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Scot Consultoria

O uso de inseminação e as tendências das raças utilizadas


Sexta-feira, 26 de outubro de 2018 - 09h30


O uso de genética animal na pecuária de corte e de leite está relacionado à necessidade do produtor de intensificar a sua produção e gerar mais resultados. Por isso, é um tema que cada vez mais ganha espaço na pecuária nacional.


Sergio Saud é presidente das ASBIA (Associação Brasileira de Inseminação Artificial) e conversou com a Scot Consultoria, a fim de sanar possíveis dúvidas sobre o mercado de genética animal, as tendências desse mercado, e deu dicas para o produtor que quer investir nessa tecnologia. 


Scot Consultoria: Segundo o relatório Index da ASBIA, no primeiro semestre de 2018, as vendas de doses de sêmen (raças de leite e corte) cresceram 9%, na comparação anual. Qual a expectativa para o segundo semestre?


Sérgio Saud: Tivemos um primeiro semestre bem interessante na pecuária de corte, 14% de crescimento. Isso, de certa forma, surpreendeu positivamente. Nós achávamos que ia ter um crescimento, mas na melhor das hipóteses algo em torno de 6% e 8%, os 14% foram bem surpreendentes. Uma outra observação que a gente faz é que são 14% sobre uma base bem inferior, que foi o primeiro semestre de 2017, em que teve toda aquela situação com o JBS, com Carne Fraca, ou seja, um primeiro semestre bem turbulento que impactou muito no preço de arroba e houve uma retração muito grande no mercado. Então, se você projetar 14%, logicamente é interessante, mas também tem que ter esse contexto de que houve uma depressão na evolução das vendas no primeiro semestre de 2017. Agora, não deixa de ser positivo e se projeta para o segundo semestre uma carga de otimismo. A gente vê preço de arroba estável, muita movimentação no mercado, preço do bezerro subindo, tudo isso, de certa forma, estimula o mercado de genética. A expectativa nossa é de crescimento, não no mesmo nível, mas pode ser que a gente feche o ano em torno de 10%, até 12%, mas se for menos um pouquinho, se for 8% a gente já acha bastante positivo.


Scot Consultoria: Quais são as raças mais comercializadas? Esse perfil mudou ao longo dos anos?


Sérgio Saud: Até 2015/2016 o Angus vinha se destacando muito, 2016 e 2017 houve uma recuperação do Nelore. Isso já era esperado, principalmente em função da necessidade de reposição dos plantéis de fêmeas nas fazendas. A gente acompanhava isso até pelo próprio trabalho que a gente faz na Genex, vinhamos observando que muitos criadores estavam usando Angus em 100% das fêmeas, ou seja, não estavam deixando animais para a reposição. Quando a gente questionava isso a resposta era: “Ah! Sobre isso eu penso depois”. E chega um momento em que começa a faltar fêmea, diminui o estoque de fêmeas na fazenda, e esse momento aconteceu em 2016, em que as fazendas começaram a repor o seu plantel de fêmeas Nelore. Por isso, houve um crescimento da raça em 2016 e 2017. Em 2017 esse movimento ainda foi, novamente, influenciado pela situação de mercado, os frigoríficos diminuíram um pouco o poder de compra deles, alongaram as escalas, diminuíram bônus e isso desestimulou um pouco os criadores a investir em cruzamento. Alguns optaram por voltar para o Nelore, houve uma queda na venda de Angus em 2017 e agora em 2018 a gente observou uma retomada.


A análise do primeiro semestre é, digamos assim, bem superficial, por que a gente sabe que o forte da venda de genética de corte ocorre no segundo semestre. Agora que os negócios estão acontecendo, mas a gente tem uma sinalização, no primeiro semestre, de uma retomada bastante acentuada do Angus em relação ao Nelore, o Brangus, outra raça que vem crescendo bastante. Há uma tendência, de alguns criadores, de reter a fêmea F1, de Angus com Nelore, e buscar um “tricross”, utilizar o Brangus, ou o Senepol, ou Bonsmara, algumas raças, não diretamente, voltando para o zebu.


Há por parte do JBS o programa 1953, em que eles estimulam o tri cruzamento com raças britânicas ou sintéticas, isso tem gerado muito demanda para essas raças. O Brangus tem aproveitado bem essa situação de não voltar para o zebu, mas também não apurar muito no europeu. Então, o Brangus entra bem nesse tri cruzamento, cresceu muito nesses últimos anos. 


E essa é uma expectativa que a gente tem agora para 2018, uma retomada do cruzamento industrial. Bem ou mal, há uma ligeira recuperação da economia e isso também influencia muito na demanda. Eu costumo dizer que durante os anos de 2012 até 2015, com a melhoria da situação econômica do país, muitos consumidores puderam provar uma carne de qualidade, tiveram contato com uma carne mais macia, com melhor acabamento de gordura e isso logicamente elevou o critério de escolha desses consumidores. Em função da crise eles tiveram que retardar, adiar a compra dessa carne de melhor qualidade. Então, o consumo caiu, mas quem provou, quem comeu uma carne de melhor qualidade, é uma questão de momento, se naquele momento ela puder investir, ela vai comprar de novo. A gente tem noção clara de que, havendo uma recuperação econômica e a população, de forma geral, com mais recursos, vai voltar a investir e comprar uma carne de maior qualidade.


