• Quarta-feira, 12 de novembro de 2025
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Scot Consultoria

Carta Insumos - Doenças Respiratórias Bovinas (DRB) em confinamento e seus prejuízos

No biênio 2024 e 2025, as doenças respiratórias bovinas foram as mais recorrentes nos confinamentos brasileiros.


Foto: Bela Magrela

Foto: Bela Magrela

O confinamento tem crescido no Brasil. Segundo a pesquisa-expedicionária Confina Brasil 2025, promovida pela Scot Consultoria, foram mapeados 3,1 milhões de cabeças, sendo 83,9% destinadas ao abate – 2,6 milhões de cabeças.

A pesquisa projeta 8,3 milhões de bovinos confinados destinados ao abate, rebanho 11,9% maior em relação à 2024, cuja estimativa fora de 7,4 milhões. Desde a primeira edição do Confina Brasil, em 2020, a taxa de crescimento ao ano é de 5,3%.

Apesar do avanço nas boas práticas de manejo e da busca constante por melhorias em bem-estar animal, com adoção de currais antiestresse, cobertura de cochos, sombreamento, controle de poeira, sistemas de drenagem e rotina de limpeza de bebedouros, o aumento da quantidade de confinamentos também traz mais desafios sanitários.

Entre eles, destaca-se o complexo das Doenças Respiratórias Bovinas (DRB), que foi uma das morbidades mais relatadas durante a expedição Confina Brasil em 2024 e 2025. Em 2024, 68,5% das propriedades apontaram-na como maior recorrência. Em 2025, 58,5% citaram a DRB como a principal manifestação sanitária, 24,1% como a segunda e 7,7% como a terceira (em breve, detalhes no Benchmarking Confina Brasil 2025).

As causas da DRB são multifatoriais, podendo estar relacionadas à exposição a agentes infecciosos, calor, frio, poeira, lama, transporte, superlotação, ao agrupamento de bovinos de diferentes origens, estresse e fatores nutricionais (como deficiências ou mudanças bruscas na dieta), que comprometem a imunidade.

Além disso, trata-se de uma doença multietiológica, associada a diferentes agentes infecciosos, tanto virais quanto bacterianos. Entre os vírus mais encontrados estão o Herpesvírus Bovino tipo 1 (BoHV-1), o Vírus da Diarreia Viral Bovina (BVDV), o Vírus Parainfluenza tipo 3 (PI-3) e o Vírus Respiratório Sincicial Bovino (BRSV). Entre as bactérias, destacam-se Mannheimia haemolytica, Pasteurella multocida, Histophilus somni e Mycoplasma bovis.

E como identificar o bovino acometido pela DBR? A observação do rebanho é o meio para o diagnóstico precoce. Os principais sinais clínicos incluem perda de apetite, apatia, febre acima de 40°C, tosse, secreção nasal, hipersialose e redução no ganho de peso e na produtividade.

Prejuízos do complexo das Doenças Respiratórias Bovinas (DRB)

A DRB gera prejuízos econômicos, como os custos com tratamento, perda da produtividade e mortalidade.

O tratamento geralmente envolve antibióticos associados a anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), com o objetivo de reduzir a gravidade dos sinais clínicos. Um exemplo é o uso do ceftiofur (cefalosporínico de terceira geração) com o anti-inflamatório flunixin meglumine.

De acordo com a Scot Consultoria, em outubro, o frasco com 100ml de ceftiofur esteve cotado em R$68,82, com posologia de 1ml a cada 50kg de peso vivo. Já o frasco de 50ml de flunixin meglumine foi cotado em R$136,61, com posologia de 2 ml a cada 45kg de peso vivo. Ambos com tratamento de cinco dias (dependendo do caso), a cada 24 horas.

Considerando um bovino com peso médio de 375kg, o custo do tratamento seria de aproximadamente R$253,52 por cabeça. Em um período médio de 105 dias de confinamento, o custo adicional diário seria de R$2,41, elevando o custo operacional + sanitário de R$2,01 para R$4,42/cabeça/dia – e a diária total de R$14,78 para R$17,19 (Confina Brasil 2025).

