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Carta Insumos - Nanotecnologia no Agro: o futuro da agricultura já é presente

Da liberação controlada à economia de insumos, os nanofertilizantes surgem como protagonistas na agricultura de alta precisão.


Foto: Freepik

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A nanotecnologia já não ocupa apenas o campo da ficção científica. A tecnologia consolidou-se como um eixo central da inovação agrícola contemporânea. No âmbito dos fertilizantes, sua incorporação inaugura uma etapa particularmente estratégica, ampliando a eficiência nutricional das plantas, reduzindo desperdícios e permitindo intervenções de alta precisão no sistema solo–planta. Trata-se de um avanço que altera a forma como pesquisadores e produtores compreendem a dinâmica nutricional, especialmente em um cenário que exige produtividade crescente, sustentabilidade e racionalização de insumos.

Nanopartículas (NPs): classificações e propriedades fundamentais

As nanopartículas são estruturas com dimensões entre 1 e 100 nanômetros (isto significa 1 metro divido por 1 bilhão), apresentam comportamento físico-químico singular, resultado da elevada área superficial, da reatividade iônica e da capacidade diferenciada de interação com tecidos vegetais. Essas propriedades tornam os nanofertilizantes mais eficientes que suas versões convencionais. De modo geral, eles se organizam em três grandes grupos: orgânicos, inorgânicos e à base de carbono.

As nanopartículas orgânicas, compostas por polímeros, nanogéis ou lipossomos, destacam-se pela biodegradabilidade e pela elevada compatibilidade biológica. São amplamente utilizadas como veículos de liberação controlada, encapsulando nutrientes ou defensivos que são liberados gradualmente nas raízes ou na parte aérea, conforme estímulos ambientais como umidade, pH ou atividade enzimática da própria planta.

As nanopartículas inorgânicas, formadas por metais, óxidos metálicos e cerâmicas, oferecem propriedades adicionais, como resistência mecânica, atividade antimicrobiana e maior estabilidade química. Compostos como óxidos de zinco e titânio têm sido estudados tanto para correção de deficiências nutricionais quanto para indução de tolerância a estresses hídricos e salinos.

Já as nanopartículas à base de carbono, como nanotubos de carbono e grafeno, representam uma fronteira ainda mais avançada da nanotecnologia agrícola. Sua alta condutividade elétrica e mecânica possibilita desde o estímulo ao crescimento radicular até o desenvolvimento de sensores ultrassensíveis, capazes de monitorar o estado nutricional das plantas, detectar patógenos e identificar alterações químicas no solo em tempo real.

Impactos positivos no solo e nas plantas, com sustentabilidade

O comportamento dessas partículas dentro da planta também tem sido amplamente investigado. Pelo tamanho reduzido, as NPs conseguem penetrar pelas raízes, pelos estômatos ou pelos espaços intercelulares, movimentando-se pelo xilema e pelo floema com facilidade. Essa circulação favorece a distribuição homogênea dos nutrientes, sincronizando a liberação dos elementos com as necessidades fisiológicas das culturas ao longo do ciclo produtivo. Em formulações nanoencapsuladas, a disponibilidade de nutrientes pode se estender por 45 a 60 dias, período significativamente superior às formas convencionais, que apresentam janelas de eficácia mais curtas.

Estudos conduzidos por instituições brasileiras, como Embrapa, Esalq/USP, Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Universidade Federal de Lavras (UFLA) reforçam o potencial da tecnologia. Resultados experimentais documentam incrementos de até 80% na absorção de micronutrientes como zinco e ferro, aumento de até 25% no crescimento radicular em culturas como milho, e maior teor de clorofila em trigo submetido a tratamentos com nanopartículas. Em vários ensaios, a produtividade superou a de áreas tratadas com fertilizantes convencionais, enquanto as perdas por lixiviação e volatilização foram significativamente reduzidas. Esses ganhos têm se traduzido, inclusive, em melhor relação custo-benefício por hectare, à medida que o produtor necessita de menores doses e menos aplicações ao longo da safra.

Além do efeito direto nas plantas, nanofertilizantes podem contribuir para melhorias no solo, favorecendo sua agregação, aumentando a retenção hídrica e estimulando a atividade microbiana benéfica. Tais benefícios reforçam a posição da nanotecnologia como aliada da sustentabilidade, principalmente em sistemas agrícolas que exigem redução de impacto ambiental e maior eficiência no uso de recursos naturais.

