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  • Sexta-feira, 11 de julho de 2025
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Scot Consultoria

Carta Conjuntura - Parecer sobre as tarifas dos Estados Unidos ao Brasil e como vemos o impacto no agronegócio

Nova taxa imposta pelo presidente estadunidense aumenta em 50% a alíquota para produtos brasileiros.


Foto: Freepik

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Tarifas

Primeiramente, gostaríamos de incentivar ao seguinte pensamento: por qual motivo, afinal, os países trocam mercadorias entre si?

A resposta é que os países trocam mercadorias porque são diferentes, seja em clima, recursos naturais, estrutura produtiva, acesso à tecnologia etc. Essa diversidade gera especializações e algumas nações se tornam mais eficientes na produção de certos bens, enquanto outras se destacam em áreas distintas.

Para Paul Krugman: “As nações, como os indivíduos, podem se beneficiar de suas diferenças chegando a um acordo em que cada um faça o que faz relativamente bem. Se cada país produz apenas uma gama limitada de bens, pode produzir cada um desses bens em maior escala e, portanto, de forma mais eficiente do que se tentasse produzir tudo”.

Os norte-americanos, por exemplo, possuem mão de obra altamente qualificada, resultado de investimentos massivos em educação, ciência e tecnologia. O ambiente empresarial norte-americano é mais simples e previsível e com menos burocracia, o que permite um terreno fértil para que empresas como a Apple nasçam e prosperem.

O Brasil, por outro lado, se destaca em setores nos quais tem recursos naturais abundantes – o agronegócio. Instituições como a Embrapa foram importantes para que prosperássemos como uma potência no agronegócio, realizando pesquisas e formando profissionais que aumentaram a produtividade no país.

Isso explica por que as vantagens comparativas surgem – não por inferioridade de um país em relação ao outro, mas por caminhos distintos de desenvolvimento.

É com base nesse princípio que o modelo ricardiano explica o comércio internacional. Imagine que Brasil e Estados Unidos produzem carne bovina e computadores da Apple. Para produzir 1 milhão de toneladas de carne, os Estados Unidos teriam que renunciar à produção de 100 mil Macbooks, por conta dos recursos e mão de obra direcionados a esse setor. Já no Brasil, para produzir a mesma quantidade de carne, o custo de oportunidade seria de apenas 30 mil Macbooks.

Isso significa que o Brasil tem uma vantagem comparativa na produção de carne, enquanto os Estados Unidos são relativamente mais eficientes na fabricação de computadores – especialmente por contarem com centros de inovação, mão de obra qualificada e empresas como a própria Apple. Ao se especializarem e trocarem entre si, cada país foca naquilo que faz melhor, importa o que seria mais caro produzir internamente, e, com isso, a economia de ambos se torna mais produtiva e eficiente.

Claro, o modelo ricardiano é uma simplificação. Ele assume que os países se especializam completamente, o que nem sempre ocorre na realidade. Em países grandes como os Estados Unidos, a demanda interna é tão elevada que ainda vale a pena produzir múltiplos bens – os EUA também são grandes produtores de carne.

Mesmo assim, a lógica se mantém: os países exportam aquilo em que são relativamente mais produtivos e importam o que lhes custa mais produzir, aumentando a variedade de bens disponíveis.

É essa lógica que políticas comerciais, como a imposição de tarifas, acabam contrariando. Ao criar barreiras, como fez Trump agora, o comércio se torna menos eficiente, e os efeitos dessa escolha repercutem não apenas sobre os produtores taxados, mas sobre cadeias produtivas inteiras. Nesse sentido, não é somente o Brasil que será afetado, não é somente os Estados Unidos que serão afetados, ambos os países saem perdendo.

A reação do governo brasileiro às tarifas impostas pelos Estados Unidos foi imediata, com críticas duras e tom de indignação. No mínimo, curioso ver tamanha surpresa diante de uma medida que segue exatamente a lógica que, aqui dentro, muitos defendem com entusiasmo – taxação sem fim, proteção ao produtor nacional, incentivos a produção interna a qualquer custo.

No entanto, quando o protecionismo vem de fora, mesmo seguindo exatamente a mesma lógica de “proteger o produtor nacional”, a música muda de tom. A tarifa americana, ao que aparece, deixa de ser uma política econômica e se transforma, de repente, em um ataque à competitividade brasileira.

Talvez, ao ver no espelho dos Estados Unidos as próprias convicções protecionistas, a retórica doméstica perceba que a teoria é bonita, até que se volte contra a gente.

Em 2024, os Estados Unidos responderam por US$40,4 bilhões das exportações brasileiras, o que representou 12,0% do total de US$ 337 bilhões. Em 2025, até junho, o acumulado já soma US$20 bilhões, mantendo participação semelhante: 12,1%.

No primeiro semestre de 2025, os EUA se destacaram como principais compradores de produtos da Indústria de transformação, como ferro e aço semiacabados, aeronaves, ferro-gusa, celulose, óleos e gorduras animais e sucos vegetais. Também compraram volumes relevantes da indústria extrativa, com destaque para óleos brutos de petróleo, e da agropecuária, especialmente café não torrado.

Figura 1.
Exportações brasileiras para os Estados Unidos da América, em 2025, até junho.


Fonte: Conab / Elaboração: Scot Consultoria

O saldo comercial do Brasil com os Estados Unidos é negativo em US$1,67 bilhão, e as exportações para o país representam menos de 2% do PIB brasileiro.