Scot Consultoria: Qual o maior gargalo para aumento da IATF (Inseminação Artificial em Tempo Fixo) no Brasil?


Sérgio Saud: Ainda predomina na pecuária nacional o pensamento extrativista, ou seja, o menor nível de investimento possível, aquela expectativa de tirar o máximo que a terra pode dar sem colocar nada. Infelizmente isso ainda persiste, uma questão cultural que precisa ser trabalhada através de informação, levar informação para as pessoas do campo. Isso vai fazer diferença mais na frente. A gente vem através da ASBIA trabalhando fortemente nisso na difusão de tecnologia, tentando mostrar para os criadores que nos momentos de crise as fazendas que investem em tecnologia sofrem menos que aquelas que não investem. Isso é muito claro. Economia não é deixar de investir, economia é você saber tirar o máximo de produtividade da sua fazenda. Então esse é um trabalho que vem sendo feito, mas ainda predomina, infelizmente, a questão do extrativismo.


A IATF começou mais fortemente no Brasil a partir de 2010, a gente está com 8 anos da técnica.  O “boom” realmente aconteceu a partir de 2012, mas ainda há muito o que evoluir na técnica. Há alguns anos atrás se falava em 50% como uma média de resultado, hoje as fazendas já estão trabalhando acima de 60%, 70% e já tem fazenda buscando 80% de prenhez na IATF. Então, isso tudo também estimula os criadores a adotarem a técnica. O que eu costumo dizer é que dificilmente você vai encontrar um criador hoje que não tenha ouvido falar em IATF, em cruzamento industrial, ele pode não ter adotado ainda, mas ele já ouviu falar. Uma analogia que eu faço é como se você tivesse na frente de uma loja e olhando na vitrine, olhando lá dentro da loja, e desejando um produto que está ali, mas você não sabe se você pode pagar por aquele produto, se aquele produto vai atender a sua necessidade se vai ficar bem em você e o que está faltando é alguém chegar e te convidar para conhecer mais detalhes desse produto, a tirar suas dúvidas. Então é esse o trabalho que a gente vem fazendo nas ASBIA, tentar, cada vez mais, levar informação para os criadores, mostrar para eles que aquele que já ouviu falar em IATF, mas ainda não usou, que é uma técnica simples, que é uma técnica barata. Os resultados de utilizar uma genética melhoradora são muitos e dura por muito tempo. Uma boa genética traz resultados para a fazenda por muitos anos. Então, compensa muito investir em genética, e inseminação artificial é uma ferramenta para você poder utilizar uma genética melhoradora. 


Scot Consultoria: O quanto a utilização dessa tecnologia tem aumentado ao longo dos anos?


Sérgio Saud: O aumento é gradual, na pecuária de corte o incremento foi muito intenso depois da entrada da IATF, a introdução da tecnologia ajudou muito a acelerar esse processo. Então, se a gente buscar 2005, 2006, tínhamos níveis de 3%, 4% de uso de inseminação artificial na pecuária de corte, hoje há estados com 22%. Mato Grosso do Sul hoje é o estado que mais insemina, depois Rio Grande do Sul e Mato Grosso, esses três têm hoje em torno de 20% do rebanho de fêmeas inseminadas, já é um número muito interessante.


A média nacional está em torno de 13%, mas você tem estados em torno de 20%. O que ajuda muito a pecuária, são os estados que mais têm uma atividade pecuária intensiva, tecnificada e com bons resultados. Então você vê, por exemplo, Pará avançando muito com inseminação artificial, principalmente em tempo fixo, Tocantins crescendo muito, Goiás já é um estado importante. Então a gente percebe que a cada ano mais criadores na pecuária de corte vão adotando a tecnologia.

Na pecuária leiteira, é interessante porque é extremamente correlacionada ao preço  do leite. Você vê que se o preço do leite está bom, o pessoal insemina, quer investir, quer alimentar o rebanho, quer colocar uma genética melhoradora. O preço do leite cai, recua, ou seja, a pecuária leiteira é mais estável, ela cresce uns dois anos, e depois cai. Agora na pecuária de corte se você for traçar uma linha de tendência, ela é crescente.


Scot Consultoria: Qual o custo médio de implantação desse sistema? E qual o custo médio da IATF por prenhez?


Sérgio Saud: Em média, hoje uma dose de sêmen de touro Angus ou de um touro Nelore, de alta qualidade, custa ao redor de R$20,00. Tem uma variação, mas dá para arredondar em R$20,00. Um protocolo de IATF hoje, ele gira, dependendo se você usa o monodose, que é o uso único do implante, ou o implante em que você pode reutilizá-lo, vai variar entre R$15,00 e R$20,00. E, você tem o serviço do técnico, do veterinário, que pode variar um pouco, mas costuma se dizer que é mais ou menos igual (R$20,00). Você teria, para falar números redondos, R$20,00, R$20,00, R$20,00, então, com R$60,00 você tem uma vaca inseminada e com 60%, que é a média hoje, de prenhez.


