Foto: Freepik
O trigo é a principal cultura cerealífera de inverno em escala global, ocupando a maior área cultivada entre os cereais, à frente do milho. Em 2024, a cultura registrou 222,4 milhões de hectares semeados mundialmente, com a produção alcançando 796,8 milhões de toneladas, leve alta frente aos 791,5 milhões de toneladas do ciclo anterior.
Brasil avança no ranking mundial, mas ainda ocupa posição secundária. Saltou da 74ª posição entre os maiores produtores em 1997 para a 17ª em 2024, com uma safra de 7,8 milhões de toneladas – volume que representa apenas 1% da produção global. A evolução, contudo, é marcante: em 27 anos, a produção nacional cresceu 328%, saindo de 2,41 milhões de toneladas (1997) para 7,89 milhões (2024). O salto na produtividade foi ainda mais expressivo, com incremento de 394% no mesmo período.
Apesar do avanço, o país ainda não atende à demanda interna. Em 1997, a produção nacional supria apenas 28,1% do consumo interno, cenário que vem se transformando. Em 2024, a participação subiu para 65,2%, indicando uma trajetória de aproximação entre oferta e demanda. A autossuficiência, embora distante, torna-se um horizonte plausível, refletindo ganhos técnicos e expansão estratégica.
Figura 1.
Evolução do consumo interno em comparação com a produção nacional de trigo no Brasil (últimos 27 Anos).
Fonte: USDA / Elaboração: Scot Consultoria
A importação é o pilar estratégico para suprimento interno, com a Argentina sendo a protagonista histórica. Nos últimos 27 anos os argentinos responderam por 77% do trigo importado pelo Brasil, consolidando um fluxo comercial bilateral crítico. Em 2024, 4,5 milhões de toneladas foram importadas da Argentina equivalente a 57,7% da produção nacional (7,8 milhões de toneladas).
No último ano, o volume total importado foi de 7 milhões de toneladas (equivalente a 89,7% da produção doméstica), com desembolso de US$1,8 bilhão. O dado reforça a dependência externa estrutural, ainda que atenuada pelo crescimento produtivo interno nas últimas décadas.
Figura 2.
Principais países dos quais o Brasil importa trigo.
Fonte: USDA / Elaboração: Scot Consultoria
Exportações ganham tração, mas em patamar moderado, a partir de 2014, o Brasil passou a figurar como exportador ocasional, cujo movimento que se estabilizou nos últimos três anos. Em 2024, 2,84 milhões de toneladas foram exportadas (35,8% da produção nacional), gerando receita de US$ 612,9 milhões. O cenário reflete um ponto de equilíbrio frágil: enquanto as vendas externas avançam, o país ainda depende fortemente de compras no mercado internacional para fechar a conta do consumo.
Figura 3.
Relação entre produção, exportação e importação de trigo no Brasil.
Fonte: USDA / Elaboração: Scot Consultoria
Concentração produtiva e desafios qualitativos definem a cadeia do trigo brasileiro. A Região Sul responde por 84,6% da produção nacional, sendo o principal polo estratégico do setor.
O trigo brasileiro enfrenta entraves em relação à qualidade e à carência de variedades adaptadas às condições locais. Como consequência, grande parte da produção é classificada como de baixo padrão técnico, destinando-se, prioritariamente, à nutrição animal e a aplicações industriais não alimentícias.
Esse quadro explica a desvalorização nas exportações. Enquanto o Brasil importa trigo argentino de padrão superior (utilizado em farinhas premium e panificação), o produto nacional exportado em 2024 teve cotação média 15,4% menor que o pago nas importações do país vizinho. A disparidade evidencia a assimetria qualitativa que permeia o mercado: grãos argentinos atendem demandas de alto valor, enquanto os brasileiros ocupam nichos menos rentáveis.
Dependência geográfica amplifica riscos. A concentração produtiva no Sul, região vulnerável a intempéries e a predominância de grãos com baixa competitividade internacional limitam a transformação de ganhos de produtividade em vantagem comercial. Para reverter a equação, investimentos em melhoramento genético (BRS 264), adoção de manejo tecnificado e expansão para novas fronteiras agrícolas (como o Cerrado) destacam-se como caminhos estratégicos.
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