Professor Titular do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Reprodução Animal da Universidade Estadual Paulista – Unesp, campus de Jaboticabal.
Scot Consultoria: De que modo a IBR e a BVD atuam prejudicialmente na reprodução bovina? É possível estabelecer o tamanho do prejuízo causado à pecuária brasileira por estas doenças?
Dr. Samir: O prejuízo na reprodução é muito mais grave quando da primo infecção, ou seja, animais não infectados que pela primeira vez tem contato com os vírus, tanto da IBR como da BVD. Como o rebanho nacional tem prevalências que variam de 2% até 57% ou mais, fica difícil estabelecer o prejuízo de forma geral de qualquer enfermidade passível de atuação em focos restritos normalmente em uma propriedade.
Scot Consultoria: Aparentemente a preocupação com doenças relacionadas ao IBR e ao BVD é de pecuaristas que exploram a pecuária leiteira. Por que os produtores de gado de corte não se preocupam com o IBR e o BVD?
Dr. Samir: Tanto a IBR como a BVD determinam doenças prioritariamente relacionadas a esfera reprodutiva tanto no gado de corte como de leite.
Provavelmente, pelo manejo extensivo com falta de contabilização das falhas reprodutivas, essas enfermidades ficam camufladas em rebanhos que não são observados e monitorados de forma mais rotineira.
Scot Consultoria: Existem estatísticas sobre a participação da IBR e BVD nos casos de abortos em bovinos?
Dr. Samir: A participação da IBR e BVD nos casos de aborto está bastante relacionada com falhas de manejo sanitário, principalmente na compra de animais, normalmente com origem desconhecida, que são misturados com os sadios da fazenda do destino.
Teoricamente estão definidas taxas, não só de aborto, mas também de infertilidade, que atinge em média 25% das vacas em estágio de reprodução.
Scot Consultoria: Os relatos de prejuízos em relação à IBR e BVD normalmente são definidos pelas perdas reprodutivas. Em termos de perda de peso ou diminuição no desempenho de engorda, existem estudos?
Dr. Samir: A infecção viral mais evidente economicamente ocorre em fêmeas por causa das perdas reprodutivas. Então as primíparas, ou seja, aquelas que estão iniciando a atividade reprodutiva são as mais afetadas.
Nas outras manifestações, em até 90% dos casos, são formas brandas ou inaparentes, mas que podem atrasar o crescimento ou desenvolvimento de bezerros, novilhas e garrotes. No desempenho da engorda vale os cuidados sanitários gerais e conhecer a procedência dos animais.
Scot Consultoria: O estresse é um importante desencadeador de sintomas da IBR. Existem estatísticas sobre a entrada dos animais em confinamento e o aparecimento de sintomas?
Dr. Samir: O estresse desencadeia não só os sintomas de IBR nos animais portadores latentes, mas muitos outros problemas.
O manejo com respeito às boas práticas sanitárias previne 80% das enfermidades infecciosas, que normalmente são agravadas pela associação com outras formas de injúrias.
Scot Consultoria: Qual o impacto, em termos econômicos, que essa doença pode causar no rebanho? Seria possível demonstrar a relação entre o custo médio para a prevenção dessa doença e o prejuízo que ela poderia acarretar ao produtor? A aplicação desse tipo de tecnologia sanitária no rebanho é crescente? O pecuarista atual está mais consciente da importância desse tipo de prevenção?
Dr. Samir: Nestes questionamentos gerais, taxas de até 3% são aceitáveis do ponto de vista econômico dentro da atividade pecuária.
No caso específico de IBR e BVD, dificilmente vai se conseguir erradicar essas enfermidades. Então, o uso da vacinação é uma ferramenta que ameniza momentaneamente o problema, mas não previne a circulação viral. Portanto, as exigências com boas práticas de criação é que devem direcionar toda atividade preventiva dessas e muitas outras doenças.
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