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Fernando Sampaio, da Abiec, explica venda de carne bovina para o mercado russo


Terça-feira, 12 de agosto de 2014 - 16h48

Entrevista publicada originalmente pelo sítio eletrônico Voz da Rússia.


O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil anunciou no início desta semana que a Rússia liberou mais de 50 frigoríficos brasileiros para exportação de carne, entre eles, Mataboi, Frigoestrela, Marfig e Agra, de carne bovina, e Cotriji, de carne suína. Estas empresas, portanto, já estão habilitados a exportar seus produtos para o mercado russo. Sobre esse assunto o jornalista Arnaldo Risemberg, da Voz da Rússia, conversou com o engenheiro agrônomo Fernando Sampaio, que é o diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec).


Voz da Rússia - Como os empresários brasileiros receberam a notícia da liberação, por parte da Rússia, da exportação desses produtos?


Fernando Sampaio - Para nós é bastante positivo. A indústria está fazendo um esforço muito grande para atender às normas da União Aduaneira que compreende, além da própria Rússia, a Bielorrússia e o Cazaquistão. É um esforço que tem sido feito ao longo dos últimos anos depois das visitas dos técnicos russos aqui no Brasil. As indústrias estão se adaptando, corrigindo os problemas que eventualmente foram encontrados. Isso é uma resposta positiva do trabalho que foi feito.


 


Voz da Rússia - A Rússia impôs restrições sobre as empresas brasileiras exportadoras de carne no dia 15 de julho de 2011, alegando que não atendiam aos padrões sanitários para consumo humano dos seus produtos. Neste momento, qual é o panorama? Quantas empresas exportadoras nós temos no Brasil para a Rússia e quantas estão exportando regularmente os seus produtos?


Fernando Sampaio - Falando de carne bovina, temos 59 plantas habilitadas para exportar à Rússia, mas neste momento, nós temos 31 exportando.


Voz da Rússia - Estas 59 incluem as que foram liberadas nesta semana?


Fernando Sampaio - Inclui. Na verdade, com este número de plantas, podemos perfeitamente atender à demanda do mercado russo.


Voz da Rússia - Qual a quantidade de carne brasileira exportada para a Rússia?


Fernando Sampaio - O número que temos agora, até a metade de 2014, foi de 143,0 mil toneladas. Tem sido muito bom o mercado russo, um mercado que se interessa muito pelo Brasil, um Estado que compra e que paga, um excelente cliente do Brasil. Temos se esforçado muito para atender as exigências sanitárias russas, tanto do lado privado, como do lado do governo.


Voz da Rússia - Foi bom o seu comentário sobre o assunto, porque ao anunciar a liberação, por parte da Rússia, o Ministro da Agricultura do Brasil, Neri Geller, afirmou que a Rússia apresenta exigências rigorosas em relação aos produtos alimentícios que entram no seu mercado e, para manter o diálogo, o Brasil deve fazer esforços para corresponder aos dogmas russos. Como os empresários brasileiros se adaptaram para atender as exigências russas?


Fernando Sampaio - Isso é natural. O cliente é quem manda. Na Rússia existem exigências que são ainda adicionais às de outros mercados, mais até que aquilo que o Brasil cumpre internamente. A Rússia possui preço atrativo, paga bem, então a gente tem que se esforçar para atender o que eles querem.


Voz da Rússia - E o que isso significa para as empresas representantes que tiveram que reprogramar os seus investimentos, adquirir equipamentos?


Fernando Sampaio - Na maior parte, são controles laboratoriais adicionais aos que são feitos, medicinais, de algumas substâncias, adaptações dentro das plantas, mas nada de que seja impeditivo em curso ou que seja muito restritivo.


Voz da Rússia - Um dos motivos das restrições por parte da Rússia, se não o único motivo, foi o uso da substância ractopamina utilizada pelos pecuaristas para engordar o gado. Esta substância não é mais encontrada no gado brasileiro exportado para a Rússia?


Fernando Sampaio - No Brasil, esta substância já era proibida para bovinos, e não é adotada. Mas mesmo assim, o controle é feito nas plantas frigoríficas, onde os lotes que vão para a Rússia são analisados para garantir realmente que essa exigência seja atendida.


Voz da Rússia - A ractopamina está proibida no Brasil há quanto tempo?


Fernando Sampaio - Para carne bovina, ela sempre esteve proibida. Houve uma tentativa de liberação, mas isso foi brecado justamente pela importância que a Rússia tem como mercado, assim como os outros mercados que não aceitam o uso deste promotor de crescimento.


Voz da Rússia - A Rússia identificou essa substância em 2011 e impôs as restrições. Se ela está proibida, como se explica o fato de ser encontrada naquele país?


Fernando Sampaio - Temos que esclarecer: para os suínos, ela é usada. Para os suínos, o Brasil usa a ractopamina há muito tempo. Isso faz segregar a produção. Os mercados que não aceitam, tem uma produção separada. No bovino, não. Houve uma iniciativa de liberar esse produto também para os bovinos, mas, como eu falei, essa decisão foi suspensa. Então, não existe o uso de ractopamina em bovinos no Brasil.


Voz da Rússia - Procedem as alegações de que a ractopamina é cancerígena?


Fernando Sampaio - Não. O próprio Codex Alimentarius, o organismo internacional que trata de medicamentos, estabelece o limite que considera seguro da ractopamina. Mas é controverso. Mesmo a decisão do Codex foi muito apertada. Se há países que não aceitam o uso, como é o caso da Rússia, há razões para proteger os seus consumidores. É preciso respeitar isso.


Voz da Rússia - A Rússia continua sendo o segundo maior importador de carne brasileira?


Fernando Sampaio - Sim. Para a Rússia, no primeiro semestre deste ano, nós mandamos mais de 143,0 mil toneladas. E o primeiro importador continua sendo Hong Kong, que cresceu muito nos últimos anos pela demanda asiática, principalmente da China.


Voz da Rússia - Qual a quantidade de carne brasileira que Hong Kong compra?


Fernando Sampaio - Hong Kong comprou 190,0 mil toneladas.


Voz da Rússia - Quase 50,0 mil toneladas a mais que a Rússia. E o terceiro comprador, quem é?


Fernando Sampaio - No primeiro semestre deste ano, a Venezuela, e depois, a União Europeia.


Voz da Rússia - Nós lembramos que a União Europeia e os Estados Unidos têm impostos um número muito grande de sanções à Rússia alegando questões políticas relacionadas à Ucrânia. Estas sanções abrem perspectivas para o Brasil e para o mercado sul-americano?


Fernando Sampaio - Nós acreditamos que o Brasil tem demonstrado uma proximidade diplomática grande com a Rússia. Houve recentemente a visita do Presidente Putin ao Brasil, a reunião da cúpula do BRICS, a decisão de criar um Banco de Investimentos conjunto entre os países do BRICS. Essa aproximação tende a beneficiar os negócios de ambos, tanto da Rússia para o Brasil, como do Brasil para a Rússia. No nosso setor, onde a Rússia tem uma importância muito grande, acreditamos em benefícios bilaterais.



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