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Scot Consultoria

O papel da ABCZ na pecuária nacional

Entrevista com o superintendente técnico da ABCZ, Luiz Antônio Josahkian

Segunda-feira, 27 de maio de 2019 - 05h55
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Zootecnista formado pela Faculdade de Agronomia e Zootecnia de Uberaba, especialização em produção de ruminantes pela Universidade Federal de Lavras e mestrado em melhoramento genético pela UFV. Atualmente é professor titular das Faculdades Associadas de Uberaba e superintendente técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu, além de jurado efetivo das raças zebuínas.

Foto: Scot Consultoria


O zebu é a subespécie mais difundida ao redor do Brasil. Com ela, a pecuária brasileira tomou forma e conseguiu expandir e tornar o Brasil, o segundo maior produtor de carne do mundo. Sendo assim, convidamos Luiz Antônio Josahkian para falar um pouco sobre a importância do papel da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ) para a pecuária nacional.

Josahkian possui graduação em zootecnia pela Faculdade de Agronomia e Zootecnia de Uberaba, especialização em produção de ruminantes pela Universidade Federal de Lavras e mestrado em melhoramento genético pela UFV. Atualmente é professor titular das Faculdades Associadas de Uberaba e superintendente técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu, além de jurado efetivo das raças zebuínas. Tem experiência na área de zootecnia, com ênfase em melhoramento animal, atuando principalmente nos seguintes temas: bovinos de corte e leite, registro genealógico de zebuínos e julgamento de animais das raças zebuínas.

Scot Consultoria: Josahkian, este ano a ABCZ celebra o seu centenário. Qual é o papel da Associação na pecuária nacional?

Luiz Josahkian: Para entender o papel da ABCZ na pecuária talvez seja preciso um olhar em retrospectiva que remete aos séculos anteriores, ao séc. XIX. Até aquela época, a pecuária no Brasil era praticamente inexistente, um subproduto da subsistência dos colonos em terras inóspitas e totalmente baseada em raças ou tipos ibéricos pouco adaptados ao clima tropical.

Seria somente a partir de meados dos anos 1830 que alguns pioneiros visionários iriam buscar na Índia uma genética absolutamente inusitada para os padrões vigentes. A introdução das raças zebuínas inaugura uma nova fase na pecuária brasileira, tornando-a, de fato, um negócio.

Grande parte do estabelecimento dessa nova pecuária se deu em função da aclimatação dos zebuínos aos nossos sistemas de produção intensivos, quentes e com ectoparasitos.

Com a introdução dos zebuínos, mesmo que em número bem inexpressivo (algo ao redor de 8 mil exemplares), o que se verificou em seguida foi uma multiplicação exponencial dessa genética, de forma que hoje ela está presente em 80% do rebanho nacional. Esse crescimento trouxe consigo a necessidade de organizar e sistematizar a criação das raças zebuínas.

Foi quando surgiu o primeiro serviço de registro, ainda em caráter privado, com o nome de Herd Book Zebu, em 1919. Esse serviço durou algum tempo e de forma intermitente até ser substituído pela Sociedade Rural do Triângulo Mineiro, em 1934, quando então o Governo Federal tornou oficial o registro genealógico.

Pode-se dizer que no transcurso desses 100 anos de controle ininterrupto das gerações dos animais - o que equivale a dizer mais de 12 milhões de registros e algo em torno de 22 gerações de animais - formamos a grande base de seleção genética dos zebuínos em todo o país. É válido ressaltar que a ABCZ transcendeu o conceito puro do registro genealógico, que é o de identificar os animais, buscando, desde a década de 1960, definir e conhecer o perfil econômico de cada uma das raças e de cada um dos indivíduos zebuínos.

Os investimentos em tecnologia sempre foram contínuos de forma a alinhar o processo seletivo aos avanços da ciência. Começamos utilizando apenas o olho humano e hoje já incorporamos a genômica. Sabemos que o desafio da pecuária do futuro será o de produzir mais alimento em menos tempo, utilizando menos área e consumindo menos recursos. Estamos atentos à nossa missão: contribuir para o aumento sustentável da produção mundial de carne e leite, através do registro, melhoramento e promoção das raças zebuínas.

