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Scot Consultoria

Carta Insumos - Inoculantes em pastagens: resiliência para sistemas pecuários e dinheiro no bolso do pecuarista

A adoção de inoculantes em pastagens tropicais é uma oportunidade para reduzir custos, aumentar a eficiência da produção de carne e leite e ampliar a competitividade da pecuária brasileira.


Foto: Freepik

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O desafio da pecuária moderna é aumentar a produção de carne e leite na mesma área, com menores custos e menor impacto ambiental. Nesse cenário, os inoculantes surgem como uma das soluções promissoras para fortalecer a base da pecuária tropical: as pastagens. Ao inocular bactérias benéficas no solo ou nas sementes, como Azospirillum brasilense e Pseudomonas fluorescens, estudos demonstram ganhos consistentes em produtividade, qualidade da forragem e rentabilidade do sistema, na comparação com pastagens sem inoculação.

No Brasil, esse potencial ganha relevância diante de um gargalo conhecido da pecuária: a baixa adoção de adubação de manutenção das pastagens. Enquanto a agricultura avançou com fertilização sistemática, grande parte das áreas com pasto segue sem receber insumos, o que leva ao empobrecimento do solo, queda de produtividade e degradação progressiva. Estima-se que entre 50% e 70% das pastagens brasileiras apresentem algum nível de degradação (Pereira et al., 2017). Nesse contexto, a inoculação surge como uma alternativa acessível e de grande impacto para um processo de intensificação sustentável. Trata-se de uma estratégia que pode complementar tanto sistemas adubados quanto aqueles que não recebem adubação, melhorando o aproveitamento dos recursos aplicados na fazenda.

No caso das gramíneas tropicais, base da pecuária brasileira, o impacto financeiro pode ser mensurado em comparação ao preço da ureia. Considerando o valor de R$ 4 mil por tonelada, equivalente a R$8,70 por kg de nitrogênio, estudos mostram que a inoculação com Azospirillum brasilense em braquiária (Urochloa brizantha e híbridos), na dose comercial de aproximadamente 100 ml por hectare (cerca de 2 × 10⁸ UFC/ml), pode complementar a adubação, reduzindo a necessidade de até 40 kg por hectare de nitrogênio mineral (Hungria et al., 2021). Isso representa uma economia de R$348,00 por hectare a cada ciclo de utilização do pasto, ou seja, cada vez que o capim cresce e é consumido pelo gado. Em sistemas bem manejados, com três pastejos por ano, a economia pode ultrapassar R$1 mil por hectare ao ano. Convertendo esse valor em arrobas bovinas, considerando a cotação a prazo em São Paulo em R$308,00 segundo a Scot Consultoria (19 de agosto de 2025), o benefício econômico equivale a pelo menos 3 arrobas por hectare ao ano.

Estudos também mostram que mesmo em situações sem adubação nitrogenada os efeitos são relevantes. Em experimentos com Coastcross-1 (Cynodon dactylon), a inoculação com A. brasilense proporcionou ganhos médios de 28,6% no primeiro ano e 32% no segundo ano, sem necessidade de reinoculação. Os benefícios foram associados a maior desenvolvimento radicular, melhor absorção de nutrientes e maior competitividade contra plantas invasoras, resultando em pastagens mais vigorosas e produtivas. Convertendo os resultados em ganhos de carcaça, os pesquisadores estimaram acréscimos equivalentes a 1,2 arroba bovina por hectare no primeiro ano e 1,5 arroba por hectare no segundo. Considerando a cotação da arroba a prazo em São Paulo em R$308,00, segundo a Scot Consultoria (19 de agosto de 2025), os benefícios representam aproximadamente R$370,00 no primeiro ano e R$460,00 no segundo ano em áreas onde não havia uso de adubação (Pereira et al., 2017).

