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Scot Consultoria

Produzir 25 arrobas por hectare ao ano é a meta de toda a fazenda que adota ILP


Terça-feira, 25 de julho de 2017 - 16h10

Foto: Embrapa.

Produzir 25 arrobas por hectare ao ano é a meta de toda a fazenda que adota ILP.


Essa e outras opiniões foram concedidas pelo professor Edemar Moro, engenheiro agrônomo e professor da UNOESTE (Universidade do Oeste Paulista), durante uma entrevista à Scot Consultoria.


Edemar será um dos palestrantes do Encontro de Adubação de Pastagens Scot Consultoria, que será realizado em Ribeirão Preto-SP, durante os dias 3 e 4 de outubro.


Quer saber mais sobre a adoção desse sistema na sua propriedade e como aumentar a produção de arrobas por hectare? Faça sua inscrição pelo site http://www.scotconsultoria.com.br/encontros/ ou pelo telefone (17) 3343-5111.


Confira a entrevista na íntegra:


Scot Consultoria: Edemar, o senhor poderia abordar um pouco do que será falado na sua palestra durante o Encontro dos Encontros da Scot Consultoria?


Edemar Moro: A importância do consórcio de culturas para produção de grãos com forrageiras, as vantagens destes consórcios, quais espécies são indicadas para serem consorciadas, formas de implantação dos consórcios de acordo com cada nível de tecnologia e para cada região de produção, técnicas para evitar que a forrageira prejudique a cultura granífera, a eficiência dos sistemas de produção que utilizam a consorciação de espécies, destruição do mito que a produção de grãos é menor no consórcio com forrageiras, importância do consórcio para planejamento forrageiro e a quantidade de carne que é possível produzir após o consórcio.


Scot Consultoria: Professor, por que milhões de hectares de pasto viraram lavoura nos últimos anos? Cada vez mais a rentabilidade da pecuária está virando “história para boi dormir”?


Edemar Moro: Existe um conjunto de fatores para explicar o avanço de grãos em áreas de pecuária. O principal deles é a baixa competividade da pecuária tradicional com a produção de grãos. Quando se faz referência a pecuária tradicional, aquela tocada de forma amadora que trabalha com o conceito “ganhar economizando”, e que negligencia investimentos na manutenção da fertilidade do solo, na recuperação da pastagem e em genética (sem pasto de qualidade seria contrassenso). Esse modelo de exploração da pecuária é inviável e, fatalmente, cederá área para a agricultura.


Por outro lado a pecuária tratada como negócio, com gestão e com o conceito ganhar investindo é rentável, principalmente para fazendas com ciclo completo (a integração fará com que a cria seja cada vez mais valorizada), nesse caso, a rentabilidade não será “história para boi dormir”.


Temos que lembrar que a agricultura é de ciclo curtíssimo e não se inicia sem altos investimentos, enquanto que a pecuária se arrasta por anos sem investir em tecnologia, juntar as duas atividades será uma excelente saída. O contraponto é que milhões de hectares com agricultura também estão sendo ocupados com pastagem, são as áreas que implantaram a ILP (integração lavoura-pecuária). Num futuro próximo, a recria e engorda a pasto serão feitas em sistemas integrados, por isso a cria que ficará em fazendas tradicionais será valorizada e terá que suprir essa demanda que cresce a cada dia. Estatísticas atuais revelam que no Brasil já se faz ILP em 11,0 milhões de hectares (Figura 1).


Figura 1. Evolução da área de adoção da ILPF, em milhões de hectares.Fonte: Kleffmann Group, safra 2015/2016
* Estudos encomendados pela Rede de Fomento a ILPF.


Scot Consultoria: Já são claros os benefícios obtidos através do consórcio grãos com plantas forrageiras, em sua opinião, por que essa tecnologia ainda é tão pouco utilizada pelos pecuaristas?


Edemar Moro: Os benefícios são claríssimos, porém serão raros os pecuaristas tradicionais que farão adoção desta técnica. Infelizmente, a tomada de decisão é baseada em questões culturais e não em questões de sustentabilidade do negócio. O tempo passa, e ainda é comum se ouvir – “sempre fizemos desta maneira e deu certo”. Esse relato não é uma crítica aos pecuaristas, o ser humano por si só é resistente a mudanças, ninguém gosta de sair da zona de conforto.


