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Scot Consultoria

Dr. Raul José da Silva Girio


Quinta-feira, 1 de setembro de 2011 - 11h52

Reitor e Professor Titular do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Reprodução Animal da Universidade Estadual Paulista - UNESP Jaboticabal. Scot Consultoria: Há relatos de transmissão de leptospirose através do manejo de gado bovino em regiões de pecuária onde é comum o fenômeno de enchentes, tais como as que acontecem no pantanal? Dr. Raul Gírio: A principal via de eliminação das leptospiras nos bovinos é por meio da urina de animais portadores renais. A transmissão nesta espécie se dá no pasto e em lugares úmidos, pois a penetração do agente acontece pela pele íntegra umedecida ou lesada. Outra possibilidade conhecida é por meio da ingestão de água contaminada por leptospiras, cuja penetração pode ser por micro ferimentos ou ferimentos na mucosa bucal dos bovinos. A associação de urina contaminada e água e/ou solo durante as chuvas são possibilidades fortes de ocorrência da leptospirose em larga escala em rebanhos bovinos, principalmente nos de produção de leite. Assim sendo, relatos de ocorrência de abortos e ou alta incidência de animais reagentes contra as leptospiras em regiões do pantanal são pouco conhecidas pela literatura, mas há grandes possibilidades de acontecer. Scot Consultoria: Existem estudos a respeito da dispersão de leptospirose em animais confinados com alto concentrado ou volumoso, uma vez que uma dieta rica em carboidratos tende a diminuir o PH urinário e, por consequência, a viabilidade das espiroquetas? Dr. Raul Gírio: A questão do pH urinário é conhecida mundialmente para a sobrevivência das leptospiras. Em pH alcalino a sobrevivência e manutenção é de longo tempo, principalmente em pH entre 7,2 e 7,4. Quando o pH é ácido, o tempo de sobrevivência das leptospiras é muito curto, principalmente em torno de 3. O isolamento e a manutenção da leptospiras deve ser em pH alcalino, o pH ideal de manutenção é de 7,3. De uma maneira geral o pH inferior a 6 e superior a 8, são considerados inibidores. Não vejo a importância da infecção por leptospiras em animais confinados, pois os animais não têm função reprodutiva a não ser que esteja ocorrendo perda de peso nestes animais, isso pode ocorrer remotamente, em casos de leptospirose crônica sem quadro clínico. Scot Consultoria: Qual a importância da leptospirose bovina como zoonose? Dr. Raul Gírio: A leptospirose, importante zoonose de distribuição mundial não apresenta sinais patognomônicos e, portanto, seu diagnóstico clínico é difícil exigindo usualmente a confirmação laboratorial. No homem, a leptospirose pode ocorrer de forma esporádica ou em surtos epidêmicos. Em geral, os surtos se produzem por exposição a águas contaminadas pela urina de animais infectados. Vários grupos ocupacionais são especialmente expostos, tais como trabalhadores de arrozais, canaviais, minas, matadouros, tratadores de animais e médicos veterinários. Especificamente na leptospirose bovina, os médicos veterinários podem ser infectados por meio de contato com fetos abortados, placenta e/ou liquido placentário, com a urina e em partos distócicos. Scot Consultoria: Qual o impacto, em termos econômicos, que essa doença pode causar no rebanho? Dr. Raul Gírio: Embora o índice de mortalidade seja baixo, em torno de 5%, a morbidade é alta e pode atingir 100% dos bovinos, isso quando o contato entre os animais é próximo. Exemplo disso é em rebanhos de produção leiteira. Em bezerros leiteiros o índice de mortalidade é maior do que em bovinos adultos. Os abortamentos podem atingir até 40% e a queda na produção leiteira pode variar entre 30% e 35%, constituem as principais perdas, mas as mortes nos bezerros também podem ser significantes. Na leptospirose em vacas de corte pode ocorrer falência na produção de leite o que pode ocasionar mortes significativas de bezerros. A infecção de bovinos por leptospiras podem levar além dos abortamentos, mortalidade neonatal, nascimentos prematuros e de crias fracas e de natimortos. Scot Consultoria: Seria possível demonstrar a relação entre o custo médio para a prevenção dessa doença e o prejuízo que ela poderia acarretar ao produtor? Dr. Raul Gírio: No Brasil, a leptospirose bovina está amplamente difundida que acarreta elevados prejuízos econômicos para a pecuária nacional. Os prejuízos econômicos causados pela infecção não são bem definidos em nosso País, mas nos Estados Unidos da América, as perdas animais na espécie bovina, decorrentes da leptospirose, já foram estimadas em aproximadamente 112 milhões de dólares, dos quais 93 milhões referentes às perdas em animais e 19 milhões em decorrência da produção leiteira. A prevenção pode ser realizada com vacinas comerciais, que podem reduzir a ocorrência de infecção e de problemas reprodutivos, mas não elimina as leptospiras dos rins. As vacinas brasileiras são relativamente baratas e o custo benefício pode ser alto dependendo da composição da vacina e do fabricante. Scot Consultoria: A aplicação desse tipo de tecnologia sanitária no rebanho é crescente? O pecuarista atual está mais consciente da importância desse tipo de prevenção? Dr. Raul Gírio: Sim, a vacinação como medida de prevenção é utilizada pelos produtores rurais, principalmente aqueles que foram instruídos tecnicamente sobre a doença. A vacinação é mais utilizada em rebanhos de menor número de animais do que em rebanhos de grande número de animais. Nos últimos dez anos, que houve uma evolução sobre a conscientização da leptospirose como doença que pode causar grandes prejuízos econômicos ao pecuarista. Essa contribuição está associada com a alta tecnologia empregada na melhoria genética dos rebanhos brasileiros.
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