Há também a perda de desempenho. Segundo Smith (1998), bovinos que apresentaram ao menos um episódio da doença tiveram redução de 0,23kg/dia de peso. Morck et al. (1993) registraram perda de 0,33kg/dia em casos de múltiplas ocorrências. Já Blakebrough-Hall et al. (2020) observaram perdas médias de 0,38kg em bovinos com três ou mais episódios, 0,23kg em casos clínicos, 0,15kg em subclínicos e 0,13kg em casos com lesões pulmonares graves – considerando 105 dias de confinamento.

Além desses fatores, segundo o Confina Brasil 2025, a taxa média de mortalidade em confinamentos foi de 0,5%, sendo as doenças respiratórias responsáveis por 32,1% desse total.

Considerando os dados apresentados, fizemos essa simulação: uma propriedade com 10 mil cabeças, apresentando perda de 50 bovinos (0,5%), dos quais 16 (32,1%) foram em decorrência da DRB, representaria um prejuízo de cerca de R$95,5 mil, considerando o preço médio da arroba em São Paulo, em novembro (até 11/11), de R$314,00 (a prazo, com impostos descontados) e 19@ por bovino.

Como prevenir?

A vacinação é uma das medidas profiláticas – segundo levantamento da Scot Consultoria, considerando apenas o preço médio do insumo, o custo é de R$28,00 por bovino/duas doses. 

E, embora essencial, a imunização não garante sozinha a eliminação da doença, especialmente quando há falhas no protocolo vacinal de bovinos adquiridos de outras propriedades. Além disso, a resposta imune leva de 14 a 21 dias para se estabelecer, enquanto o risco de infecção existe desde a entrada no confinamento.

Por isso, a prevenção integrada é fundamental.

É recomendável investir em boas práticas de manejo, bem-estar, infraestrutura e biossegurança – evitando superlotação, controlando o estresse e respeitando os períodos de isolamento sanitário para bovinos recém-adquiridos.

Essas medidas podem reduzir a incidência das doenças respiratórias e garantir melhor desempenho e rentabilidade no confinamento, protegendo tanto os bovinos presentes quanto os que ainda serão recebidos.

Prevenir é mais econômico e estratégico do que remediar.

Referências:

BLAKEBROUGH-HALL, C. et al. An evaluation of the economic effects of bovine respiratory disease on animal performance, carcass traits, and economic outcomes in feedlot cattle defined using four BRD diagnosis methods.

CUNHA, P. H. J.; BORGES, N. C.; MIGUEL, M. P.; SANT’ANA, F. J. F.; CERQUEIRA, A. B.; SILVA, J. A.; CUNHA, R. D. S. Doença respiratória em bovinos confinados. Revista Brasileira de Buiatria, v. 1, n. 9, 2021.

EDWARDS, T. A. Control methods for bovine respiratory disease for feedlot cattle. Veterinary Clinics of North America: Food Animal Practice, v. 26, n. 2, p. 273-284, 2010.

MORCK, D. W.; MERRILL, J. K.; THORLAKSON, B. E.; OLSON, M. E.; TONKLINSON, L. V.; COSTERTON, J. W. Prophylactic efficacy of tilmicosin for bovine respiratory tract disease. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 202, p. 273-277, 1993.

SCOT CONSULTORIA. Benchmarking Confina Brasil. 2024.

SCOT CONSULTORIA. Benchmarking Confina Brasil. 2025.

SERAFINI, M. F. Estudo do complexo de doenças respiratórias dos bovinos em confinamento de terminação: fatores de risco, aspectos clínicos e anatomopatológicos. 2016. 45f. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais.

SMITH, R. A. Impact of disease on feedlot performance: a review. Journal Animal Science, v. 76, p. 272-274, 1998.

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