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Scot Consultoria

Como ganhar dinheiro com a pecuária de leite?

Entrevista com o zootecnista, Marcos Marcondes

Terça-feira, 12 de janeiro de 2021 - 15h00
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Marcos é zootecnista formado pela Universidade Federal de Viçosa, com mestrado e o doutorado pela mesma universidade e possui pós-doutorado pela University of Florida. Foi professor da Univerisade Federal de Viçosa e atualmente é professor de nutrição de bovino de leite na Washington State University.

Foto: Scot Consultoria


Nosso bate-papo dessa semana é com prof. Dr. Marcos Marcondes.

Marcos é zootecnista formado pela Universidade Federal de Viçosa, com mestrado e doutorado pela mesma universidade e possui pós-doutorado pela University of Florida. Foi professor da Univerisade Federal de Viçosa e atualmente é professor de nutrição de bovino de leite na Washington State University. Confira!

Scot Consultoria: Na sua opinião, para que o produtor de leite tenha maior retorno financeiro é necessário investir em sistemas, manejos, alimentação ou genética? O que você considera como importante ressalva para que os produtores de leite obtenham retorno econômico na atividade?

Marcos Marcondes: Para essa questão, o correto é investir na combinação dos quatro componentes. O mais importante é definir com o produtor a meta a ser atingida. A escolha de um melhor sistema vai depender de quanto será produzido: mil, dois mil, cinco mil ou dez mil litros de leite ao dia.

Sendo assim, a genética e alimentação são complementares. Um outro exemplo, é o produtor que produz 500 litros de leite, a alimentação pode ser proveniente do pasto. Já um sistema de produção acima de 5 mil litros de leite ao dia, dificilmente conseguirá manter a alimentação exclusivamente em pasto, sendo necessário, por esse motivo, o planejamento de suas metas produtivas.

Portanto, a base para esse setor é a alimentação, pois sem a alimentação correta o potencial genético do animal não é expressado e o sistema não funciona. O manejo e a alimentação são os principais fatores para que o sistema funcione e o potencial genético possa ser expressado. Porém, é impreterível o planejamento contendo as metas que pretende alcançar na produção de leite, adequando as necessidades e a realidade do produtor.

O importante para alcançar o lucro na pecuária leiteira são os detalhes. Realizamos uma pesquisa com mais de 140 fazendas, analisando os dados de custo de produção e concluímos que a variação do custo do litro de leite com gastos como: concentrado, medicamento e volumoso varia muito pouco. O produtor bem sucedido nessa atividade normalmente tem gastos muito semelhantes aos do produtor sem muito êxito, mas o produtor bem sucedido é detalhista, não gasta sem necessidade.

Por exemplo, ele mantém um cronograma atualizado de manutenção de máquinas, benfeitorias, não investe em grandes reformas ou grandes investimentos na propriedade e tem mão de obra qualificada e comprometida.

Portanto, ganhar dinheiro na pecuária de leite é não gastar com supérfluos, manejar bem, manter tudo organizado e capricho na condução de todo o processo.

Scot Consultoria: Qual a principal dica que você daria ao produtor de leite para evitar a instabilidade desse mercado e dessa maneira, se prevenir em situações adversas como ano passado? Qual é a gestão a ser utilizada e quais pontos o produtor de leite deve priorizar?

Marcos Marcondes: A principal dica é se planejar. Algumas premissas são importantes para este setor: consultar um especialista, que entende a oscilação do mercado para poder comprar os insumos de maior demanda na dieta na época de maior oferta e com preços mais baixos. Portanto, a lógica é: fazer o planejamento, levantar os insumos necessários para a dieta e fazer compras programadas de milho e soja na época de menor preço. Essa seria uma vantagem, outra dica é compra conjunta, ou seja, produtores integrados compram maior quantidade com preços menores, beneficiando a todos. Não tem como burlar a instabilidade do mercado do leite, mas há como tornar esse fator menos estressante.

A principal falha de gestão é não fazer o que os especialistas recomendam. Outra falha vital é a necessidade do produtor entender que a bovinocultura de leite é de ciclo longo. O investimento de hoje só terá retorno, em média, daqui 5 anos, levando em consideração o período de gestação, mais toda recria da bezerra e primeira lactação, que normalmente “paga” todo esse tempo. Inseminar uma vaca é um investimento a longo prazo e tem que ser visto como tal.

Se um produtor compra vacas e dobra sua produção, ele normalmente tem uma ilusão de que ocorreu o aumento da renda e por isso, mudou de padrão de vida, mas aquele animal só vai dar lucro após cinco anos. Portanto, tem que ter cuidado com os gastos, pois certamente o leite não pagará isso no curto prazo e o que acontece é exatamente o contrário.

Quero deixar aqui explícito que não há uma receita de bolo para a bovinocultura de leite, cada fazenda tem sua rotina e realidade, levando em consideração os pontos que algum técnico pode sugerir para a melhoraria da produção. A questão é mais cultural, do produtor não aceitar as sugestões dos especialistas e seguir conforme sua experiência e não entender que um aumento de produção hoje não garante um sucesso na atividade amanhã. Não seguir as recomendações dos especialistas é algo extremamente comum e falho no Brasil.

Scot Consultoria: Quais são as vantagens e riscos de produção nos sistemas de confinamento, free stall e compost barn na bovinocultura leiteira?

Marcos Marcondes: Para iniciar essa questão, o produtor que mantem sua produção em pasto consegue produzir até 3 mil litros / leite/dia em sistemas mais adaptados. Acima disso, o risco de prejuízo é muito grande, considerando um limite operacional. Se a meta é o alto volume de leite, precisa-se investir em sistema mais estruturado.

Tanto o compost barn quanto o free stall são ótimos sistemas de produção. No sistema de criação intermediário (produção média de 5 mil litros de leite/dia), o compost é mais fácil de manejar e tende a ter menos problemas de manejo. Temos que olhar bastante para o volume planejado.

Por exemplo, para produções acima de 8 mil litros / leite/dia o compost barn começa a ter uma limitação e fica mais difícil para revolver a cama 2 a 3 vezes ao dia. As áreas que os animais permanecerão são muito grandes, a cama aquece, tem mais dificuldade de subir a média por animal. Segundo nossos levantamentos, sistemas em compost barn aumentam muito o risco de prejuízo quando ultrapassam 9 mil litros / leite/dia. Acima disso, na média, o free stall é o sistema mais rentável e de menor risco.


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