A formação de pastagem solteira é muito mais fácil do que consorciada com grãos, demanda menos investimentos e técnicas de cultivo simplificadas. Além disso, o que justificaria o consórcio para os pecuaristas seria o planejamento forrageiro (não a produção de grãos) e, com esse foco, a lavoura seria para produção de silagem, com a vantagem de, ao mesmo tempo, se obter a reforma das pastagens. Se essa técnica fosse adotada, teríamos pelo menos 10 milhões de hectares de áreas em consórcio para planejamento forrageiro. Este número é significativo, mas insuficiente para reforma de pastagem antes da degradação.


As mudanças só ocorrem quando a situação está gravíssima. Isto também ocorre com nossa saúde, a grande maioria das pessoas só procuram um médico quando já estão sofrendo muito. Infelizmente, as pessoas não procuram ajuda na hora certa, apesar de saber que há benefícios em se antecipar aos problemas. A grande maioria espera que os problemas aconteçam para depois buscar a solução, às vezes é tarde demais.


Scot Consultoria: Em um futuro próximo, integrar lavoura e pecuária será questão de sobrevivência para o pecuarista?


Edemar Moro: Esse futuro já chegou, por melhor que se faça a recuperação de pastagens, a alta produtividade da forragem (sem que se faça reposição de nutrientes) não passa de dois anos. Imagine a pecuária tradicional que não investe em fertilidade do solo e passa dez anos sem fazer reforma de pasto, as contas não fecham. Para complicar a situação, o processo de recuperação preferencial ainda é feito com preparo convencional do solo.


A impressão que fica é que os pecuaristas ainda não descobriram que o Sistema Plantio Direto também pode ser usado para formação de pastagens, o que resultaria em redução do custo da reforma. Sendo assim, o caminho para reforma das pastagens no tempo certo é a integração lavoura-pecuária e o modelo mais utilizado é dois anos de lavoura, seguidos de dois anos de pastagem, com a vantagem que, na estação seca e após a colheita dos grãos, 100% da fazenda será ocupada com pasto.


A integração potencializará tanto a produção de grãos, quanto a produção de carne. Um exemplo claro é a produção de soja após milho solteiro e milho consorciado. A produtividade da soja após milho consorciado sempre é maior em relação ao milho solteiro e será ainda mais expressiva se o capim, após a colheita do milho, for pastejado, mesmo que seja por um curto período.


O pastejo é importante para a renovação do sistema radicular da gramínea, além da estruturação do solo, ocorre ciclagem de nutrientes, sem contar que a quantidade de arrobas de carne produzidas em 30 a 40 dias de pastejo é a mesma que fazendas com pastagens degradadas produzem em 365 dias. Não há números oficiais, mas, estima-se que mais de 50% das fazendas de pecuária do Brasil estão trabalhando com margem de lucro abaixo de R$100,00 por hectare, ao ano, ou tendo prejuízo. Para aqueles que buscarão profissionalizar a gestão das fazendas e uma margem de lucro superior a R$1.000,00 por hectare, a integração entre a agricultura e a pecuária será a solução e possibilitará duas fontes de renda na propriedade.  


Scot Consultoria: Qualquer produtor pode implantar o sistema de integração na sua fazenda? Para aqueles que desejam adotar essa ferramenta, qual o primeiro passo a ser dado, professor? 


Edemar Moro: Tecnicamente sim, qualquer fazenda poderia adotar o sistema, mas alguns pontos precisam ser considerados. É comum o discurso de que para o agricultor é mais fácil adotar o sistema integrado, eu discordo. O agricultor precisará fazer cerca, aguada, estrutura de manejo e aquisição dos animais. Colocando na ponta do lápis, isso seria um grande complicador. Além do alto custo, o agricultor acostumado a acessar crédito na forma de custeio para lavoura não teria oferta de recurso nessa modalidade para a pecuária.


Para o pecuarista, considero mais fácil. Em termos de estrutura será necessária apenas a compra das máquinas. De forma geral, o primeiro passo é o proprietário buscar ajuda e elaborar um projeto com ações a curto, médio e a longo prazos. Esse projeto deverá contemplar avaliação do perfil do proprietário, diagnóstico da propriedade e, de acordo com as metas estabelecidas, dimensionar a estrutura necessária para todas as fases do projeto.


