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Scot Consultoria

Da pesquisa ao campo

Entrevista com o pesquisador científico da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios – APTA, Flávio Dutra Resende

Segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019 - 05h55
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Zootecnista pela Universidade Federal de Viçosa. Possui mestrado e doutorado em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Atualmente é pesquisador científico da APTA e professor credenciado da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinária (FCAV - UNESP Jaboticabal). Atua como revisor científico da Revista Brasileira de Zootecnia, do Boletim de Indústria Animal e da Revista Ciência e Cultura. Tem experiência na área de zootecnia, com ênfase em avaliação de alimentos para animais, atuando principalmente nos seguintes temas: bovinos de corte, desempenho animal, qualidade de carne, confinamento e desempenho.

Fonte: Scot Consultoria


Para entender melhor sobre os trabalhos que a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios -APTA desenvolve e o projeto Boi 777, convidamos o pesquisador científico da APTA e palestrante do Encontro de Confinamento e Recriadores da Scot Consultoria, Flávio Dutra de Resende, para um bate-papo.

Flávio é formado em zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Possui mestrado e doutorado em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Atualmente é pesquisador científico da APTA e professor credenciado da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinária (FCAV - UNESP Jaboticabal). Atua como revisor científico da Revista Brasileira de Zootecnia, do Boletim de Indústria Animal e da Revista Ciência e Cultura. Tem experiência na área de zootecnia, com ênfase em avaliação de alimentos para animais, atuando principalmente nos seguintes temas: bovinos de corte, desempenho animal, qualidade de carne, confinamento e desempenho.

Scot Consultoria: Flávio você vai participar do evento da Scot Consultoria. O que você vai abordar na palestra e por que o pecuarista não pode perder?

Flávio Resende: Os eventos organizados pela Scot Consultoria são sempre muito bons, não só pela qualidade da organização, mas também pelos profissionais que vão ministrar as palestras e pelo público que é muito interessado no assunto que está sendo discutido.

O espaço do evento é muito confortável, as pessoas se sentem bem. Nós gostamos muito de participar desse tipo de evento, não só pela parte técnica, mas pelo bate-papo que existe nos intervalos e, poder debater e interagir com as pessoas.

O foco no qual vamos falar em abril é mostrar o tipo de carcaça que estamos produzindo e quais são as oportunidades que o pecuarista está perdendo em não produzir esse tipo de carcaça. Muitas vezes, o pecuarista produz um animal de qualidade inferior e vão existir várias outras palestras ao longo do evento que irão mostrar a importância de atuar em cada fase, ou seja, no investimento em genética, em nutrição, no manejo e em estratégias de confinamento, para chegar no alvo final que é a carcaça que está sendo entregue lá no frigorífico.

Então, nós vamos fazer um fechamento, mostrando onde, muitas vezes, o pecuarista está deixando de observar detalhes da carcaça que ele entrega para o frigorífico, avaliando via romaneio que o frigorífico devolve para ele. Aquilo é a fotografia das coisas certas e das coisas erradas desde o bezerro.

Scot Consultoria: Flávio, explique um pouco sobre o trabalho da APTA-Colina e quais as principais linhas de pesquisa que vocês trabalham?

Flávio Resende: Aqui em Colina-Alta Mogiana a APTA trabalha com pesquisas tanto da área animal como vegetal.

Na área vegetal trabalhamos com fruticultura, cana-de-açúcar, seringueira e com grãos, basicamente milho e soja.

Na área animal trabalhamos com equídeos, como cavalo e jumento. Além das pesquisas realizadas, somos fornecedores de cavalos para a polícia militar do estado de São Paulo, abastecemos o regimento de cavalaria que utiliza esses animais no policiamento montado. Trabalhamos também com bovinocultura de leite e de corte.

Scot Consultoria: Qual o intuito do projeto do Boi 777? Como esse projeto funciona?

Flávio Resende: O projeto do Boi 777 foi uma estratégia que nós adotamos há algum tempo. As pesquisas vão acumulando conhecimento e cada vez mais está sendo difundido esse tipo de informação para o pecuarista, completando sete anos de projeto.

Víamos nos dias de campo na APTA e treinamentos que realizávamos, que muitos pecuaristas não tinham nenhum tipo de métrica na fazenda, ou seja, não avaliavam os custos de produção. Vendo essa dificuldade em entender os custos e fazer um planejamento, foi que nós estabelecemos uma meta mais simples, que seria abater um boi de 21 arrobas dentro de um tempo estabelecido, esse boi tinha que morrer com algo em torno de 24 meses, que são os nossos aqui.

Começamos uma linha do tempo, ou seja, você tem um alvo a ser alcançado, que é um boi mais pesado, e por que alcançar um boi mais pesado? Porque o ágio do bezerro começou a subir na pecuária. Até os próprios levantamentos da Scot Consultoria mostram isso.

