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Scot Consultoria

Ciro Siqueira


Segunda-feira, 2 de janeiro de 2012 - 10h09

Amazônida, engenheiro agrônomo geomensor, pós-graduado em gestão econômica do meio ambiente e geoprocessamento. Scot Consultoria: Para iniciarmos, conte-nos brevemente sobre sua história no envolvimento, como um amazônida, com as questões relacionadas a preservação ambiental em harmonia com a produção agrícola. Ciro Siqueira: Sou um amazônida, formado em agronomia na Universidade Federal Rural da Amazônia no último dia de 1999. Meu primeiro trabalho como engenheiro agrônomo foi planejar e implantar projetos de intensificação de pecuária no Pará. Eu fazia, uma década atrás, o que apenas hoje se reconhece com fundamental para o fim do desmatamento: a intensificação da atividade pecuária. Meu trabalho era transformar fazendas com taxas de lotação abaixo de uma unidade animal por hectare por ano em fazendas com taxas acima de duas U.A./ha/ano. Fiz isso em várias fazendas em diversas partes do Pará. Por mais incrível que possa parecer fui impedido de continuar esse trabalho de intensificação porque as pressões do movimento ambiental brasileiro forçaram o governo a interromper o financiamento público para imóveis rurais na Amazônia que não estivessem adequados a legislação ambiental. Como quase nenhum imóvel, não apenas na Amazônia, mas no Brasil, atendia a essa exigência, não tínhamos mais como financiar os projetos de intensificação e fomos impedidos pelo ambientalismo de continuar o trabalho de intensificação tecnológica de fazendas de pecuária no Pará. Desempregado, fui fazer pós-graduação em economia ambiental e dirigi, nesse momento, esforços para entender o Código Florestal e seus mecanismos de preservação de florestas dentro de imóveis rurais privados. Depois do mestrado fui contratado por uma grande multinacional que atua no Pará para trabalhar em um grande projeto de reflorestamento. O que me motivou a aceitar o trabalho foi a possibilidade de esmerilhar mais uma vez as incoerências do ambientalismo que se pratica no Brasil e que eu reputo fundamentalista. O mote do projeto de reflorestamento da multinacional era arrendar fazendas de pecuária extensiva e substituir essa atividade por reflorestamento. O preço do arrendamento era calibrado para que arrendássemos apenas fazendas de pecuária pouco produtiva exatamente porque a intenção era manter a pecuária em fazendas eficientes e substituir a pecuária por reflorestamento em fazendas pouco eficientes. O engraçado disso tudo é que o projeto da multinacional só saiu do papel porque a empresa deu um “jeitinho” junto ao governo do estado para burlar o Código Florestal vigente, esse que as ONGs idolatram. O Código Florestal vigente exige 80% de Reserva Legal nas propriedades da Amazônia, mas nós trabalhávamos, por condescendência de uma legislação estadual, considerando apenas 50% de Reserva Legal. Sem essa “benesse” o projeto de reflorestamento talvez jamais tivesse saído do papel. Veja você que a forma histérica e fundamentalista com a qual o ambientalismo aborda a questão amazônica termina por tolher até as alternativas sustentáveis de uso da terra como a intensificação da pecuária e o reflorestamento. Scot Consultoria: Na sua opinião, o que representará para o setor produtivo e para o meio ambiente uma possível aprovação da reforma do Código Florestal Brasileiro? E pensando o inverso, o que poderá acarretar a não aprovação? Ciro Siqueira: O texto que está sendo aprovado no Congresso, embora traga ganhos ao setor rural, continua sendo um texto muito ruim. O produtor rural brasileiro continuará tendo que bancar uma Reserva Legal privada e continuará com exigências ligadas à preservação de Áreas de Preservação Permanente completamente sob seu ônus. O Código Florestal reformado, assim com o anterior, continua transferindo para o produtor rural o custo da preservação ambiental. Os ganhos do setor produtivo com o novo texto estão ligados à redução da insegurança jurídica do texto anterior, ao fim do absurdo da retroatividade da lei, à possibilidade de compensação do passivo de Reserva Legal fora do imóvel e a alguns benefícios oferecidos a pequenos imóveis de até 4 módulos rurais. Ou seja, foram ganhos pequenos. Na minha leitura o maior ganho da reforma do Código Florestal da forma como ela está acontecendo, por maioria