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Scot Consultoria

Superação do Agro no momento da maior crise brasileira


Sexta-feira, 16 de junho de 2017 - 10h20

Foto: tejon.com.br


José Luiz Tejon Megido é mestre em arte e cultura pelo Mackenzie, Dr. em Pedagogia da Superação pela UDE/Uruguai; Jornalista e publicitário formado pela Casper Líbero. Administrador com ênfase em marketing, com especializações na Pace University/EUA, Harvard/EUA, e MIT/EUA. Em liderança tem especialização no INSEAD/França.


Scot Consultoria: Quais foram os reflexos para a imagem do setor do agronegócio no Brasil e no mundo depois da ocorrência dos últimos acontecimentos no mercado como a Carne Fraca, volta do Funrural e delações da JBS?


José Luiz Tejon Megido: Apesar dessas séries de crises, em minha opinião, isso termina por fortalecer o agro, porque o brasileiro nunca teve suporte e apoio para fazer o que fez e chegar aonde chegou. Nós chegamos e prosperamos através do pioneirismo de empresários, de produtores e de técnicos que foram explorando e produzindo em regiões que antigamente se acreditava que nada poderia ser feito.


Scot Consultoria: Mas como podemos superar esse momento de crise, Tejon?


José Luiz Tejon Megido: Apesar dessas sucessões de crises serem preocupantes, desagradáveis e deixarem pessoas pelo caminho, em minha opinião, essas crises nos fortalecem porque acabam fazendo uma seleção positiva nisso tudo, num ponto de vista tecnológico e científico e também dentro das corporações.


Agora o que vemos é uma globalização cada vez maior dessas companhias, em minha opinião, essas empresas, como a JBS, serão todas vendidas, com grande probabilidade de ter companhias internacionais assumindo essas empresas. Então estamos vendo um Brasil que fica cada vez mais internacionalizado, e isso não é ruim, desde que estejamos conversando com empresas que carregam visão de longo prazo porque somente elas sobrevivem às tentações de curto prazo.


Crises, crises e crises. Temos que estar preparados e até mesmo acostumados com isso. O mundo moderno é um mundo interativo, todo mundo sabe tudo, olha tudo e vê tudo, então nós deveremos ter cada vez mais uma sucessão de crises. Crises essas que vêm rápidas, mas que também são resolvidas na mesma velocidade. É diferente do passado quando a crise levava anos e ficava permanente. Essas crises atuais vêm e vão com muita rapidez, reflexo do mundo moderno em que vivemos hoje.


Scot Consultoria: Em momentos de crise, como “separar o joio do trigo”?


José Luiz Tejon Megido: A história humana não é muito sensata, ela pega bons e maus, ao longo do tempo é assim que a história humana vem seguindo. Existem ciclos mais bondosos, ciclos mais maldosos, mas a história se faz desse jeito. O que precisa ter, por parte do empresário, do produtor, do empreendedor é, principalmente, uma consciência com a preocupação científica, tecnológica e de sustentabilidade de longo prazo, além do bom senso com relação aos riscos e a diluição destes.


A visão de longo prazo é a visão mais saudável, principalmente dentro do agronegócio, que é um setor que já possui uma série de fatores incontroláveis como o clima, pragas, doenças, preços, política, câmbio, incontáveis fatores incontroláveis... Portanto, em um cenário como esse não se pode brincar de cassino e querer “dar uma de esperto” para fazer resultados mirabolantes em curto prazo.


O Brasil tem caminhos importantíssimos nas áreas de ciência e tecnologia, como por exemplo, a integração lavoura-pecuária. Essa estratégia é extraordinária, está começando ainda, mas já temos cerca de 12 milhões de hectares adotando essa tecnologia. Somado a isso, há o aspecto relacionado à sustentabilidade, o último trabalho levantado pela Embrapa de monitoramento por satélites demonstrou que o produtor brasileiro é um ambientalista. É o que mais está preservando vegetação nativa.