Regulamentação brasileira

O avanço rápido da área é acompanhado por desafios igualmente relevantes. A falta de regulamentação específica no nosso país é um deles. Embora o uso de nanomateriais seja reconhecido por órgãos federais, não há protocolos consolidados por parte do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), da ANVISA ou do IBAMA para fertilizantes nanoestruturados. Países como Estados Unidos e membros da União Europeia já adotam protocolos rigorosos para avaliação toxicológica e ambiental, o que evidencia a necessidade da elaboração de marcos regulatórios nacionais que garantam segurança, rastreabilidade e qualidade dos produtos colocados no mercado.

Limitações, riscos e incertezas científicas

Do ponto de vista científico, ainda existem lacunas importantes a serem preenchidas. A dinâmica de mobilidade, persistência e degradação das nanopartículas no ambiente não está completamente compreendida, especialmente em solos tropicais, onde fatores como textura, pH e matéria orgânica podem alterar significativamente o comportamento dessas substâncias. Há também preocupações quanto ao potencial de bioacumulação, às interações com microrganismos essenciais para a ciclagem de nutrientes e às possíveis repercussões sobre organismos aquáticos. Em condições inadequadas de formulação ou manejo, há risco de fitotoxicidade, com efeitos negativos sobre o metabolismo vegetal.

Essas incertezas reforçam a necessidade do uso tecnicamente orientado, baseado em diagnósticos nutricionais precisos, análises de solo atualizadas e acompanhamento agronômico qualificado. A adoção de produtos com respaldo científico e fabricados sob padrões rigorosos é fundamental para garantir que os benefícios superem eventuais riscos. O avanço da pesquisa, especialmente em estudos de longo prazo, conduzidos em diferentes solos e condições ambientais será decisivo para orientar a aplicação segura e sustentável dessa tecnologia.

Conclusão

A tendência é que a nanotecnologia dialogue cada vez mais com a agricultura de precisão. Sensores nanoestruturados integrados a plataformas de monitoramento, sistemas de liberação inteligente conectados a dados ambientais e fertilizantes capazes de responder a condições específicas do solo representam uma convergência que impulsiona a agricultura de precisão a um novo patamar.

Assim, a nanotecnologia aplicada aos fertilizantes se apresenta como um vetor de transformação capaz de ampliar a produtividade, reduzir custos, otimizar o uso de recursos e mitigar impactos ambientais. Entretanto, seu pleno potencial dependerá de uma combinação de fatores: rigor técnico, regulamentação adequada, pesquisas contínuas e práticas agrícolas responsáveis. Com esse equilíbrio, os nanofertilizantes tendem a deixar definitivamente o campo da promessa para se tornarem uma ferramenta sólida, eficiente e segura nas próximas gerações de sistemas produtivos.

Referências:

Aplicação de nanotecnologia na agricultura. Disponível em: Aplicação de nanotecnologia na agricultura | SolloAgro/. Acesso: 28 nov. 2025.

Applications of nanotechnology in fertilizers: A review study. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2949839225000422/. Acesso: 28 nov. 2025.

Avanços no uso da nanotecnologia no agro. Disponível em: https://www.embrapa.br/en/visao-de-futuro/biorrevolucao/sinal-e-tendencia/avancos-no-uso-da-nanotec…. Acesso: 28 nov. 2025.

BOSCHIERO, B.N. Uso da nanotecnologia na agricultura. Blog Agroadvance. 2025. Disponível em: https://agroadvance.com.br/blog-nanotecnologia-na-agricultura/. Acesso: 28 nov. 2025.

Effect of nano fertilizers on growth and yield of tomato (Solanum lycopersicum L.). Disponível em: https://www.agronomyjournals.com/archives/2024/vol7issue10/PartC/7-10-6-344.pdf/. Acesso: 28 nov. 2025.

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Nanofertilizers: Types, Delivery and Advantages in Agricultural Sustainability. Disponível em: https://www.mdpi.com/2813-3145/2/2/19/. Acesso: 28 nov. 2025.

Nanomaterials and nanotechnology for the delivery of agrochemicals: strategies towards sustainable agriculture. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1186/s12951-021-01214-7/. Acesso: 28 nov. 2025.

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