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Scot Consultoria

Como o melhoramento genético pode contribuir para o avanço da pecuária?

Entrevista com o professor e coordenador do Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular Animal da UNESP, José Fernando Garcia

Segunda-feira, 21 de outubro de 2019 - 05h50
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Médico veterinário (USP), mestre em Ciências Veterinárias pela UFRGS e doutor em Reprodução Animal pela USP. Atualmente é professor adjunto e coordena o Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular Animal da UNESP.

Foto: Scot Consultoria


Esta semana, nosso convidado é José Fernando Garcia, um dos nossos palestrantes do Encontro dos Encontros, que participou do bloco “Contra fatos não há argumentos’’ e abordou a utilização da genômica e como ela pode contribuir para o avanço da pecuária nacional.

José Fernando é médico veterinário (USP), mestre em Ciências Veterinárias pela UFRGS e doutor em Reprodução Animal pela USP. Atualmente é professor adjunto e coordena o Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular Animal da UNESP.

Scot Consultoria: O senhor poderia nos falar um pouco sobre o que foi abordado em sua palestra em nosso Encontro? Qual a sua opinião sobre a importância do Encontro dos Encontros da Scot Consultoria para a pecuária nacional?

José Fernando: Em minha palestra abordei sobre a importância da genômica, que é um tema muito falado hoje, porém, pouco entendido. Mostrei três exemplos de aplicação da genômica, o primeiro na organização de uma raça, por exemplo. Em uma associação de raça usa-se a genômica para atividades como controle de paternidade, registro genealógico, seleção genômica, identificação de marcadores causais positivos e negativos, análise de endogamia e até certificação de produto. Isso tudo é possível graças aos testes genômicos, que atualmente são muito informativos e muito baratos.

O segundo exemplo mencionado foi sobre a importância de colher informação, pois, a partir disto, é possível criar o que chamamos de “big data”. E esses dados associados à genômica podem ir mais a fundo nos genes, marcas e mutações, o que agrega na seleção, visando um animal ideal.

A terceira aplicação é a edição gênica, que seria a cereja do bolo. Uma vez que as mutações são conhecidas, conseguimos obter um melhoramento associado à metodologia de edição gênica, resultando na tecnologia que chamamos de melhoramento de precisão.

Um evento como o Encontro dos Encontros da Scot Consultoria, que traz pessoas que decidem, que estão com a mão na produção, que são grandes, influentes, cientistas, técnicos e põe todos em uma sala para debater é interessantíssimo, na minha opinião é de grande valia. Presenciei palestras que consolidaram informações boas e que olham para o futuro. Particularmente, uma reunião das raças, mostrando que todas elas estão entrelaçadas, inclusive na genômica.

Scot Consultoria: O pecuarista hoje já reconhece a genômica como um caminho sem volta?

José Fernando: Hoje temos dois tipos de pecuaristas: aquele que faz genética e aquele que usa a genética. O que faz a genética, ele a utiliza, porém, está tentando entender seu funcionamento, e ainda estamos nessa fase. O que usa de fato a genética, ele a utiliza através do sêmen, da novilha de reposição, ou mesmo selecionando seu rebanho. Assim, ela é forte no primeiro grupo e está começando a aparecer no segundo grupo.

Scot Consultoria: José Fernando, de que forma o melhoramento genético pode contribuir para o avanço da pecuária?  

José Fernando: Se fazemos uma pecuária commoditie hoje, que não possui classificação de carcaça, com remuneração de qualidade ou não, de qualquer forma o produtor ganhará dinheiro. A pecuária de corte, na minha visão, dentre todas as atividades do agronegócio, está como uma das últimas, não em termos de adoção de tecnologia, mas de profissionalismo, contabilidade e gestão do negócio porque é uma atividade lucrativa quando feita em grandes extensões.

A partir do momento em que o pecuarista se tecnifica ele valoriza seu produto. No evento falamos sobre o aumento da valorização da carne como produto nobre etc. Você passa a ter o melhoramento genético como a única forma de melhorar a situação.

A pecuária de corte brasileira melhorou no quesito nutricional, sanitário e reprodutivo. Hoje o pecuarista faz FIV (fertilização in vitro) em grande quantidade e IATF (inseminação artificial em tempo fixo) aos milhões, reforma o pasto, o que até vinte anos atrás não era feito, suplementa as vacas, utiliza o creep-feeding, vacinas etc. Se está tudo ótimo e a produção continua ruim, como podemos melhorar a produtividade? É nesse momento que entra o melhoramento genético, ou fazendo, ou usando o que é feito.

Scot Consultoria: O senhor poderia nos falar como é realizada a implantação da genômica na fazenda?

José Fernando: Hoje a genômica é baseada em um teste laboratorial feito a partir da coleta do pelo do animal. Esse teste determinará 50.000 marcadores e servirá para determinar paternidade e organizar registros genealógicos. Com isto, será importante para associações de raças, melhora das DEPs (Diferença Esperada na Progênie), que são cálculos matemáticos que permitem o uso do melhoramento, fazendo com que tenha mais precisão.

Permite também a investigação de novos marcadores, de novos genes que precisamos para o departamento de pesquisa e desenvolvimento. Assim, usamos e analisamos o que já existe para calcular a endogamia de uma população.

Existe uma gama de aplicações e isso tudo é feito com um único teste, realizado uma vez na vida do animal. Ele é guardado e utilizado para múltiplas aplicações com uma simples amostra de pelo, que vai de melhoramento genético à certificação do produto ou de animais.

Entrevista originalmente publicada no informativo Boi & Companhia, edição 1361.


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