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Carta Grãos e Agricultura - Arroz - cenário preocupa agricultores e desestimula investimentos

O preço médio da saca com 50kg, em outubro, foi o menor desde abril de 2020, representando uma queda de 51,3% em relação a outubro de 2024.


Foto: Freepik

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Uma combinação de demanda enfraquecida e de alta nos custos de produção tem inviabilizado a atividade.

O preço médio por saca de 50kg, em outubro foi o menor desde abril de 2020, com a saca em R$58,03, queda de 51,3% em relação a outubro de 2024 (figura 1), segundo o Indicador do Arroz em casca Cepea/IRGA-RS.

Figura 1.
Preços médios da saca com 50 quilos de arroz, em reais e por ano.

Fonte: CEPEA / Elaboração: Scot Consultoria

Em Chicago os preços também estão em queda, reflexo de uma boa oferta. Para o arroz, no entanto, o mercado interno é o determinante dos preços, mas as quedas nos futuros em Chicago e nos preços no Mercosul também pesam.

Chicago serve de régua para a paridade de importação e os preços FOB do Mercosul entram na referência de compra. Desta forma, as referências de paridade caíram, contribuindo para a baixa nas cotações no mercado interno.

Em outubro, os contratos futuros em Chicago para vencimento em janeiro caíram para os menores níveis em cinco anos, chegando a US$10,37 por hundredweight*, baixa de 31,2% em relação ao mesmo período de 2024 (figura 2).

Figura 2.
Cotação do contrato futuro do arroz em casca com vencimento em janeiro na bolsa de Chicago, de outubro de 2020 até outubro de 2025.

* 1 hundredweight (cwt) equivale a 45,36 quilos.
Fonte: Chicago Board of Trade (CBOT)/ Elaboração: Scot Consultoria.

Cotações em queda em Chicago e uma maior oferta global, tem repercutido na cotação do arroz brasileiro. Até a quarta semana de outubro, a média diária do volume de arroz importado caiu 65,5%, e o preço médio por tonelada exportada caiu 40,5%, ficando em US$294,2, com média diária de exportação de 624,4 toneladas.

De janeiro a setembro de cada ano, embora o volume exportado tenha aumentado 53,8% em 2025 frente a 2024, alcançando 396,5 mil toneladas, em grande parte devido aos preços pressionados no mercado interno, os preços do arroz brasileiro caíram 26,5% em relação a 2024, chegando, em média a US$321,70/t (figura 3), o que reduziu o potencial alívio interno nos preços em decorrência do escoamento de arroz nas exportações.

Figura 3.
Receita com as exportações, volume exportado e preço médio, de janeiro a setembro, por ano, de 2015 a 2025.


Fonte: Secex/ Elaboração: Scot Consultoria.

Mas, o que aconteceu e o que explica a queda de preço?

Um estudo da Embrapa Arroz e Feijão revela a perspectiva de redução do consumo de arroz. O consumo per capita passou de 48,69kg por habitante por ano em 1997 para 28,5kg por habitante por ano em 2024 (figura 4). Os principais fatores que explicam essa mudança foram urbanização e menos tempo para cozinhar, maior inserção feminina no mercado de trabalho, preço e renda relativos e a substituição por produtos prontos e ultraprocessados.

Figura 4.
Consumo per capita de arroz e de feijão de 1985 a 2024*.

Fonte: Embrapa Arroz e Feijão. Elaboração: Osmira Fátima da Silva (agosto/2025).
* Estimativa de consumo per capita de arroz e feijão (inclui o caupi), com base de dados de suprimento da CONAB, atualizado em jul.2025.

População brasileira estimada pelo IBGE em 01/07/2024 e publicado pelo D.O.U. de 29/08/2024 = 212.583.750 habitantes.
Consumo médio aparente de arroz beneficiado (58% grãos limpos e inteiros), em 2024 = 28,5kg/habitante e de feijão = 13,2 kg/habitante.

Esse cenário contrastou com uma safra produtiva em 2024/25, com uma das maiores produções da histórica brasileira, estimada em 12,8 milhões de toneladas, aumento de 20,6% em relação à safra anterior (figura 5). Houve crescimento em área e em produtividade, com 1,8 milhão de hectares e rendimento médio de 7,2 mil toneladas por hectare, o que equivale a 144,6 sacas de 50kg. Como resultado, o estoque final foi estimado em 2,01 milhões de toneladas, alta de 313,4% em relação ao estoque final da safra 2023/2024.

Isto representou uma maior oferta com uma demanda mais contida.

Figura 5.
Área cultivada e produção de arroz, por safra.


Fonte: Conab / Elaboração: Scot Consultoria

Com relação ao cenário internacional, a Índia afrouxou restrições e ampliou embarques desde o fim de 2024 e ao longo de 2025, ao remover o piso de preço do arroz branco não basmati (arroz de grão longo) e zerar o imposto de exportação do arroz parboilizado em outubro de 2024, e em março de 2025, liberar a exportação de arroz 100,0% quebrado.

Com isso, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) estimou exportações indianas em 23,5 milhões de toneladas em 2024/25 e projetou 25,0 milhões em 2025/26. Esse movimento aumentou a oferta global e ajudou a manter as cotações internacionais nas mínimas plurianuais, o que reduziu a paridade de importação e pressionou o preço no exterior.

Desta forma, a ampla oferta no Brasil e no mundo em conjunto com uma demanda doméstica em baixa explica a queda de preços.

E a redução nos preços soma-se com as altas nos insumos, com destaque para fertilizantes. A cotação da ureia, por exemplo, subiu 29,5% em outubro, em comparação com outubro de 2024, segundo levantamento da Scot Consultoria.

A queda nas cotações reduz a margem dos agricultores e desestimula investimentos e a expansão.

Segundo a Conab, a perspectiva para 2025/26 é de 1.664,7 mil hectares semeados, redução de 5,6% frente a 2024/25, quando foram semeados 1.764,0 mil hectares.

Se o cenário persistir, é provável o avanço da soja nas próximas safras, sobretudo nas áreas de sequeiro onde a troca de cultura é mais ágil.

Os preços continuarão em queda?

Considerando os fundamentos observados até aqui, sim. O cenário é de oferta abundante no Brasil e no exterior, e não há incentivos para aumento dos preços.

Não há indícios de restrições nas exportações da Índia, e não há sinalização de mudança na demanda doméstica ao ponto de reverter o quadro baixista nos próximos dois meses.

Embora a exportação tenha aumentado em 2025 frente a 2024, os preços pressionados e pouca expressão em comparação com o mercado interno na definição das cotações, tornam improvável a recuperação das cotações.

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