O impacto das tarifas deve se concentrar no agronegócio, com destaque para a carne bovina e seus coprodutos, como o sebo, do qual os EUA compram cerca de 95% do volume exportado, além do suco de laranja e do café.

Carne bovina

Em 2025, até junho, os norte-americanos responderam por 12,2% das exportações brasileira de carne bovina in natura.

Entre fevereiro e maio de 2025, as exportações brasileiras de carne bovina in natura para os Estados Unidos bateram recordes sucessivos – foram os maiores volumes já registrados para esses meses – figura 2. O faturamento com as vendas aos americanos, de janeiro/25 a junho/25 foi de US$791,2 milhões.

Figura 2.
Exportação de carne bovina in natura para os Estados Unidos, em mil toneladas.

Fonte: Secex / Elaboração: Scot Consultoria

Até então, o Brasil vinha praticando preços altamente competitivos, superando exportadores como Argentina e Austrália (figura 3).

Figura 3. Preço da tonelada de carne bovina in natura exportada aos Estados Unidos, do Brasil, Austrália e Argentina, em US$, de acordo com a Secex e o United States Census Bureau (USCB). 

Fonte: USCB e Secex / Elaboração: Scot Consultoria

No entanto, com a aplicação de uma tarifa adicional de 50,0%, essa vantagem desapareceria rapidamente, tornando a carne brasileira pouco atrativa no mercado norte-americano (figura 4).

Figura 4. Preço da tonelada de carne bovina in natura exportada aos Estados Unidos, do Brasil (adição de 50,0%), Austrália e Argentina, em US$, de acordo com a Secex e o United States Census Bureau (USCB). 

Fonte: USCB e Secex / Elaboração: Scot Consultoria

Hoje, o Brasil detém papel relevante nas importações de carne bovina in natura dos EUA (tabela 1). Caso a carne brasileira fique mais cara, os norte-americanos terão de ampliar compras de outros países, o que tende a aquecer a demanda externa e pressionar os preços nos EUA. Nesse contexto, a carne brasileira poderia voltar a ser competitiva indiretamente, o que reduziria as exportações brasileiras, mas provavelmente não as eliminaria por completo.

Tabela 1.
Participação do Brasil nas importações de carne bovina in natura dos Estados Unidos da América, em 2025.

Mês Participação do Brasil
Janeiro 20,4%
Fevereiro 19,5%
Março 21,4%
Abril 25,8%
Maio 37,3%

Fonte: USCB / Elaboração: Scot Consultoria

Nesse cenário, o Brasil teria que redirecionar sua carne a outros mercados com preços mais baixos, arcando ainda com os custos de reorganização logística. A boa notícia é que, por ora, a demanda global está crescendo acima da oferta, o que sugere espaço para absorver parte dessa produção.

Em curto prazo, a perspectiva é de que compradores americanos antecipem compras para formar estoques antes que a tarifa entre em vigor, enquanto torcem por uma negociação entre os governos que reverta a medida. Caso isso não ocorra, o país terá de readequar destinos, lidar com novos custos e até considerar o mercado interno como saída parcial.

De forma geral, a notícia pressiona negativamente a arroba do boi gordo, mas esse impacto tende a se consolidar após a vigência efetiva da tarifa – e não imediatamente.

Após o anúncio das tarifas, grande parte das indústrias abriu a quinta-feira fora das compras de gado bovino – independentemente se exporta aos Estados Unidos ou não. Além disso, uma pequena parcela permaneceu no mercado e estava alongando as escalas – aproveitando a ausência dos concorrentes.

Suco de laranja

Segundo dados da Secex, para sucos de laranja e laranjas frescas e secas, os Estados Unidos participam de faturamentos acima de 22,6%, na média dos últimos 10 anos. Com destaque para 2023 e 2024, quando foi responsável por 32,6% e 32,1% pelo faturamento total com a exportação da fruta e seus produtos.

Em 2025, o Brasil já faturou US$ 654,75 milhões com exportações de laranja e derivados para os Estados Unidos, o que representa 43,6% de participação no mercado, superando todos os resultados anteriores a 2023. A expectativa de faturamento para o ano era altamente positiva.

O volume embarcado em 2025 já ultrapassa 556,1 mil toneladas, superando todos os anos anteriores a 2015 e 2020. Os recordes históricos, no entanto, seguem com 2023 e 2024, que registraram 1,24 e 1,22 milhão de toneladas, respectivamente.

Bélgica e Países Baixos, tradicionais compradores de laranja brasileira e líderes na série histórica, aparecem como potenciais destinos alternativos. Nos últimos três anos, porém, foram superados pelos Estados Unidos como principais compradores.

Figura 5.
Faturamento da venda de sucos de laranja e laranjas frescas e secas para os Estados Unidos, Bélgica e Países Baixos. 

Fonte: Secex / Elaboração: Scot Consultoria

A nova tarifa pode afetar a forte demanda dos Estados Unidos pela laranja brasileira. No entanto, como o Brasil responde por cerca de 28,75% da produção global (USDA) e a China, segundo maior produtor, por 16,81%, a medida pode acabar penalizando o próprio consumidor americano. Afinal, ao restringir o acesso aos principais fornecedores globais, ambos vistos como "inimigos" políticos por Trump, o efeito mais provável será o aumento da inflação de alimentos nos EUA.

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