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Scot Consultoria

Fabiano R. Tito Rosa - Minerva S.A


Quarta-feira, 1 de dezembro de 2010 - 08h36

Zootecnista pela Universidade Estadual Paulista e mestre em engenharia de produção pela Universidade Federal de São Carlos. Atualmente é gerente executivo de pesquisa de mercado - Minerva S.A. Scot Consultoria: A redução significativa na oferta de animais terminados, com consequente alta nos preços da arroba, que atingiu cotações recordes, já era esperada pela indústria? Fabiano Tito Rosa: O desafio de oferta para a indústria este ano era claro, principalmente pela continuidade do movimento de retenção de matrizes. E conforme a queda no volume de animais confinados ia se tornando um fato, as perspectivas de valorização da arroba se reforçavam, ainda mais num ano de La Niña (afetando negativamente a produção a pasto) e de demanda aquecida. De toda forma, pode-se se dizer que a intensidade do movimento realmente surpreendeu, ou seja, a possibilidade do boi ultrapassar os R$100/@ não era colocada à mesa até o início do segundo semestre. Scot Consultoria: Na sua opinião, até quando vai esse cenário de oferta restrita? Fabiano Tito Rosa: Com o atraso das chuvas e forte redução no número de animais terminados em confinamento, a oferta tende a se manter em níveis relativamente baixos pelo menos até o final deste ano. De toda forma, a indústria ajustou suas estratégias a esse cenário, mesmo porque a demanda tende a diminuir (exportações em queda e consumo doméstico concentrado nos cortes de traseiro). Analisando a questão de forma “macro”, o desafio de oferta só irá cessar realmente quando tiver início o movimento de descarte de matrizes, em linha com o comportamento do ciclo pecuário. Para tanto, é necessário que a margem da cria siga em retração. Acertar o exato momento da virada do ciclo pecuário é difícil, mas vale lembrar que já são aproximadamente 4 anos de retenção de matrizes, ou seja, mais hora menos hora o aumento da oferta de bezerros irá afetar negativamente os preços da categoria e, consequentemente, as margens da atividade. Mediante descarte de matrizes e aumento da oferta de machos para abate, que nada mais são do que os bezerros gerados de 2007 pra cá chegando à terminação, a indústria voltará a trabalhar com custos mais encaixados. Scot Consultoria: Com o real valorizado, a arroba do boi gordo brasileiro acumulou alta expressiva em dólares, assim como a carne brasileira. Sem a perspectiva de desvalorização do real no próximo ano, acredita que as exportações brasileiras de carne bovina possam sofrer uma queda? E a crise na zona do euro, qual o real impacto sobre as exportações nacionais? Fabiano Tito Rosa: É fato que a carne brasileira está perdendo vantagem competitiva em termos de preço. Quando o Brasil entrar na fase de baixa do ciclo pecuário (e quem sabe até se o câmbio ajudar um pouco), parte dessa competitividade tende a ser recuperada, mas nós enxergamos que no longo prazo – mediante dificuldades de expansão da produção, valorização da terra, crescimento do mercado doméstico, etc. – o preço da carne brasileira tende mesmo a se manter mais próximo do de seus concorrentes. O mercado mundial está se “arbitrando”. Por outro lado, vale considerar que boa parte desses concorrentes enfrentam dificuldades de expansão da produção. Alguns, inclusive, tendem a produzir cada vez menos, em função de custos elevados, redução de subsídios, problemas climáticos severos, etc. Isso significa que as exportações brasileiras seguirão avançando, contando com a nossa capacidade de expansão e de adaptação às demandas do mercado. Especificamente no caso da crise na Europa, o impacto não é tão alto em função do aumento da carteira de clientes. Rússia, Oriente Médio, Chile, Venezuela, Hong Kong/China, Norte da África... hoje são todos grandes compradores da carne bovina brasileira. Scot Consultoria: Normalmente a carne bovina apresenta alta de preços em dezembro, em função de um aumento sazonal de consumo. Em 2010 a carne atingiu preços nunca antes visto. Acredita que mesmo assim tem espaço para novas altas no último mês do ano? Fabiano Tito Rosa: Essa alta de final de ano é normalmente registrada para os cortes de traseiro, cujo consumo aumenta nesse período. O dianteiro, bastante dependente das exportações, sofre com a tradicional redução dos embarques em dezembro. Este ano não será diferente, sendo que o fato dos preços já estarem bem esticados realmente tende a limitar novos aumentos, mesmo para os cortes mais nobres. Scot Consultoria: Para finalizar, como você vê as intensas críticas que a pecuária nacional vem sofrendo com relação as questões ambientais? Fabiano Tito Rosa: Normalmente elas não fazem jus à realidade, e aí a cadeia produtiva sofre com o fato de não haver um trabalho coordenado de informação e defesa de imagem. O fato é que a pecuária brasileira vem se expandindo principalmente através do aumento de produtividade, contribuindo para a redução do desmatamento, cedendo espaço para o avanço da agricultura, abatendo animais cada vez mais jovens e, portanto, emitindo menos gases de efeito estufa por quilo de carne produzida. Isso é sustentabilidade, um caminho sem volta.
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