Então, temos muitas coisas positivas. E isso tudo tem acontecido no país, mesmo nos momentos mais críticos. E valeria a pena lembrar ao nosso público que eu vivi épocas nas quais a inflação estava 60,0%, 80,0% ao mês, mas sobrevivemos, nos reconstruímos e crescemos. Tudo que está acontecendo no país e que reflete agora é resultado de um processo de 30, 40 anos em que nós passamos por enormes dificuldades.


A crise, no sentido positivo, tira a gente da comodidade, da normalidade e da zona de conforto. A normalidade, que combina muito com o “mornalidade”, que seria o morno, nem frio nem quente, ela existe nos ambientes mais protegidos. E acho que o brasileiro tem aí tanta novidade de ciência, de tecnologia, de gestão e vem o novo caminho da digitalização do campo, com a área toda de informática, ou seja, o brasileiro é uma figura que eu admiro muito.


O Brasil é bagunçado, tem essa confusão toda, mas mesmo assim é um país que dá uma lição ao mundo. Estamos prendendo e colocando na cadeia canalhas e corruptos de todos os tipos e de todos os partidos, e isso eu vejo como um fato espetacular. Sairemos muito mais fortalecidos disso tudo do que nós estávamos.


Scot Consultoria: Apesar das turbulências, o setor agropecuário foi responsável pela alavancada do PIB do primeiro trimestre desse ano. Quais os efeitos que essa “boa” notícia traz?


José Luiz Tejon Megido: Isso é muito surpreendente, quem acompanha o agro, como é meu caso, se olhássemos há 20 anos nenhum analista, economista, sociológico, diria que daqui 20 anos o Brasil seria suportado pelo avanço do agronegócio, e não é um avanço à moda antiga, é um avanço com ciência e tecnologia.


Estive em Cafelândia, em uma cooperativa de 5 mil cooperados e faturamento de mais de R$3,0 bilhões, exportando para 50 países com uma produção totalmente diversificada, que englobava pecuária de leite, suínos, frango, tilápia, isso é fantástico... E o mundo da carne não fica para trás, em meio a crises, delações, Carne Fraca, vejo movimentos muito interessantes em Mato Grosso reunindo o sindicato dos frigoríficos, o governo de Mato Grosso e a Associação dos Criadores (ACRIMAT), criando o IMAC (Instituto Mato-grossense da Carne) para fazer um processo de segurança e qualidade da carne vermelha, desde o bezerro até a gôndola, ou seja, a ponta final que é o consumidor, com unidade de balanças próprias e certificações, e com uma proposta de um trabalho de marketing para mostrar uma carne com qualidade e segurança a partir de produtores rurais. Uma ação como esta é muito interessante, isso faz com que o próprio produtor ganhe um acesso ao produto final, independente da marca dos frigoríficos.


São movimentos como esse de cooperativas e associações que nos enchem não de otimismo, porque o otimista é um tolo, mas por outro lado o pessimista é um chato, eu diria que é como Ariano Suassuna falava: realismo esperançoso.


O brasileiro que olha o futuro é um realista esperançoso, e basta nós olharmos para ângulos do Brasil para ver essa realidade esperançosa. Apenas seis países do mundo tiveram PIB de 1,0% para cima, como o Brasil, todos demais países tiveram crescimentos menores ou em muitas das vezes negativos. E isso foi pelo agro, mesmo em meio a todas essas confusões e crises, com dúvidas como, por exemplo, quem será o presidente, com o poder legislativo detonado, judiciário prendendo todo mundo... e em meio a tudo isso vemos como somos fortes.  


Scot Consultoria: O agronegócio, apesar de ser um dos principais setores do Brasil, ainda é mal visto/compreendido por muita gente. Por que isso acontece no Brasil, país considerado como o “celeiro do mundo” e como podemos mudar essa visão?


José Luiz Tejon Megido: Eu acho que hoje isso não é mais uma realidade. Esse retrato é do passado, assim como o retrato de que a mulher não tem uma posição importante no agronegócio. A população já tem em mente que crescemos graças ao agro.



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