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Scot Consultoria

Alcides Torres comenta o mercado do boi gordo e os aspectos que afetam a produção pecuária


Quarta-feira, 2 de janeiro de 2013 - 16h58

Alcides Torres é engenheiro agrônomo formado pela ESALQ/USP, consultor de mercado e diretor da Scot Consultoria.


Entrevista com Alcides Torres


Scot Consultoria: Como o senhor avalia o mercado do boi gordo em 2012 e quais as principais tendências para 2013?


Alcides Torres: O mercado do boi gordo em 2012 frustrou a expectativa de grande parte dos pecuaristas, pois ainda acreditava-se em preços elevados, atraentes. Isso não aconteceu e pior, em função do aumento dos custos de produção, a margem de lucro ficou mais estreita. Não foi um ano ruim para quem produz em pasto, mas também não foi exuberante.


Para os confinadores a situação foi pior. Assistimos, em função da perda de margens, a retração da quantidade de bovinos confinados e, se o cenário for o mesmo em 2013, a quantidade de bovinos confinados ficará restrita aos confinamentos dos frigoríficos e aos confinamentos estratégicos. Certamente não haverá expansão. Com relação às boiadas de pasto, mantidas as condições de temperatura e pressão do mercado, o abate de matrizes deverá continuar elevado e a oferta, em função disso, mais do que suficiente para atender às demandas doméstica e internacional.


Scot Consultoria: Neste ano, o preço dos grãos elevou o custo do confinador. Quais são as principais tendências para 2013?


Alcides Torres: Uma vez que os estoques de grãos globais estão baixos a expectativa é de que os preços dos alimentos consumidos pelos bovinos confinados continuem nos patamares atuais. Se acontecer qualquer dissabor climático, o bicho pega. Os preços sobem e certamente afetarão a intenção dos pecuaristas em confinar. Com o cenário atual a expectativa otimista é de estabilidade do rebanho confinado em 2013. E olhe lá!


 


Scot Consultoria: Qual a sua opinião sobre a diferença entre as margens de comercialização do mercado atacadista e do varejista?


Alcides Torres: A minha opinião é que isso é o mercado quem dita, se bem que existe nessa questão um desequilíbrio perverso de forças. O mercado varejista tem um poder enorme sobre seus fornecedores e exerce esse poder. A margem de comercialização existente entre o que recebe o mercado atacadista e o que paga o consumidor final é um escândalo.


 


Scot Consultoria: A concentração de frigoríficos em algumas praças é evidente. O senhor acredita que este movimento de concentração é uma tendência? Quais os efeitos da concentração de compradores para o pecuarista?


Alcides Torres: A concentração é uma tendência e se a produção não se organizar, o que ouviremos, em breve, serão apenas lamentações e manifestações de desesperança. Essa tendência natural de concentração também tem sido estimulada pelo Estado, o que vem agravar o quadro do setor e mesmo distorcê-lo.


A pecuária brasileira, que era um negócio cujas características eram de concorrência perfeita e grande quantidade de compradores e de vendedores, está mudando, e para pior, sob o ponto de vista do pecuarista.


 


Scot Consultoria: Para o pecuarista, quais serão as implicações do novo Código Florestal?


Alcides Torres: As implicações são várias, entre elas o aumento do custo de produção, que resume tudo. Praticamente está proibida a expansão agrícola no Brasil em cima de terras jovens e com fertilidade natural. Crescimento de produção somente através da incorporação de tecnologia e do aumento da produtividade.


Para gerir as ferramentas que permitem melhorar o desempenho produtivo, somente com a implantação de uma gestão racional. Não será suficiente apenas melhorar a produtividade, serão necessários saltos em produtividade. Quem não entendeu isso ficará pelo caminho. A bronca, em relação ao Código Florestal, está na conta que querem impor ao produtor rural, que é muito grande.


 


Scot Consultoria: Quais medidas devem ser tomadas para diminuir os estigmas negativos (mão de obra escrava e o desmatamento, por exemplo) que acompanham a cadeia bovina brasileira?


Alcides Torres: Penso que o setor está desassistido e precisa de representação profissional no Congresso Nacional.  Precisa-se de gente competente para que bobagens não sejam impostas ao setor. Precisa-se de união nacional. Existem boas uniões regionais, mas cujas ações não têm repercussão nacional.


É preciso dizer o que o campo faz e como faz. Para isso é preciso dinheiro, organização e gestão. As tentativas, nesse sentido, que assistimos nos últimos anos, foram esporádicas e intermitentes, sem efeito duradouro e sem atingir o objetivo traçado, que era dizer para o público leigo o que é meio rural brasileiro. Nesse sentido estamos em um mato sem cachorro. 



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