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Scot Consultoria

Boi gordo: atual panorama e expectativas


Sexta-feira, 15 de julho de 2016 - 14h30


Alex Lopes, consultor de mercado pela Scot Consultoria concedeu uma entrevista ao apresentador Sidnei Maschio, do canal Terra Viva sobre o atual cenário do mercado do boi gordo e expectativas.


Alex Lopes é zootecnista formado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Jaboticabal.



Confira a entrevista na íntegra:


Sidnei Maschio: Alex, a gente sabe que para ser comprador de boiada o sujeito tem de ser um grande especialista na arte de fazer choradeira na porteira da fazenda, não é? Mas, na situação do mercado hoje, o que tem de encenação e de verdade na discussão a respeito da margem de comercialização do frigorífico?


Alex Lopes: A margem da indústria frigorífica em 2016 passa por um dos piores momentos desde que a Scot Consultoria começou a fazer este acompanhamento, há quase dez anos. A diferença entre a receita de uma planta que faz a desossa da carne e o que se paga pela arroba, desde fevereiro, vem trabalhando abaixo da média histórica, que é de 21,0%. De lá para cá, o resultado não parou de piorar e, a partir da segunda metade de junho, seguiu ao redor de 10,0%.


Para as indústrias que não fazem a desossa, que são geralmente as de menor porte, a situação é ainda pior. O mark up está em 2,5%.


É importante lembrar ainda que, embora o boi gordo componha ao redor de 85,0% do custo total de um frigorífico e este seja o único custo usado no nosso cálculo de margem, por razões mercadológicas, existem ainda as despesas com transporte, abate, desossa, processamento e venda.


Sidnei Maschio: Só para a gente não perder a memória e não ficar perdido na história, por que a margem de comercialização da indústria chegou nesse ponto em que ela está hoje?


Alex Lopes: No Brasil, abatemos muita fêmea entre 2010 e 2013. Isso gerou falta de animais no mercado a partir de 2014 e desde então, entramos em um ciclo de forte alta da arroba. Ao mesmo tempo, a economia começou a se deteriorar, o consumo interno caiu, o espaço para repasse de preços para a carne diminuiu muito e isso acabou estreitando a margem das indústrias.


Sidnei Maschio: Se o frigorífico nunca teve dó de descer o machado no preço, por que então que a arroba não está despinguelada na ribanceira, Alex?


Alex Lopes: A falta de oferta segue como um limitador das desvalorizações da carne da mesma forma que o consumo lento limita as valorizações que a falta de boiadas poderia gerar.


Sidnei Maschio: Alex, daqui para frente deve começar a chegar no mercado o gado terminado na primeira rodada do confinamento, não é? Qual vai ser o peso dessa oferta na praça?


Alex Lopes: A primeira rodada de confinamento deve ser de pouca oferta. Os altos preços do milho encareceram a operação e, os exercícios de projeção de resultados indicavam que entregar boiadas de cocho nesse primeiro giro, não seria interessante, financeiramente, ao pecuarista. É claro que alguns produtores que fazem recria na fazenda e conseguem um custo de boi magro menor, seguiram com a operação. Mas comprar o boi magro e colocar no cocho ficou difícil. O resultado não ajudou.


Sidnei Maschio: Ainda a respeito do confinamento, dá para arriscar uma previsão pra segunda parte da atual temporada?


Alex Lopes: O cenário para a segunda rodada do confinamento, é mais animador, principalmente nos patamares que a BM&F Bovespa tem precificado a arroba em outubro e, principalmente, em novembro, que está próximo de R$167,00.


Essa receita indica bons resultados ao confinador e dá boas possiblidades aos pecuaristas. Porém, só entre na operação com preços travados, seja através de um hedge ou contrato de opções.


Sidnei Maschio: Em meados do ano passado, quando a margem dos frigoríficos não estava tão apertada quanto ela está hoje, a indústria fechou cerca de cinquenta unidades em várias regiões do país. E agora, o que será que eles vão fazer?


Alex Lopes: Diante disso, não podemos descartar nada, nenhum tipo de ação, inclusive paralisação de abate. Portanto, atenção às indústrias. O resultado que elas têm apresentado está cada vez menor.


Sidnei Maschio: Ainda na questão da demanda por carne, as exportações, que estavam indo muito bem este ano, tiveram uma ligeira queda, tanto em volume quanto em faturamento, e a explicação foi o enfraquecimento do dólar em relação ao real. E agora, Alex, o que pode acontecer daqui para frente?


Alex Lopes: Mais uma vez temos que recomendar atenção à possibilidade de qualquer cenário para o setor. Não sabemos como ficará o cenário político dos próximos meses e isso é o que irá determinar os rumos da taxa de câmbio e, consequentemente, das exportações.


Mas não podemos esquecer que o Brasil já é o maior exportador de carne bovina há anos e o câmbio nunca esteve nesse patamar.


Sidnei Maschio: O preço do gado de reposição começou a cair, não é? Considerando que os ciclos da pecuária não foram revogados e continuam existindo, quanto tempo vai levar para que esse movimento de baixa comece a chegar no mercado do boi gordo?


Alex Lopes: Provavelmente, em 2017 teremos preços reais menores do que os de 2016. Estamos no quarto ano de alta do ciclo e com uma demanda ruim. A recomposição começou, baseada na retenção de fêmeas. O próximo ano será mais bem ofertado de bezerros.


Sidnei Maschio: Mesmo com o preço da reposição caindo, os outros custos de produção do pecuarista continuam subindo, e cada vez mais ligeiro, não é? O que o fazendeiro pode começar a fazer desde já paraes enfrentar essa situação?       


Alex Lopes: Essa é a hora de ser eficiente. Momentos de custos elevados e remuneração menor, a única coisa a fazer é melhorar a escala, entregar mais arrobas, aumentar a lotação da fazenda, fazer os animais ganhar mais peso e cortar as despesas que podem ser cortadas. Margens menores selecionam os melhores produtores.



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