechamento rápido, posicionamento dos curraletes, embarcadores eficientes, dentre outros. As formas de fabricação dos currais vêm evoluindo sempre, buscando maior agilidade e conforto na lida, promovendo maiores ganhos. As tecnologias são desde a forma de trabalho até o piso que se utiliza no curral.
Scot Consultoria: Em termos econômicos, quais são os principais benefícios de investir em um curral de alta qualidade para uma fazenda de gado de corte ou leite?
Eduardo Vargas: Uma estrutura de alta qualidade é fundamental para qualquer atividade, pois necessitamos de um ambiente em que temos confiança para trabalhar e termos resultados positivos. Na pecuária de corte e de leite não pode ser diferente: temos que ter uma estrutura com material de alta qualidade que não tenha necessidade de manutenções frequentes, possibilitando os investimentos em outras áreas. O maior benefício é obter o máximo da atividade sem intercorrências nos momentos de manejo e embarques.
Scot Consultoria: Como um curral de qualidade influencia diretamente a saúde e o comportamento dos bovinos, e quais são os sinais de que um curral está causando estresse ou lesões nos animais?
Eduardo Vargas: Quando se tem um curral com uma estrutura de ótima qualidade, bem planejado e alinhado com manejo voltado para a lida racional, o estresse do gado é baixo e conseguimos ter uma influência positiva na saúde do gado. Os níveis de cortisol são amenizados, permitindo ter respostas imunológicas satisfatórias nas vacinações, respostas mais positivas na reprodução e o desempenho animal acaba sendo superior do que em currais mal planejados e com manejos tradicionais.
Conseguimos perceber em sistemas sem planejamentos e/ou estruturas que se danificam com maior facilidade que os animais ficam mais agitados, mais reativos, tendo maior índice de tentativa de fuga, defecam e urinam mais que o normal e, na lida, percebemos maior dificuldade durante o manejo com esses animais.
Scot Consultoria: Quais são os principais fatores que determinam a qualidade de um curral?
Eduardo Vargas: Primeiramente, o material do qual é feito. Temos no mercado curral de concreto protendido e autoadensável, que sem dúvida é o que possui maior durabilidade e resistência aos impactos dos animais e não necessita de manutenções anuais ou periódicas, o que possibilita que recursos que seriam para manutenção de curral de madeira, por exemplo, seja investido em outras áreas da fazenda.
Outro fator é o modelo da planta do curral. É importante ter um especialista para que desenvolva um modelo adequado ao sistema da fazenda, pois isso impacta diretamente no manejo do gado e no trabalho da equipe. Se aliar material de qualidade e resistência, planta e manejo correto, teremos um curral para gerações; a longevidade é muito alta.
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