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Scot Consultoria

Não só de trato se engorda o gado

Entrevista com o diretor da Especializo, empresa com foco na gestão de recursos hídricos para a produção agropecuária, João Luis dos Santos

Segunda-feira, 6 de maio de 2019 - 05h55
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Técnico em bioquímica, graduado em marketing pela Anhanguera Educacional. Possui mestrado em engenharia agrícola pela Unicamp. Atuou até 2011 no seguimento industrial, desenvolvendo mercados, produtos e soluções para a qualidade da água. Em 2011 fundou a Especializo, com foco na gestão de recursos hídricos para a produção agropecuária. Ministra cursos de capacitação e palestras para técnicos e produtores sobre o tema. Especialista em legislação ambiental de água, atua como gestor de negócios na Ecosystem Análises Ambientais. Na HidroAll, presta consultoria no desenvolvimento e aplicação de produtos no mercado de produção animal.

Foto: https://www.zamon.com.br


Da série de entrevistas com palestrantes do Encontro de Confinamento e Recriadores da Scot Consultoria conversamos com João Luis dos Santos para saber mais sobre o peso da qualidade da água no desempenho dos animais.

João Luis é técnico em bioquímica, graduado em marketing pela Anhanguera Educacional. Possui mestrado em engenharia agrícola pela Unicamp. Atuou até 2011 no seguimento industrial, desenvolvendo mercados, produtos e soluções para a qualidade da água. Em 2011 fundou a Especializo, com foco na gestão de recursos hídricos para a produção agropecuária. Ministra cursos de capacitação e palestras para técnicos e produtores sobre o tema. Especialista em legislação ambiental de água, atua como gestor de negócios na Ecosystem Análises Ambientais. Na HidroAll, presta consultoria no desenvolvimento e aplicação de produtos no mercado de produção animal.

Scot Consultoria: O senhor pode comentar um pouco como foi a experiência de participar do Encontro de Confinamento e Recriadores da Scot Consultoria?

João Luis: Participar do evento foi muito proveitoso e gratificante. Reencontrar alguns conhecidos e fazer novas amizades com afinidades pela preocupação com a água foi motivador para dar continuidade ao trabalho que desenvolvo por meio da Especializo, fomentar a preocupação com o correto manejo da água visando melhores resultados e capacitar produtores e técnicos para alcançarem esse objetivo.

Scot Consultoria: Qual o impacto, falando em números, que a água contaminada pode trazer? E qual o custo para o tratamento da água?

João Luis: Não há apenas um cálculo para definir isso. Muitos parâmetros de qualidade da água, quando estão fora dos limites mínimos aceitáveis para consumo do gado, podem afetar de forma adversa desde o desempenho até a reprodução ou mortalidade de bezerros. No exemplo simplificado que demos durante a palestra no evento pegamos apenas o caso do excesso de sulfato na água, algo muito comum. O gado que consumiu água com 1.700mg/l de sulfato teve uma performance 10% menor que o gado que consumiu água com 400mg/l. Mas, também é comum o excesso de sólidos totais dissolvidos, nitratos e contaminação bacteriológica. O quanto todos estes parâmetros de qualidade podem prejudicar a performance animal ainda não foi devidamente estudado. O que se sabe é que animais que bebem água limpa e segura tem melhor desempenho que aqueles que consomem água de lagoas e açudes.

Quanto ao custo do tratamento, temos que separar primeiro em duas partes, o investimento inicial e depois o recorrente com produtos. Considere o consumo inicial no mínimo 10% do volume total de água consumido em um dia. Exemplo, se consome 100.000 litros de água por dia, terá um investimento mínimo de R$10,00 mil apenas em infraestrutura de tratamento da água. Depois disso, R$1,00 mil por mês em produtos. Essa conta considera uma água corrente, ou de poço, relativamente limpa. Quanto mais “suja” a água, mais caro será o tratamento. Por isso, recomendamos sempre proteger suas fontes de água.

Scot Consultoria: Para o pecuarista que ainda não faz análises regulares da água disponível para o gado, mas deseja fazer, qual a periodicidade adequada e qual a importância de se fazer as análises regularmente? 

João Luis:  O ideal é analisar a água quatro vezes ao ano, uma em cada estação, para ter o histórico da qualidade em todas as estações, procurando coincidir com períodos de plantio e uso de defensivos em sua região. Tem muita água contaminada com defensivos agrícolas. Períodos de longos dias de sol são propícios para o crescimento de cianobactérias. Ou seja, procure abranger as estações e eventos de manejo agrícola de sua região. Outro pronto importante, água superficial deve seguir orientação do CONAMA 357 e subterrâneas CONAMA 396. Fora isso seguir minimamente a tabela1 apresentada abaixo.

Tabela 1.
Concentrações máximas aceitáveis de minerais, compostos minerais e propriedades físicas.

Fonte: dados do autor.

Scot Consultoria: Como saber calcular a quantidade de água que é preciso ter no reservatório para garantir o fornecimento a boiada?

João Luis: Considere o volume de água ingerido por cada animal. Isso deve ser em média 50 litros por dia e depende muito da temperatura local e tipo de alimentação. Multiplique pelo número de animais. Faça um reservatório que garanta água para no mínimo 48 horas, isso se o produtor está próximo de fornecedores de materiais e equipamentos hidráulicos e pode atender emergencialmente, ou se tem um estoque de segurança. Caso contrário mantenha estoque de água pelo período que considerar mais seguro para a produção.

Scot Consultoria: O quanto pode ser diminuída a ingestão da água quando os bebedouros ficam localizados em áreas de difícil acesso?

João Luis: Curiosamente o gado sempre se manterá perto das fontes de água. Nesse caso, a preocupação do produtor deve ser em quanto o animal deixará de se alimentar por ter água em locais de difícil acesso. Estudos mostram que o gado se mantem à distâncias entre 1,5 a 2,5km, no máximo, da fonte de água mais próxima. Ou seja, se a alimentação estiver muito além desse limite o gado prefere ficar perto da água a ter que andar muito para comer. Isso porque um esforço físico acima de 5km por dia é um gasto energético desnecessário e só ocorre se realmente o animal tem fome.


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