Em alguns casos, muitas fazendas já estão utilizando a ressincronização. Então ela pega 100 vacas inseminadas, 60% ficaram prenhes, então, para as 40 que sobraram faz de novo o processo, sincroniza e insemina novamente. Digamos que tenha 50% de resultado das 40, mais 20. Então você tem 80 fêmeas com prenhez positiva, das 100 que você inseminou antes. Essas 20 que sobraram, muitas vezes vão direto para descarte, ou é colocado o touro da fazenda e ainda se consegue mais dez dessas emprenhadas com o touro. A fazenda termina a estação de monta com, até 90 dias, cerca de 80%, 90% das vacas prenhes. Esse seria o ideal, e aí se você for pegar o custo você teria lá R$6,0 mil das primeiras 100 vacas, mais R$2,4 mil nas 40 vacas que foram reinseminadas. Então você teve R$8,4 mil de custo.


Depois você tem o custo do touro, da fazenda para emprenhar, digamos que você tenha gasto R$10,0 mil para inseminar as 100 vacas, R$100,00 por vaca, para você ter 80% das vacas prenhes. Então, é um custo baixo, você gastou R$100,00 para ter a vaca prenhe e daqui um ano vender um bezerro desmamado em torno de R$1,0 mil. Então, você vê que a conta fecha. Ela se paga tranquilamente. Há um investimento inicial por parte do criador, que não é alto, comprar o equipamento para inseminação, treinar o funcionário da fazenda, ter um veterinário para supervisionar, existe um custo inicial, mas muito baixo comparado a outras tecnologias.


Scot Consultoria: Em questão da qualidade do sêmen, quais os principais cuidados que o produtor precisa ter para que o sêmen mantenha suas características?


Sérgio Saud: Primeira coisa, a gente sempre recomenda adquirir o sêmen direto de uma central, ou seja, evite comprar de outros criadores, evite comprar de pessoas que não sejam representantes das centrais de sêmen. Por que isso? Porque o sêmen é muito sensível à variação de temperatura, ele é armazenado em botijões com nitrogênio líquido.


Para manter a qualidade do sêmen ele tem que ficar a -192°C, essa é a temperatura que você preserva o sêmen, então qualquer abertura do botijão, qualquer manipulação, se você levanta a raque onde tem as paletas com o sêmen, há um choque térmico e esse choque térmico prejudica a qualidade das células. Parece uma besteirinha, mas dois segundos que você tira o sêmen de dentro do botijão afeta a qualidade do espermatozoide. Então, o maior cuidado que a gente recomenda é primeiro adquirir de uma fonte segura, de empresas credenciadas no Ministério da Agricultura, que sejam filiadas à ASBIA, porque essas empresas têm todo um controle de qualidade, desde a coleta até o envase e, principalmente, da manutenção do sêmen nos seus estoques. E, após a aquisição do sêmen, é muito importante que ele seja bem acondicionado na fazenda, ou seja, verificar a qualidade do botijão, medir o nitrogênio pelo menos duas vezes por semana para evitar vazamentos ou perdas. O botijão funciona como uma garrafa térmica, se a garrafa é nova, ela mantém a temperatura por mais tempo e se houver algum vazamento ou não estiver bem fechada, há uma alteração de temperatura, o que está dentro se perde. Então, esse cuidado de manutenção na fazenda é fundamental.


E finalizando, a própria técnica de inseminação, ou seja, ter pessoas treinadas, promover treinamentos, as próprias centrais oferecem. Ter uma mão de obra qualificada, ter a supervisão de um médico veterinário também é importante e seguir os procedimentos recomendados, ou seja, os cuidados na manipulação do sêmen, no descongelamento, seguindo todos os processos para fazer um bom programa de inseminação na fazenda.


Scot Consultoria: Estamos na estação de monta, para os pecuaristas que nunca fizeram inseminação e querem investir nessa tecnologia, qual o seu principal conselho para ele?


 Sérgio Saud: Primeiro, para o produtor que está interessado, mas não tem muita informação, a ASBIA pode oferecer informações, através do site ou ligar diretamente para nós, para podermos orientá-lo. Segundo, procurar as empresas que são filiadas à ASBIA, que também possuem equipes técnicas que orientam e montam um programa, que têm em vista não só a inseminação, pois como falei antes, a inseminação é uma ferramenta para levar o melhoramento genético para a fazenda, e além de você ter a ferramenta, é preciso uma orientação sobre qual genética utilizar.


Então, o técnico da central é orientado a fazer a visita e entender qual é a necessidade do produtor, do ponto de vista genético e quais serão os touros mais recomendados para a situação dele e então montar um programa bem ao encontro das necessidades dele.



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