Com a obrigatoriedade, a Defesa Agropecuária de São Paulo promoveu uma campanha para alertar os produtores sobre a importância de vacinar o rebanho.
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A brucelose é uma doença causada por bactérias do gênero Brucella sp., sendo a Brucella abortus a espécie mais comum em bovinos. Trata-se de uma enfermidade de notificação obrigatória, devido ao seu elevado potencial zoonótico, ou seja, de transmissão aos seres humanos, e aos expressivos impactos econômicos que pode causar, como mortes de animais e redução na produção de leite e carne.
A doença pode se apresentar de forma assintomática ou se manifestar tardiamente, o que dificulta o diagnóstico.
Nas fêmeas, os principais sinais clínicos incluem abortos no terço final da gestação, partos prematuros, morte de bezerros ao nascimento, além de corrimentos uterinos com elevada eliminação da bactéria etc. Nos machos, são observados problemas articulares e orquite. Em ambos os sexos, a infertilidade pode ocorrer.
A transmissão acontece principalmente pelo contato com bovinos infectados, pelas vias oral, aérea ou mucosas oculares. Hábitos como lamber e cheirar bezerros, facilitam a disseminação do agente.
Outras formas de infecção incluem a ingestão de água ou alimentos contaminados e de restos de placenta. Embora menos frequente, também pode ocorrer transmissão via inseminação artificial, nos casos de sêmen contaminado.
Além de afetar os bovinos, a brucelose é uma zoonose. O ser humano pode ser infectado por meio do contato direto com bovinos doentes, principalmente entre profissionais que atuam diretamente com eles, como médicos-veterinários, zootecnistas, tratadores e trabalhadores que atuam no abate. Segundo estudo de Bernardi et al. (2022), a maior parte dos casos avaliados ocorreu entre trabalhadores rurais.
A contaminação também pode ocorrer pelo consumo de produtos de origem animal crus ou não inspecionados, como carne, leite e outros produtos lácteos.
Diante da confirmação de um caso positivo, algumas medidas são obrigatórias. Considerando que não há tratamento curativo para a brucelose em bovinos, a ocorrência deve ser notificada em até 24 horas. O animal positivo deve ser imediatamente isolado dos demais e identificado com a marcação da letra “P” no lado direito da face. Em um prazo máximo de 30 dias, deve ser realizado o abate sanitário.
Para exemplificar, consideremos um caso isolado em uma propriedade no estado de São Paulo, envolvendo uma vaca que sofreu aborto ou perdeu o bezerro.
Supondo que essa fêmea tenha 14,4@ – peso médio de abate no segundo trimestre, segundo dados do IBGE – e que, futuramente, pudesse ser destinada ao abate, e considerando a cotação em 9/12, a vaca estava cotada em R$302,00/@, em preços brutos e a prazo. O bezerro de desmama (6,5@) estava cotado em R$442,93/@, enquanto a bezerra de desmama (6@) em R$346,67/@, segundo levantamento da Scot Consultoria.
Nesse cenário, a perda associada à cotação da vaca abatida seria de R$4.348,80. Além disso, o produtor deixaria de ganhar com a cria R$2.879,05 no caso de um bezerro macho de 6,5@ ou R$2.080,00 no caso de uma bezerra fêmea de 6@. Assim, ao somar a perda da matriz com o que deixou de ganhar com os bezerros, o prejuízo poderia variar entre R$6.428,80 e R$7.227,85, em um caso isolado na propriedade.
Destaca-se que esses valores representam apenas o impacto direto, pois, caso a vaca permanecesse no rebanho, com potencial para novas gestações, as perdas poderiam se acumular ao longo do tempo, ampliando o prejuízo para o produtor.
Por não haver cura, a prevenção é fundamental. Além de evitar a introdução de animais de outras propriedades sem o devido controle sanitário, a vacinação é a principal ferramenta preventiva. Com o objetivo de erradicar a brucelose e reduzir sua periculosidade sanitária e econômica, foi criado, em 2001, o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal (PNCEBT), que tornou a vacinação obrigatória.
Os estados promovem campanhas anuais de vacinação. Em São Paulo, a campanha realizada pela Defesa Agropecuária neste semestre teve início em 1 de julho e segue até 31 de dezembro. É importante destacar que apenas fêmeas bovinas devem ser vacinadas, entre três e oito meses de idade.
Existem duas vacinas disponíveis: B19 e RB51, ambas com a mesma eficácia. A RB51, no entanto, pode ser utilizada como alternativa para bezerras que já ultrapassaram a idade recomendada e não foram vacinadas. No estado de São Paulo, a identificação das fêmeas vacinadas é feita por meio de bottons, sendo amarelo para a B19 e azul para a RB51.
O custo médio da dose de 2ml da vacina B19 é de R$4,33, e o da dose da RB51 é de R$7,09, segundo levantamento da Scot Consultoria.
Diante disso, cabe a reflexão: qual “gasto” o produtor prefere assumir? Um investimento que varia de R$4,00 a R$7,00 por fêmea ou um prejuízo entre R$6,4 mil e R$7,2 mil.
Por isso o produtor deve ficar atento e não perder prazo.
Referencias:
DEFESA AGROPECUÁRIA DE SÃO PAULO. Brucelose: no segundo semestre, campanha de vacinação contra a doença vai até dia 31 de dezembro em todo o Estado. São Paulo, 2025. Disponível em: https://www.defesa.agricultura.sp.gov.br/noticias/2025/brucelose-no-segundo-semestre-campanha-de-vacinacao-contra-a-doenca-vai-ate-dia-31-de-dezembro-em-todo-o-estado,2366.html
DEFESA AGROPECUÁRIA DE SÃO PAULO. Cartilha informativa sobre Brucelose – doenças infectocontagiosas: brucelose. São Paulo: Defesa Agropecuária. Disponível em: https://www.defesa.agricultura.sp.gov.br/arquivos/educacao-sanitaria/cards/link_doencas_brucelose.pdf
DEFESA AGROPECUÁRIA DE SÃO PAULO. Programa Estadual de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal (PECEBT-SP). São Paulo, [ano da versão consultada]. Disponível em: https://www.defesa.agricultura.sp.gov.br/www/programas/?/sanidade-animal/programa-estadual-de-controle-e-erradicacao-da-brucelose-e-tuberculose-animal-pecebt-sp/&cod=59
POCKRANDT, Nicole; PRADO, Odilei Rogério. Revisão do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal. Biociências, Biotecnologia e Saúde, n. 15, maio-ago. 2016.
SCHUMACKER, Higor Wruck; MENEGUELLI, Mayra. Importância da vacinação de brucelose em bezerras de 3 a 8 meses. Research, Society and Development, v. 14, n. 5, 2025. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/48666
SILVA, Leonardo Santos da; FONSECA, Cláudio Wermwlinger da. Prevenção da brucelose em bovinos: um estudo acerca das boas práticas no Brasil. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação (REASE), São Paulo, v. 10, n. 11, nov. 2024. Disponível em: https://periodicorease.pro.br/rease/article/view/17130
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