Scot Consultoria: Quais os principais serviços da ABCZ?

Luiz Josahkian: Como já mencionado, a missão da ABCZ é o registro, o melhoramento e a promoção das raças zebuínas. Neste sentido, o serviço de registro genealógico, o PMGZ – Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos e seus derivados (PMGZ Comercial e Programa Carne de Zebu), a realização de eventos técnico-científicos, assim como a Expozebu e a Expogenética, poderiam ser apontados como os principais serviços da entidade. Além disso, a ABCZ atua no cenário político nacional buscando defender os interesses legítimos dos produtores rurais, sempre alinhada à produção sustentável e responsável de genética, carne e leite.

Scot Consultoria: Sobre o Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos, conte-nos um pouco sobre o programa e quais as principais vantagens de se participar?

Luiz Josahkian: O PMGZ se originou nas provas zootécnicas implantadas pela ABCZ em 1968. São 50 anos de trabalho. O programa, que tem como objetivo atender a todos os associados, se caracteriza por ser modular, permitindo que diferentes criadores, em diferentes estágios tecnológicos e com diferentes objetivos possam participar.

É o programa que reúne a maior quantidade de informações das raças zebuínas no Brasil e, até onde conhecemos, do mundo. Isso traz algumas vantagens, tais como permitir a obtenção de referenciais comparativos mais próximos à realidade das raças.

Também, como não é um programa que visa lucro, naturalmente como deve ser a atitude de uma associação, oferece serviços de alta tecnologia com custos subsidiados para os criadores. O PMGZ tem se mantido na vanguarda da tecnologia e hoje processa possivelmente uma das maiores avaliações genômicas do mundo em termos de bovinos.

O sistema de avaliação genética que é oferecido aos usuários do programa conta com inúmeras funcionalidades, todas de fácil utilização e entendimento, mas com um alcance ótimo no nível de gerenciamento dos recursos genéticos dos rebanhos participantes. Dentre outras funções, o PMGZ oferece análise de tendências genéticas do rebanho para características da esfera reprodutiva, maternais, de crescimento, de carcaça, produção de leite, permite gerenciar os acasalamentos que produzirão as novas safras de acordo com os objetivos do criador, monitorando, inclusive, os níveis de consanguinidade.

Scot Consultoria: Na sua opinião quais os principais avanços alcançados pela ABCZ em relação ao melhoramento genético da raça Nelore? E quais você acredita serem os maiores desafios que ainda devem ser alcançados?

Luiz Josahkian: Especificamente para a raça Nelore, os dados mostram uma evolução significativa em algumas características de interesse econômico, especialmente as tendências genéticas para peso e ganho em peso.

Outra evolução significativa são as características reprodutivas, mostrando que a raça está mais precoce sexualmente e com um comportamento reprodutivo ao longo da vida útil das vacas mais estável. Neste aspecto, é interessante notar que a raça continua sendo longeva, adaptada e produtiva, características que nem sempre são fáceis de serem mantidas em conjunto.

Como desafios atuais, eu diria que as características de qualidade da carne e temperamento seriam os alvos principais. Existe variabilidade genética suficiente dentro da raça para agregarmos de forma mais intensa esses dois componentes.

Scot Consultoria: Como o produtor faz para se associar? Quais regras deve seguir?

Luiz Josahkian: Qualquer pessoa física, jurídica ou condomínio que esteja interessada em integrar o grupo de associados da ABCZ pode fazer parte deste grupo, independentemente de ser um criador ou não. As categorias são sócio remido e sócio contribuinte, cujas informações estão sempre disponíveis no site da entidade (www.abcz.org.br).

O associativismo é livre no Brasil. Para desfrutar dos serviços prestados pela ABCZ não é obrigatório ser um associado, mas o sócio da ABCZ possui descontos de até 50% nas taxas dos serviços prestados pela entidade, além de poder votar e ser votado, participar de eventos, promoções e outros benefícios. O associado recebe periodicamente informativos e a Revista ABCZ, que contém os principais acontecimentos ligados à entidade e aos interesses da pecuária.


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