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Scot Consultoria

Ambiência e produção animal

Entrevista com a zootecnista, Sheila Tavares Nascimento

Terça-feira, 15 de junho de 2021 - 11h15
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Sheila Nascimento é graduada em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Unesp, Campus de Ilha Solteira. Concluiu o mestrado em Ciências (Física do Ambiente Agrícola) na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” - Esalq/USP e o doutorado em Zootecnia (Produção Animal) na Unesp, Campus de Jaboticabal, ambos em Bioclimatologia Animal. Também realizou um estágio “sanduíche” na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos.

Foto: Scot Consultoria


Sheila Nascimento é graduada em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Unesp, Campus de Ilha Solteira. Concluiu o mestrado em Ciências (Física do Ambiente Agrícola) na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” - Esalq/USP e o doutorado em Zootecnia (Produção Animal) na Unesp, Campus de Jaboticabal, ambos em Bioclimatologia Animal. Também realizou um estágio “sanduíche” na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos.

Atualmente, é docente no Departamento de Zootecnia (DZO) da Universidade Estadual de Maringá (UEM).

Scot Consultoria: Sheila, quais os principais desafios para a pecuária de corte e de leite em um país tropical, como o Brasil, relacionados à ambiência? Quais são as principais estratégias que poderiam condicionar uma ambiência mais adequada aos animais e que os produtores podem adotar em suas propriedades?

Sheila Nascimento: Os principais desafios relacionam-se ao nosso clima, predominantemente tropical. Em torno de 81% do território brasileiro é caracterizado pelo clima tropical, 5% pelo clima árido e 14% pelo subtropical úmido. Portanto, devido ao clima, os animais estão sujeitos à exposição a uma elevada carga de radiação ao longo de todo o ano, além de uma considerável amplitude térmica - desafios significativos quando relacionamos à ambiência.

Desta forma, devemos destacar que a oferta de recursos de sombreamento torna-se imperativa para bovinos, seja por recursos naturais, pela presença de árvores no pasto, ou recursos artificiais, pela presença de estruturas com telas – ou, mais recentemente, conciliando a instalação de painéis fotovoltaicos com a oferta de sombreamento, por exemplo.

A implementação de sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) pode ser uma excelente alternativa aos produtores, pois pode-se conciliar na mesma área a recuperação de pastagens degradadas à oferta de sombra aos animais, além da diminuição da emissão de gases do efeito estufa. Outra opção interessante é em relação ao uso de sistemas de resfriamento, principalmente em regiões ou épocas quentes e secas, cujos resultados de implementação mostram-se favoráveis a um melhor desempenho e bem-estar dos animais.

Scot Consultoria: Quais são os prejuízos que o estresse térmico pode causar?

Sheila Nascimento: Os prejuízos são diversos, impactando o bem-estar, suas respostas fisiológicas, como aumento da temperatura corporal, aumento da frequência respiratória, diminuição do consumo de alimentos, aumento da sudação, maior período em pé devido ao desconforto do contato com o solo aquecido, impactos sobre o tempo de ruminação, diminuição das taxas de concepção e fertilidade, aumento da mortalidade e, consequentemente, impactos sobre a produção de leite ou o ganho de peso, que relacionam-se diretamente aos prejuízos econômicos, representando alguns bilhões de dólares anuais.

Scot Consultoria: A seleção de vacas leiteiras, predominantemente negras, pode ser uma boa escolha para aumentar a resistência do gado Holandês às condições do ambiente tropical? Se sim, o produtor pode facilmente realizar a seleção?

Sheila Nascimento: O gado Holandês apresenta manchas pretas com alta pigmentação, somado ainda a um pelame menos denso, com pelos mais curtos e grossos, além de menor transmitância (que relaciona-se com a proporção da radiação que atinge os tecidos corporais profundos), sendo, portanto, mais eficiente em comparação a um pelame branco, principalmente quando consideramos a exposição dos animais à radiação solar direta. Portanto, a escolha de animais predominantemente pretos é uma excelente estratégia para a criação do gado Holandês em clima tropical, especialmente para sistemas de produção a campo, isso é, onde os animais são expostos à radiação solar.

