• Segunda-feira, 29 de dezembro de 2025
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Scot Consultoria

Carta Insumos - Da bosta, ao lucro: dejetos bovinos nos confinamentos brasileiros

Confina Brasil apontou que, em 2025, 95,5% dos confinamentos realizam a coleta dos desejos.


Foto: Bela Magrela

Foto: Bela Magrela

O desejo da operação de produção animal é um grande desafio ambiental. Na avicultura e na suinocultura, seu aproveitamento tornou-se recorrente nas últimas décadas. 

Na pecuária de corte brasileira, 90,0% da produção ocorre em pastagem e, o aproveitamento dos desejos ocorre diretamente no próprio sistema produtivo (forrageira). 

Em confinamentos, a destinação do dejeto é um problema e torna-se um passivo ambiental. Mas, esse quadro tem mudado.

Segundo o Benchmarking do Confina Brasil, pesquisa-expedicionária da Scot Consultoria, em 2025, 95,5% das propriedades realizaram a coleta dos dejetos, enquanto 4,5% ainda não adotam a prática.

Das propriedades mapeadas pelo projeto em 2025, 86,2% delas contam com algum tipo de sistema de drenagem estratégico nos currais de engorda, fundamentais para controlar a umidade, reduzir o acúmulo de lama e manter o conforto dos bovinos.

Essa eficiência operacional é o primeiro passo de um processo maior: o reaproveitamento dos dejetos.

Das propriedades que realizam a coleta, 91,2% aproveitam os dejetos dentro ou fora da fazenda (figura 1).

Figura 1.
Porcentagem das propriedades que realizam a coleta e aproveitamento dos dejetos.

Fonte: Confina Brasil 2025, Scot Consultoria.

Os confinamentos aproveitam a fração sólida (utilizada por 98,7% das propriedades que reciclam os dejetos) e a fração líquida (36,1%) – figura 2.

Figura 2.
Proporção do uso de dejetos líquidos e sólidos (%).

Fonte: Confina Brasil 2025, Scot Consultoria.

A destinação comum é a aplicação em lavouras (78,7%), seguida pelo uso em pastagem (63,9%). Além disso, 13,5% das propriedades comercializam o excedente, demonstrando o potencial econômico desse coproduto – figura 3.

Figura 3.
Destinos principais dos dejetos coletados dentro das propriedades (todos os tipos).

Fonte: Confina Brasil 2025, Scot Consultoria.

O uso agrícola predomina entre quem usa os dejetos na fazenda – seja via sólida ou líquida (figura 4). Essa circularidade ganha relevância na pecuária de corte moderna que, em grande parte, está integrada à agricultura.

Figura 4.
Destinação dos dejetos sólidos e líquidos nas propriedades que realizam o reaproveitamento.

Fonte: Confina Brasil/Elaborado por Scot Consultoria.

Com o preço dos fertilizantes em alta, o que era problema, torna-se uma solução

Nas produções agrícolas, o aporte de nutrientes do solo raramente é suficiente para atender à demanda das culturas, o que torna indispensável o uso de fertilizantes.

De acordo com a Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA), 94,3% dos fertilizantes utilizados pela agricultura no país entre janeiro e maio de 2025 foram importados. Entre janeiro e outubro de 2025, o país importou cerca de 38,3 milhões de toneladas de fertilizantes (Comex).

Essa dependência tem um custo para o produtor: a aquisição de fertilizantes representa de 20,0% a 30,0% do custo da produção dos principais grãos (Conab).

É aqui que surge um grande desafio do agronegócio brasileiro. Em 2025, o preço dos principais grupos de fertilizantes subiu na comparação anual. Veja na tabela 1.

Tabela 1.
Preços médios de fertilizantes no Brasil, em R$/tonelada, sem o frete.

Fertilizantes dez/25 var (%) mês var (%) anual
Sulfato de Amônio 2.540,63 0,00% 32,08%
Ureia 3.900,04 0,67% 27,87%
Nitrato de Amônio 2.363,18 0,00% 13,89%
Cloreto de Potássio pó 3.051,39 0,00% 25,58%
Cloreto de Potássio granulado 2.850,75 -0,05% 18,29%
Super Simples Gr. 2.176,78 1,61% 1,22%
Super Simples Pó 2.328,92 0,00% 24,92%
Super Triplo 2.883,33 -14,25% 10,92%
MAP granulado 4.768,00 1,71% 32,83%
DAP 3.150,00 0,00% -2,94%
20-00-10 - pastagem 2.129,28 0,00% -2,22%
20-00-20 - cobertura - grãos 2.989,70 -0,92% 2,76%

FonteScot Consultoria

O aproveitamento dos dejetos reduz a exposição à volatilidade dos preços dos fertilizantes químicos e passa a ser uma estratégia de gestão de risco e de estabilidade econômica para o confinamento.

Uma estimativa feita pela Scot Consultoria em janeiro de 2025, com base em dados do Benchmarking do Confina Brasil 2024, projeta um mercado com potencial econômico de até R$350,0 milhões, considerando uma produção de 2,7 milhões de toneladas de esterco bovino anualmente em confinamentos.

O preço médio de venda do material bruto, à época, foi de R$130,00/t, e com a compostagem e enriquecimento, a cotação sobe para R$160,00/t.

Na prática, esses valores variam entre regiões, em função da oferta e demanda local e do nível de enriquecimento aplicado ao produto.

A faixa de preço pode ir de R$80,00/t a R$130,00/t para o esterco bruto, enquanto materiais compostados e enriquecidos podem oscilar entre R$100,00/t e R$200,00/t.

Quando há enriquecimento com fósforo, o valor agregado tende a ser ainda maior, ampliando o potencial de rentabilidade do insumo.

Além de reduzir o impacto ambiental e promover menor dependência de compras de fertilizantes inorgânicos, o uso dos dejetos pode ser uma renda extra para o pecuarista e aumentar a rentabilidade da operação.

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