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Scot Consultoria

Suplementação na época da seca

Entrevista com o pesquisador científico da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), Gustavo Rezende Siqueira

Terça-feira, 18 de junho de 2019 - 05h55
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Zootecnista pela Universidade Federal de Lavras, mestrado e doutorado em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Atualmente é pesquisador científico da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) e professor convidado do Programa de Pós-graduação em Zootecnia da FCAV-Unesp, Campus de Jaboticabal. Assessor Ad-hoc da FAPESP e FAPEMIG e revisor de vários periódicos. Tem experiência na área de Zootecnia, com ênfase em Avaliação, Produção e Conservação de Forragens e Produção Animal, atuando principalmente nos seguintes temas: produção animal, bovinocultura de corte, suplementação, confinamento, ensilagem e aditivos.

Fonte: Scot Consultoria


Com a época das secas se aproximando é importante entender a necessidade da suplementação dos animais e saber quais são as estratégias para utilizar os suplementos e melhorar a eficiência do rebanho. Pensando nisso, a Scot Consultoria bateu um papo com Gustavo Siqueira.

Gustavo possui graduação em Zootecnia pela Universidade Federal de Lavras, mestrado e doutorado em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Atualmente é pesquisador científico da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) e professor convidado do Programa de Pós-graduação em Zootecnia da FCAV-Unesp, Campus de Jaboticabal. Assessor Ad-hoc da FAPESP e FAPEMIG e revisor de vários periódicos. Tem experiência na área de Zootecnia, com ênfase em Avaliação, Produção e Conservação de Forragens e Produção Animal, atuando principalmente nos seguintes temas: produção animal, bovinocultura de corte, suplementação, confinamento, ensilagem e aditivos.

Scot Consultoria: Qual o papel da ureia na suplementação? Por que a importância de utilizá-la principalmente nas secas?

Gustavo Siqueira: A ureia é uma fonte de nitrogênio não proteico (NNP) e uma das principais vantagens competitivas dos ruminantes é transformar NNP em proteína verdadeira. Então a ureia ou fontes de ureia protegida são sempre bem-vindas porque é uma fonte que só os ruminantes vão conseguir utilizar, não compete com nenhuma outra espécie.

A ureia é muito importante principalmente na época das secas porque é ela que vai dar a condição para os microrganismos do rúmen degradarem a fibra. Na época das secas o teor de fibra do pasto é muito elevado, por melhor que seja o manejo, e os níveis de proteína são muito baixos.

Quando nós suplementamos com ureia, os microrganismos utilizam a ureia como fonte de nitrogênio, quebram a fibra e geram energia para o animal e proteína verdadeira, de qualidade, que é a proteína microbiana, consequentemente o animal tem um bom ganho de peso nas secas.    

Então posso afirmar que todo suplemento utilizado nas secas vai ter ureia. Precisa ter ureia na seca.

Scot Consultoria: Durante a época das secas, qual suplemento é mais indicado dar ao gado? Existe um nível ideal?

Gustavo Siqueira: O principal limitante na época das secas é a proteína, então, o suplemento tem que ser proteico.

Quando você pensa em um animal de cria ou recria, que está em manutenção ou ganho de peso, o suplemento vai ser um proteico ou pode ser um proteico-energético, desde que eu tenha o fornecimento ideal de proteína e consiga colocar mais energia para esse animal ter um ganho de peso mais elevado.

A grande vantagem é que essa suplementação vai fazer com que o animal aproveite mais o pasto, consumindo melhor e ganhando mais peso.

No caso de uma terminação a pasto, no período das secas, o que é recomendado? Um nível de suplementação mais alto. Neste caso, pode ser um suplemento com mais energia, desde que os níveis de proteína sejam atendidos, mas os níveis de suplementação ficam na ordem de 1,5% a 2,0% do peso vivo (PV).

Scot Consultoria: Como devo calcular o tamanho do cocho para a suplementação a pasto dos animais?

Gustavo Siqueira: Área de cocho é um dos principais limitantes para ter sucesso na suplementação a pasto. Para o proteinado é recomendado 15cm de cocho por cabeça, agora para o proteico-energético é recomendado até 30cm a 40cm de cocho por cabeça.

Pode parecer muito, mas normalmente o suplemento proteico-energético de 0,6%-0,5% do PV tende a ser um suplemento que você oferece ao animal, o animal vai até o cocho, consome rápido e acaba o suplemento. Se o suplemento que você estiver usando for desse tipo, você tem que ter um cocho que caiba todos os animais juntos porque todo mundo vai chegar, comer ao mesmo tempo e ir embora.

Então, mais do que só uma indicação, tem que ter observação no campo. É preciso entender como está sendo a dinâmica de consumo e da suplementação. Isso é fundamental porque senão você chega nas secas e metade dos seus animais não estão conseguindo consumir o suplemento, eles vão perder peso. Você pode ter uma parte do lote ganhando peso e uma boa parte perdendo peso, por isso o tamanho do cocho é fundamental para o sucesso da suplementação, talvez seja o maior gargalo para algum tipo de suplementação no campo. 

