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Leandro Bovo fala sobre o boi gordo no mercado futuro e as expectativas para o setor em 2015


Segunda-feira, 24 de novembro de 2014 - 15h44

"O próximo ano será muito desafiador para a pecuária, por vários motivos. O ambiente macroeconômico será muito tumultuado, com pressão constante da inflação, muita volatilidade no câmbio, expectativa de aumento de desemprego e crescimento baixo do PIB."

Leandro Bovo, médico veterinário pela UNESP, campus de Jaboticabal e operador de mercados agrícolas da BES Securities, além de preconizar o mercado do boi gordo para 2015, falou sobre liquidez de mercado, margem de garantia de venda de um contrato de boi gordo, mercado futuro e a utilização de hedge pelos pecuaristas.

Confira a entrevista:


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- Como está a liquidez do mercado atualmente?

Leandro Bovo - A liquidez não está muito boa. Para efeitos de comparação, acompanhe na tabela abaixo o numero de contratos em aberto em 2013 e 2014, na mesma data: 

Se compararmos com o ano em que tivemos o maior volume negociado até agora, que foi em 2008, a comparação fica ainda mais desfavorável:

Atualmente, além de termos um menor volume nos contratos mais próximos, temos ainda menos volume nos contratos mais longos, o que acaba dificultando a situação para quem buscar proteção de preços para prazos mais longos. A boa notícia é que a situação já esteve pior e apesar de o volume negociado ser bem inferior ao que já tivemos no passado, pelo menos ele tem se mantido em níveis razoáveis e não tem diminuído mais. Além disso, temos o mercado de opções, que hoje tem muito mais liquidez do que tinha antes, mesmo na comparação com o ano de 2008.

Scot Consultoria - Qual é a margem de garantia para a venda de um contrato de boi gordo? Quais ações de garantia existentes?

Leandro Bovo - A margem de garantia, definida pela BM&F, é de R$ 1.400,00 por contrato para hedger e para especuladores é 20,0% maior. A bolsa classifica como hedger qualquer pessoa que tenha exposição comercial ao preço da mercadoria e, basta o envio de uma Nota Fiscal de venda de boi gordo, por exemplo, para que o produtor seja classificado como hedger e tenha o beneficio da margem menor. A Bolsa aceita ativos financeiros como margem de garantia, desde dinheiro, até CDB´s de bancos de primeira linha, ouro, ações de empresas que componham o Ibovespa, títulos públicos, carta de fiança, entre outros.

Scot Consultoria - Em linhas gerais, se o pecuarista vender no mercado futuro e o preço físico ceder, ele receberá a diferença da bolsa. Explique-nos melhor essa ferramenta.

Leandro Bovo - É importante ter a noção de que o que é negociado na bolsa é o preço do boi numa data futura e não o boi em si, de modo que não há envolvimento da mercadoria física nas transações. O que liquida os contratos futuros é a média do índice ESALQ à vista dos últimos cinco dias úteis do referido mês. Ou seja, o contrato de outubro está negociando na verdade a média das ultimas cinco cotações do índice ESALQ à vista do mês de outubro, e assim por diante. O índice ESALQ reflete a média de preços à vista de boi gordo negociada no estado de São Paulo. A partir do momento que o pecuarista vende no mercado futuro, toda vez que o preço do mercado futuro cair, ele recebe ajuste positivo e quanto o mercado sobe ele paga ajuste. Esse mecanismo vai ocorrendo todos os dias até a liquidação do contrato, quando os preços naturalmente convergirão para a média dos preços do mercado físico em São Paulo, assim o pecuarista vende os bois no mercado físico e se o preço de venda no mercado futuro foi acima desse valor, ele já vai ter recebido em sua conta os ajustes positivos, caso o preço de venda no mercado futuro tenha sido menor, ele já vai ter pago o ajuste no mercado futuro. Ou seja, a soma de físico mais futuro vai ser sempre 0, o que ele ganha de um lado ele paga do outro e vice versa, a única diferença é a administração do fluxo de caixa ao longo do período.

Scot Consultoria - A utilização de hedge pelos pecuaristas tem crescido? Se sim, o uso direto da bolsa tem aumentado, ou a compra a termo dos frigoríficos tem absorvido este aumento?

Leandro Bovo - O uso de hedge pelos pecuaristas tem aumentado, na medida em que a pecuária se tecnifica. Com o crescimento do confinamento e com maiores investimentos na atividade, a necessidade do uso de ferramentas de proteção de preço aumenta. Acredito que a maior parcela dos pecuaristas ainda faz suas negociações diretamente com o frigorífico no mercado a termo, principalmente pela facilidade com relação à garantia do diferencial de base. Nas negociações diretamente na BM&F, o crescimento tem sido grande no uso de opções de venda, ou o chamado seguro de preço mínimo, que pelas suas características e facilidades tem atraído muitos produtores.

Scot Consultoria - Qual é a expectativa para o mercado do boi gordo ao longo de 2015?

Leandro Bovo - 2015 será um ano muito desafiador para a pecuária, por vários motivos. O ambiente macroeconômico será muito tumultuado, com pressão constante da inflação, muita volatilidade no câmbio, expectativa de aumento de desemprego e crescimento baixo do PIB. Todos os setores da economia estão vendo esse cenário e se preparando pra ele, ajustando para baixo o seu nível de estoque. A pecuária está entrando 2015 com estoque em preços recordes, o que sempre gera uma certa apreensão, pois em caso de queda de preços, o risco de prejuízo é maior. A boa noticia é que a expectativa é de oferta bem ajustada e aumento da retenção de fêmeas pelos preços altos do bezerro, o que acaba limitando qualquer pressão baixista no mercado. A curva de preços futuros, embora ainda com pouca liquidez, tem indicado preços remuneradores para 2015, então, apesar do ambiente mais desafiador, 2015 vai ser um bom ano para a pecuária.


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