Considero a assistência técnica a parte mais importante para o sucesso do projeto, seja ela vinculada a empresas que a oferecem em contrapartida à compra dos insumos, ou a contratada de forma integral. O sistema de integração proporciona resultados extraordinários, no entanto, se for implantado e conduzido de forma errônea, os resultados não virão e a tecnologia será “queimada”, por essa razão é necessário buscar ajuda externa. No passado, a mão de obra foi um gargalo, atualmente, existem muitos profissionais preparados, basta contratá-los e remunerá-los de forma justa. É inadmissível fazendas que valem e podem proporcionar resultados (R$) na ordem de milhões serem conduzidas sem planejamento e sem profissionais capacitados.


Scot Consultoria: Consórcio de forrageiras com milheto, milho ou sorgo. Qual destes tem o maior potencial produtivo de arrobas bovinas? Pensando na dificuldade de implantação, há recomendação para algum desses sistemas?


Edemar Moro: Cada uma destas espécies tem sua aplicação, e a sua escolha acontece em função da região e do clima. Quando se busca produção de carne, o milheto é o indicado e deverá ser semeado juntamente com o capim. O uso do milheto é comum em regiões sem aptidão ao milho de segunda safra ou quando é feita a opção pelo “boi safrinha”. Em regiões de ILP já estabelecida, o consórcio é realizado após a colheita da soja. Em regiões típicas de pecuárias, pode ser utilizado na reforma da pastagem, o objetivo será sempre antecipar o primeiro pastejo enquanto a forrageira se desenvolve. O milheto persiste por três pastejos e toda a vez que atingir 60cm deverá ser pastejado para passagem de luz à forrageira, geralmente uma braquiária. Esse consórcio proporciona GMD (ganho médio diário) próximos ou superiores a 1,0kg.


O sorgo, por ser mais rústico, é indicado para cultivo de verão em regiões quentes e de baixa altitude com histórico de veranicos. Poderá ser direcionado para a colheita de grãos ou silagem. Para a silagem, tem a desvantagem de menor qualidade e a vantagem de maior produção, quando comparado ao milho. A qualidade pode ser equalizada com consórcio triplo, sorgo, braquiária e feijão guandu. O guandu se adapta muito bem ao consórcio com o sorgo e eleva os teores de proteína a valores próximos aos da silagem de milho.


O consórcio com milho é o mais comum e tem a vantagem de permitir o uso de herbicidas para regular o crescimento do capim. Também tem a vantagem do uso para silagem ou grãos (maior demanda que o sorgo). Com relação ao pastejo, tanto no consórcio com milho ou sorgo, se dará após o corte para silagem ou após a colheita de grãos. O capim, após milho, atingirá ponto de pastejo mais cedo depois da colheita. Isto acontece porque o milho “fecha menos” a entrelinha e assim permite maior passagem de luz ao capim. Com relação à dificuldade de implantação, ressalta-se que o milho e o sorgo exigirão uma semeadora para implantação, enquanto o consórcio com milheto poderá se feito com equipamento a lanço com mecanismo pendular ou disco.


Scot Consultoria: Nos experimentos na UNOESTE, qual foi a maior produtividade de arrobas por hectare ano que o consórcio grãos com plantas forrageiras atingiu? É possível atingir estes patamares observados na produção comercial?


Edemar Moro: Atingimos 25 arrobas por hectare. Com relação a este número, é importante pontuar alguns aspectos: esse não é o limite, é possível ir além; é passível de ser atingido no primeiro ano após a colheita do sorgo ou do milho ou no primeiro ano após consórcio com milheto; a partir do segundo ano, é possível números próximos a este desde que se faça adubação da pastagem.


A quantidade de 25 arrobas é passível de ser atingido em áreas comerciais, um exemplo para se atingir esse valor seria taxa de lotação de quatro animais por hectare com GMD de 0,5kg durante o ano e com rendimento de carcaça de 52,0%. Estes números parecem conservadores para pecuária de alto desempenho, mas, para serem atingidos a pasto, em escala comercial, exigem boa gestão da fazenda, bom manejo das pastagens e boa genética animal. Considero 25 arrobas como meta de toda a fazenda que adotará a integração. Para metas mais agressivas deverão ser utilizadas outras técnicas, tais como suplementação, pastos consorciados com leguminosas e adubação das pastagens.



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