Scot Consultoria: Um modelo que está crescendo no Brasil é o semi-confinamento, no que consiste esse sistema? Na sua visão essa é uma alternativa para a intensificação da pecuária no Brasil?

Gustavo Siqueira: Lembra que eu falei na pergunta anterior “ah isso é para recria, se for terminação eu recomendo um maior nível de suplementação”?

Uma nutrição intermediária, quando a suplementação chega de 3kg a 5kg de suplemento por cabeça/dia, ao redor de 1% PV, isso no meu entendimento é o semi-confinamento.

Quando o semi-confinamento é nesse nível de suplementação, eu acho uma ferramenta interessante, mas tem que ser usada em épocas em que a condição de pasto é muito boa, nas águas ou no máximo na transição entre as águas e a seca. Os resultados com 3kg a 5kg de ração são obtidos agora, em maio/junho.

Isso varia um pouco de ano para ano, por exemplo, esse ano agora em junho as pastagens ainda estão em boas condições, ano passado, estavam em péssimas condições nessa mesma época. Mas o que o produtor tem que entender de uma forma geral, o boi come 2% do peso vivo (PV), se você estiver fornecendo 1% PV de ração, o outro 1%, ou seja, metade da dieta dele, está vindo do pasto.

Se metade está vindo do pasto, o pasto é muito importante em termos de qualidade. Então para suplementações na ordem de 1% PV, a condição de pasto tem que ser muito boa e essa condição muito boa tem que ser até essa época, meados de junho.

Agora, daqui para frente, quem está começando a tratar de boi agora, pode até começar no 1% PV mas tem que ir aumentando para 1,5%-2,0%PV, que representa 6-8kg de ração. Isso é o que tem crescido muito no Brasil, porque a qualidade do pasto cai. É como se o pasto estivesse se transformando em um bagaço de cana, um volumoso, mas de baixa qualidade.

É importante entender isso primeiro, porque a turma fala de semi-confinamento, mas generaliza tudo e não exemplifica nada, então isso é muito relevante.

E o que eu acho dessa técnica? Eu acho uma técnica excelente. Não é substituto ao confinamento, mas é uma técnica democrática, uma coisa que o produtor pode e deve usar. Muitos produtores têm optado por usar essa técnica também por questões de resíduo, de meio ambiente, de restrições de licença.

Eu vejo muitos projetos que fazem a terminação intensiva a pasto que a gente chama de TIP, ou alta suplementação a pasto, como você quiser chamar, desde projetos pequenos fazendo com 20 bois até projetos grandes fazendo com 100 mil bois. É uma técnica muito democrática, não importa o tamanho do produtor, é possível implementar com certa facilidade.

Mas é muito importante reforçar que mesmo dando 8kg de ração, é preciso ter pasto, é fundamental. O maior erro é o produtor achar que está dando muita ração e não precisa de pasto. 

Scot Consultoria: Para o pecuarista que não suplementa os animais em nenhuma época do ano ou fornece apenas sal mineral, quais os principais pontos a serem considerados para implementar a suplementação na fazenda? Qual o custo?

Gustavo Siqueira: A primeira coisa que o produtor tem que entender é que ninguém suplementa porque é bonito. Se você pegar os próprios dados da Scot Consultoria sobre rentabilidade da pecuária de corte com e sem implementação de tecnologia, independente do preço da arroba do boi, quem está usando tecnologia sempre tem uma margem melhor e maior do que quem não usa.

Então, não é que nós temos muita opção não, nós estamos sendo obrigados a adotar esse tipo de estratégia.

Em primeiro lugar é importante o produtor treinar a equipe, ter estrutura de cocho, pensar no fluxo de caixa da empresa, todos esses são pontos fundamentais para se definir e usar suplementação.

Um salgador, a pessoa que está lá no campo tratando, está acostumado a levar 80g/dia, ele leva um saco de sal, coloca no cocho e passa mais de uma semana sem ter de repor o saco. Quando você começa a suplementar, é preciso levar todo dia ou três a quatro vezes por semana, então se o tratador não tiver a consciência que aquilo é importante e quais são os objetivos, ele vai achar que isso é só aumento de trabalho para ele e não vai fazer bem feito.

Resumindo, em primeiro lugar é preciso definir qual o suplemento usar em função dos objetivos da fazenda, depois treinar a equipe, mostrar a importância dessa atividade e ver se a fazenda tem estrutura adequada para implementar a suplementação, tem que ter barracão para estocar o suplemento, precisa ter estrutura de distribuição e cocho. E, por fim, o fluxo de caixa da propriedade vai ser modificado, tanto em termos de desembolso, como em termos de receita, porque você vai antecipar o abate do animal, vai abater animais mais pesados, isso vai mudar toda a composição do fluxo de caixa dessa fazenda.    


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