incontestável de votos em todas as comissões pelas quais passou, é deixar evidente que o ambientalismo nacional estava errado. O movimento ambiental passou os últimos 40 anos afirmando que o Código Florestal era “uma das melhores leis ambientais do mundo”, não obstante, hoje se sabe, a lei era péssima. O setor produtivo rural tem, a partir deste exemplo, a oportunidade de mostrar à sociedade brasileira que o ambientalismo de gente como João Paulo Capobianco, Paulo Adário, Mario Mantovani, Tasso Azevedo, Fabio Feldmann, Marina Silva, Carlos Minc, Sarney Filho e outros, é um ambientalismo equivocado, radical, que busca a preservação a qualquer custo sem se importar ou mensurar as consequências dessa busca. A reforma do Código Florestal, da forma como está ocorrendo, nos oferece a oportunidade de questionar a legitimidade do movimento ambiental. Nós não precisamos apenas de novas formas de produção mais sustentáveis, que olhem para o lado ambiental do tripé da sustentabilidade, nós precisamos também de novas formas de ambientalismo mais sustentáveis, que olhem também para o lado social e econômico do tripé da sustentabilidade. Pode parecer estranho o que vou dizer, mas o Brasil precisa de uma agropecuária mais sustentável, mas também de um ambientalismo mais sustentável. Scot Consultoria: O agronegócio brasileiro é sustentável? Ciro Siqueira: Essa é uma pergunta difícil porque o conceito de sustentabilidade é relativo e há um grande complicador: nós fomos doutrinados a confundir agricultura sustentável com agricultura que preserva floresta. Isso, na minha leitura, é uma confusão tola. Veja você que pela nossa lei, um pecuarista que crie 5 U.A./ha/ano com altas taxas de desfrute e não tenha Reserva Legal é um criminoso, enquanto criar 0,5 U.A./ha/ano com baixas taxas de desfrute, mas com Reserva Legal não é crime. Isso, para mim, é um absurdo. Na minha opinião, desde que o Estado tivesse unidades de conservação públicas que garantissem o equilíbrio ecossistêmico dos grandes biomas, o sustentável em termos de agricultura era exatamente o oposto. Uma fazenda de 5 U.A./ha/ano sem Reserva Legal é muito mais sustentável do que uma fazenda de 0,5 U.A./ha/ano com Reserva Legal, desde que o Estado garanta a preservação florestal em unidades de conservação públicas. A discussão da sustentabilidade do agronegócio brasileiro não está relacionada aos sistemas de produção agrícola, às tecnologias e métodos de produção, mas à imposição de fragmentos florestais junto às áreas agrícolas, quaisquer que sejam as tecnologias ou métodos empregados. Eu entendo que isso é um erro, mas sou obrigado a conviver com ele porque o debate sequer tangencia essas questões. Scot Consultoria: A que você atribui as críticas que o agronegócio brasileiro vem sofrendo, no que diz respeito a sustentabilidade, mesmo com os índices de desmatamento reduzindo ano a ano acima dos índices encontrados em países desenvolvidos? Ciro Siqueira: Ao arcaísmo do ambientalismo que se pratica no Brasil. Nosso ambientalistas são velhos e gordos e têm cérebros velhos e gordos. Eles vêm de um tempo onde o ambientalismo precisava gritar porque não tinha assento nas mesas onde as decisões eram tomadas. Hoje eles têm assento, mas não sabem o que fazer com ele. Continuam gritando, se amarrando em árvore, jogando bote na frente de baleeiro como fazia o Greenpeace no início. Há ainda a questão do financiamento das ONGs. Cultivar a imagem de produtores rurais do mal destruindo o meio ambiente, é uma forma eficiente que as ONGs encontraram de arranjar dinheiro do exterior. É um problema que o setor rural precisa aprender a combater. Scot Consultoria: Você acredita que a reforma no Código Florestal Brasileiro representa, como vem sendo dito, anistia a crimes ambientais e favorecimento a uma ação que todos são contrários – setor produtivo e ambientalistas -, o desmatamento? Ciro Siqueira: De forma alguma. O movimento ambiental se aproveita de uma grande confusão entre a reforma do Código Florestal e a expansão da fronteira agrícola. A grande motivação para a reforma do Código Florestal é a regularização das imóveis do Brasil não amazônico onde está a maior parte da nossa agricultura e pecuária. A reforma do Código Florestal trata do desmatamento pretérito, já acontecido, não trata de desmatamento futuro.
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