Confina Brasil apontou que, em 2025, 95,5% dos confinamentos realizam a coleta dos desejos.
Foto: Bela Magrela
O desejo da operação de produção animal é um grande desafio ambiental. Na avicultura e na suinocultura, seu aproveitamento tornou-se recorrente nas últimas décadas.
Na pecuária de corte brasileira, 90,0% da produção ocorre em pastagem e, o aproveitamento dos desejos ocorre diretamente no próprio sistema produtivo (forrageira).
Em confinamentos, a destinação do dejeto é um problema e torna-se um passivo ambiental. Mas, esse quadro tem mudado.
Segundo o Benchmarking do Confina Brasil, pesquisa-expedicionária da Scot Consultoria, em 2025, 95,5% das propriedades realizaram a coleta dos dejetos, enquanto 4,5% ainda não adotam a prática.
Das propriedades mapeadas pelo projeto em 2025, 86,2% delas contam com algum tipo de sistema de drenagem estratégico nos currais de engorda, fundamentais para controlar a umidade, reduzir o acúmulo de lama e manter o conforto dos bovinos.
Essa eficiência operacional é o primeiro passo de um processo maior: o reaproveitamento dos dejetos.
Das propriedades que realizam a coleta, 91,2% aproveitam os dejetos dentro ou fora da fazenda (figura 1).
Figura 1.
Porcentagem das propriedades que realizam a coleta e aproveitamento dos dejetos.
Fonte: Confina Brasil 2025, Scot Consultoria.
Os confinamentos aproveitam a fração sólida (utilizada por 98,7% das propriedades que reciclam os dejetos) e a fração líquida (36,1%) – figura 2.
Figura 2.
Proporção do uso de dejetos líquidos e sólidos (%).
Fonte: Confina Brasil 2025, Scot Consultoria.
A destinação comum é a aplicação em lavouras (78,7%), seguida pelo uso em pastagem (63,9%). Além disso, 13,5% das propriedades comercializam o excedente, demonstrando o potencial econômico desse coproduto – figura 3.
Figura 3.
Destinos principais dos dejetos coletados dentro das propriedades (todos os tipos).
Fonte: Confina Brasil 2025, Scot Consultoria.
O uso agrícola predomina entre quem usa os dejetos na fazenda – seja via sólida ou líquida (figura 4). Essa circularidade ganha relevância na pecuária de corte moderna que, em grande parte, está integrada à agricultura.
Figura 4.
Destinação dos dejetos sólidos e líquidos nas propriedades que realizam o reaproveitamento.
Fonte: Confina Brasil/Elaborado por Scot Consultoria.
Nas produções agrícolas, o aporte de nutrientes do solo raramente é suficiente para atender à demanda das culturas, o que torna indispensável o uso de fertilizantes.
De acordo com a Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA), 94,3% dos fertilizantes utilizados pela agricultura no país entre janeiro e maio de 2025 foram importados. Entre janeiro e outubro de 2025, o país importou cerca de 38,3 milhões de toneladas de fertilizantes (Comex).
Essa dependência tem um custo para o produtor: a aquisição de fertilizantes representa de 20,0% a 30,0% do custo da produção dos principais grãos (Conab).
É aqui que surge um grande desafio do agronegócio brasileiro. Em 2025, o preço dos principais grupos de fertilizantes subiu na comparação anual. Veja na tabela 1.
Tabela 1.
Preços médios de fertilizantes no Brasil, em R$/tonelada, sem o frete.
| Fertilizantes | dez/25 | var (%) mês | var (%) anual |
|---|---|---|---|
| Sulfato de Amônio | 2.540,63 | 0,00% | 32,08% |
| Ureia | 3.900,04 | 0,67% | 27,87% |
| Nitrato de Amônio | 2.363,18 | 0,00% | 13,89% |
| Cloreto de Potássio pó | 3.051,39 | 0,00% | 25,58% |
| Cloreto de Potássio granulado | 2.850,75 | -0,05% | 18,29% |
| Super Simples Gr. | 2.176,78 | 1,61% | 1,22% |
| Super Simples Pó | 2.328,92 | 0,00% | 24,92% |
| Super Triplo | 2.883,33 | -14,25% | 10,92% |
| MAP granulado | 4.768,00 | 1,71% | 32,83% |
| DAP | 3.150,00 | 0,00% | -2,94% |
| 20-00-10 - pastagem | 2.129,28 | 0,00% | -2,22% |
| 20-00-20 - cobertura - grãos | 2.989,70 | -0,92% | 2,76% |
Fonte: Scot Consultoria
O aproveitamento dos dejetos reduz a exposição à volatilidade dos preços dos fertilizantes químicos e passa a ser uma estratégia de gestão de risco e de estabilidade econômica para o confinamento.
Uma estimativa feita pela Scot Consultoria em janeiro de 2025, com base em dados do Benchmarking do Confina Brasil 2024, projeta um mercado com potencial econômico de até R$350,0 milhões, considerando uma produção de 2,7 milhões de toneladas de esterco bovino anualmente em confinamentos.
O preço médio de venda do material bruto, à época, foi de R$130,00/t, e com a compostagem e enriquecimento, a cotação sobe para R$160,00/t.
Na prática, esses valores variam entre regiões, em função da oferta e demanda local e do nível de enriquecimento aplicado ao produto.
A faixa de preço pode ir de R$80,00/t a R$130,00/t para o esterco bruto, enquanto materiais compostados e enriquecidos podem oscilar entre R$100,00/t e R$200,00/t.
Quando há enriquecimento com fósforo, o valor agregado tende a ser ainda maior, ampliando o potencial de rentabilidade do insumo.
Além de reduzir o impacto ambiental e promover menor dependência de compras de fertilizantes inorgânicos, o uso dos dejetos pode ser uma renda extra para o pecuarista e aumentar a rentabilidade da operação.
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