Além da economia, há ganhos em produtividade e qualidade da forragem. Em experimentos com braquiárias (Urochloa spp.), a inoculação com A. brasilense (100 ml/ha, 2 × 10⁸ UFC/ml) elevou a produção em até 16,8%, enquanto a inoculação com P. fluorescens (cerca de 100 ml/ha, com concentração próxima a 10⁸ UFC/ml) resultou em ganhos próximos de 15% em relação a áreas não tratadas. Mais do que volume, a qualidade nutricional da forragem melhorou de forma significativa. O fósforo disponível nas plantas aumentou em 33%, o nitrogênio em até 20% e o potássio entre 10% e 13%, resultando em capins mais ricos em proteína bruta e digestibilidade (Hungria et al., 2021). Esses efeitos se traduzem em maior eficiência alimentar, redução do tempo de terminação dos animais e menor necessidade de suplementação concentrada.

Outro aspecto relevante é a resiliência frente às mudanças climáticas. Experimentos com capim Mavuno (Urochloa ruziziensis × U. brizantha) mostraram que um aumento de 2°C na temperatura média reduziu a produtividade, a proteína e a digestibilidade da forragem em áreas não inoculadas. Já nas áreas tratadas com A. brasilense e P. fluorescens, o efeito negativo foi totalmente neutralizado. A fotossíntese se manteve estável, a qualidade nutricional foi preservada e ainda houve redução da lignificação, garantindo forragens mais digestíveis mesmo em condições adversas (Habermann et al., 2025). Na prática, isso significa evitar perdas de 15% a 20% da receita por hectare, o que pode representar entre R$600,00 e R$800,00 por hectare ao ano em sistemas intensivos.

A tendência do mercado reforça esse movimento. O setor de grãos já consolidou a inoculação como prática essencial. No Brasil, 78% da área com soja (Glycine max (L.) Merr.), mais de 36 milhões de hectares, são inoculadas anualmente, fazendo do país o líder mundial no uso dessa técnica (Santos, Nogueira e Hungria, 2019). O caminho agora é expandir essa estratégia também para as pastagens tropicais, onde os resultados de produtividade, economia e sustentabilidade seguem a mesma lógica, mas ainda há grande espaço para adoção.

Em síntese, a comparação entre áreas inoculadas e não inoculadas mostra vantagens consistentes. A economia pode chegar a R$1mil por hectare ao ano em ureia. A produção de capim aumento entre 15% e 20%. O teor de proteína bruta cresce em até 20% e o fósforo disponível em 33%. O retorno líquido da fazenda pode ser ampliado em mais de 3 arrobas bovinas por hectare ao ano. Além disso, perdas climáticas que poderiam reduzir em até 20% da receita por hectare podem ser mitigadas. Importante destacar que a inoculação deve ser entendida como uma prática complementar, que fortalece os resultados do manejo e da adubação, trazendo ganhos em eficiência e resiliência ao sistema.

Com a ureia nos preços máximos desde o início de 2025, a adoção de estratégias que aumentem a eficiência no uso dos recursos torna-se ainda mais relevante. A inoculação pode reduzir a necessidade de fertilizantes nitrogenados, melhorar a qualidade da forragem e contribuir para maior eficiência na transformação da pastagem em carne e leite. Em um momento de custos elevados, incluindo insumos, reposição, mão de obra e juros, investir em inoculantes aparece como uma alternativa de baixo custo que pode contribuir para melhorar a margem do pecuarista e aumentar a competitividade da pecuária brasileira.

Referências:

HABERMANN, G. et al. Plant growth-promoting bacteria mitigate the negative impacts of climate warming on tropical forage grasses. Science of The Total Environment, v. 924, p. 171613, 2025.

HUNGRIA, M. et al. Inoculation of Brachiaria spp. with Azospirillum brasilense: An environment-friendly component in the reclamation of degraded pastures in the tropics. Science of The Total Environment, v. 757, p. 143382, 2021.

PEREIRA, D. H. et al. Respostas de Coastcross-1 à inoculação com Azospirillum brasilense em pastagem com e sem adubação nitrogenada. Revista Ceres, v. 64, n. 2, p. 119-127, 2017.

SANTOS, M. A.; NOGUEIRA, M. A.; HUNGRIA, M. Microbial inoculants: Reviewing the past, discussing the present and previewing an outstanding future for the use of beneficial bacteria in agriculture. AMB Express, v. 9, n. 1, p. 205, 2019.

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