A seleção desses animais pode ser facilmente realizada, considerando alguns estudos que demonstraram elevada herdabilidade para a proporção de malhas negras, selecionando-se animais com pelos menos densos, mais curtos e grossos, a fim de facilitar a dissipação de calor na superfície corporal.

Scot Consultoria: Poderia comentar sobre o uso de painéis fotovoltaicos para sombreamento na bovinocultura de corte? Quais vantagens, limitações e aplicabilidade?

Sheila Nascimento: Em primeiro lugar, devemos destacar que não há mais questionamentos em relação ao benefício do fornecimento de recursos de sombreamento para bovinos de corte, considerando a exposição contínua desses animais a uma elevada carga térmica radiante. Ao associarmos que o aumento populacional demandará maior produção de proteína de origem animal, que deve estar aliada ao bem-estar dos animais e à diminuição da emissão de gases do efeito estufa, a utilização dos painéis fotovoltaicos torna-se uma alternativa para os sistemas de produção de bovinos de corte.

As principais vantagens relacionam-se que ao mesmo tempo em que a sombra é ofertada aos animais, há a geração de energia, de uma fonte limpa, durável e sustentável, uma vez que reduz a emissão de carbono na atmosfera, portanto, com excelente aplicabilidade aos sistemas de produção.  

As limitações são relacionadas ao custo de aquisição e a falta de incentivos no Brasil para a sua implementação.

Scot Consultoria: Na sua opinião, quais foram os maiores avanços relacionados à ambiência dentro da pecuária nos últimos anos?

Sheila Nascimento: Os maiores avanços podem ser relacionados ao desenvolvimento de sistemas de resfriamento, associando nebulização ou aspersão com o uso de sistemas de ventilação e placas de resfriamento evaporativo; desenvolvimento de sistemas de monitoramento em tempo real de variáveis meteorológicos nos galpões/granjas, com isso, gerando grandes bancos de dados que a partir da sua manipulação torna possível o aprimoramento das condições de criação dos animais; desenvolvimento de sensores que permitem a mensuração de variáveis fisiológicas e comportamentais dos animais em tempo real e de forma não invasiva; adoção de tecnologias relacionadas à Zootecnia de Precisão, como uso de termografia de infravermelho, vocalização, análise de imagens, análise de banco de dados, uso de drones e GPS, entre outras; desenvolvimento de softwares para o monitoramento dos sistemas de produção à distância com o uso da internet.

Scot Consultoria: Na avicultura e suinocultura brasileira tivemos grandes melhoras em aspectos de ambiência nos últimos anos, com a climatização de galpões e adaptações dos sistemas de produção à temperatura termoneutra dos animais de produção. Podemos considerar que a tecnificação de ambiência nos sistemas de produção desses animais se equipara à produção internacional?

Sheila Nascimento: Os avanços observados na ambiência nos últimos anos direcionaram o Brasil a se tornar um dos principais produtores e exportadores na avicultura e suinocultura. Porém, para que esses números se mantenham nos próximos anos, deverá ser feito: uma adaptação dos sistemas de criação ditos convencionais na adoção de sistemas de resfriamento e ventilação, para um controle mais eficiente do ambiente; e também, um investimento em adoção de tecnologias que façam o monitoramento em tempo real de parâmetros meteorológicos, comportamentais e fisiológicos dos animais para termos bancos de dados que auxiliem as adaptações necessárias para a manutenção de condições ideais de produção dos animais.

Vale destacar que, somada a isso, é fundamental a presença de profissionais técnicos nas empresas que sejam especializados na área de ambiência, aliada ao desenvolvimento de pesquisas a partir de parcerias entre universidades e instituições privadas, para a indicação de melhorias dos sistemas de produção, considerando as particularidades de cada região do Brasil.


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