Gustavo Aguiar, consultor da Scot Consultoria da entrevista para o Terra Viva

1 - Gustavo, o que foi que não deixou o preço do boi subir nos últimos meses do ano?

A demanda tem regulado bastante o mercado. Com o escoamento em ritmo lento, os frigoríficos saem com muito menos agressividade às compras, o que tem deixado o mercado com esse tom de estabilidade.

2 - Na semana passada o mercado de carne sem osso parou de cair e apresentou uma leve reação. O dinheiro do décimo terceiro salário finalmente está chegando ao balcão do açougue?

É possível que tenha havido um leve enxugamento dos estoques de carne sim, mas nada que seja realmente transformador do equilíbrio de mercado que temos visto nos últimos meses.

3 - Gustavo, faltando só duas semanas e meia para o Natal, ainda dá tempo de acontecer uma reação mais substanciosa no consumo de carne, em uma quantidade que possa ajudar a melhorar o preço do boi?

Não podemos descartar, mas, no mercado atacadista, que é o que mais importa para a precificação do boi, fica cada vez mais improvável, por uma questão de tempo. Isto pois o varejo fecha suas compras antecipadamente. A alta mais provável a partir de agora deve ocorrer justamente na ponta final.

4 - A exportação, em vez de aumentar, como se esperava no começo do ano, está piorando mês a mês. O que é que está derrubando os embarques, Gustavo?

Dois fatores foram importantes.

O primeiro foi o dólar, que recuou significativamente desde o começo do ano. Mesmo diante de uma cotação de atual próxima de R$3,50, a forte alteração de patamar (saiu de R$4,16 ao fim de janeiro para R$3,12 ao fim de outubro) exerceu uma mudança na dinâmica dos embarques.

O segundo ponto é a própria produção, em queda este ano face à diminuição dos abates.

5 – Pensando nos próximos meses, o que vocês esperam que vá acontecer com o preço do boi gordo com a melhora de oferta de animais vindo da engorda de pastagem?

É bem possível que tenhamos um mercado mais pressionado no primeiro trimestre. Três fatores podem entrar em ação: encolhimento adicional da demanda (sazonalmente normal); um deslocamento da oferta de bovinos que não foram confinados para os primeiros meses de 2017 e maior oferta de fêmeas (descarte reprodutivo).