Em 2008 praticamente não tinha ágio e depois esse ágio foi subindo, chegando a patamares, em algumas situações, muito acima de 30,0%. Então, esse bezerro é um bezerro mais caro e ele precisa ser diluído ao longo do tempo, e a forma que nós temos de fazer essa diluição é via aumento de ganho de peso.

No entanto, eu não posso também colocar esse aumento de ganho de peso em um tempo muito longo, porque eu passo a ter um alto custo fixo do pasto. Então, começamos a trabalhar com essas variáveis e pelas estratégias nutricionais que a gente desenvolveu aqui foi onde conseguimos definir o projeto.

Se você tiver um bom bezerro por volta de 7 arrobas e uma boa estratégia de recria você consegue colocar 7 arrobas em um ano. Então, você passa a ter um garrote de 14 arrobas, com a idade aproximada de 18 a 20 meses.

Então, você pode levá-lo para o confinamento colocando mais 7 arrobas, ou eventualmente também fazer o que a gente chama de terminação intensiva a pasto, em que damos as mesmas condições nutricionais do confinamento no boi de pasto e também conseguimos colocar as 7 arrobas, abatendo com 21 arrobas. Essa é a filosofia do projeto.

Scot Consultoria: Atualmente, quantas propriedades a APTA está assessorando para a implementação do Boi 777? E quantas fazendas já possuem o programa?

Flávio Resende: Nós temos uma atividade que fazemos aqui na fazenda que chamamos de Pecuária do Conhecimento. Esse curso começou em 2011 e foi até meados de 2016. Era um encontro mensal para pecuaristas e técnicos que atuam no setor. Em função da demanda, de meados de 2016 para cá, passamos a fazer dois cursos mensais. Atendemos em cada curso aproximadamente 25 pessoas, que vêm para cá e ficam conosco por dois dias. Hoje já temos pecuaristas e técnicos dos mais diferentes estados produtores do Brasil: Rondônia, Acre, Pará, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Maranhão, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Espirito Santo, e está programado para vir um pessoal da Bahia. É uma difusão em âmbito nacional.

Em 2016 nós fizemos a modalidade de dia de campo, o Beef Day e nós estávamos com uma expectativa de público entre 500 e 600 pessoas e tivemos mais de 1.100 pessoas no evento. Foi muita gente. Fizemos a segunda versão em 2018, e tivemos que restringir um pouco a vinda das pessoas, mas tivemos um público de 1.375 pessoas, essencialmente pecuaristas. Isso demonstra que os pecuaristas estão atentos com as tecnologias que estamos gerando e estão procurando essas tecnologias e, obviamente a gente difunde isso através de vários eventos por todo Brasil. O Boi 777 foi capa da ExpoCorte 2015 e todo o evento foi em cima do Boi 777.

Enfim, tem uma demanda muito forte pelas tecnologias e quem trabalha com pesquisa não para, sempre tem mais inovações, essas inovações são difundidas. Por exemplo, agora para 2019 foi lançado um programa de eficiência de carcaça pelo Minerva, e nós vamos fazer um piloto em duas plantas, a de Araguaína e a de Palmeiras de Goiás, duas plantas bem distintas devido a originação de gado.

Nós vamos fazer um mapeamento dos animais para entender como está a sua diversidade, em função do sistema de produção dessas regiões e, baseado nessa diversidade, nós estamos propondo um treinamento para que os pecuaristas possam chegar com um animal mais jovem e com uma carcaça de melhor qualidade. Isso para que possam atender, não só a melhoria da carne no mercado interno, mas também, dar uma carteira melhor de produtos para a exportação, com foco em bem-estar e pH da carne, fatores extremamente importantes para alguns países em relação a importação do nosso produto. 

E, melhorando o acabamento de carcaça, outro fator importante é a idade, porque o custo operacional do pasto está lá, ou seja, se eu estou com um animal com dois anos esse custo está lá e se eu estou abatendo com quatro anos, estou simplesmente dobrando o custo desse animal, sendo que eu poderia fazer dois ciclos ao invés de um só. Esse é o foco do trabalho.

Scot Consultoria: Para o produtor que tem a intenção de aderir ao projeto, o que é necessário fazer?

Flávio Resende: Logicamente que atendemos vários pecuaristas que nos visitam aqui na fazenda para esclarecer as suas dúvidas. A fazenda está de portas abertas, a gente sempre está recebendo a todos. Muitos pecuaristas, às vezes, demandam que você dê uma instrução mais específica, mas, o que fazemos em geral é mostrar o planejamento além de fazermos o treinamento.

Estamos sempre alinhados com as empresas que são os parceiros na área de nutrição e mostramos o melhor pacote tecnológico para o produtor fazer. No dia a dia da fazenda, o pecuarista precisa de um apoio, dependendo da necessidade, precisa ter um técnico contratado de confiança, mas, atuamos também com o treinamento desse tipo de técnico para que o objetivo seja alcançado. Esse é o nosso trabalho.


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