Artigo originalmente publicado na Revista Agroanalysis
A demanda global por trigo segue firme. No mundo, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, em inglês), o consumo mundial para a safra 2023/24 está estimado em 791,22 milhões de toneladas (out/23), 6,72 milhões mais que o consumo da safra 2022/23.
A produção, por sua vez, está estimada em 783,4 milhões de toneladas, queda de 6,06 milhões de toneladas em relação à última temporada.
Com o consumo maior que a estimativa de produção, os estoques globais de trigo em 2023/24 estão estimados em 258,1 milhões de toneladas. Este é o menor estoque desde a safra 2015/16.
A relação estoque/consumo, medida pela projeção de consumo global e seu estoque final estimada para a safra 2023/24 é de 32,6%. Acompanhe na figura 1.
Figura 1.
Estoque final global, em milhões de toneladas (eixo da esquerda), e participação (%) do estoque final na estimativa de consumo global (eixo da direita).
Fonte: USDA / Elaboração: Scot Consultoria
No Brasil, a produção brasileira de trigo sofreu um verdadeiro “boom” nos últimos três anos e vive a expectativa de encontrar a autossuficiência nos próximos anos (figura 2a). Em 2023, devem ser colhidos 10,40 milhões de toneladas.
O consumo nacional de trigo cresceu 33,1% desde 2017, passando de 11,45 milhões de toneladas para os atuais 15,24 milhões esperados para 2023.
A alta do preço nos últimos anos (figura 2b), causada por uma série de fatores (dólar, quebra na produção de milho, guerra entre Rússia e Ucrânia), foi o principal fator de estímulo à produção.
Figura 2a.
Produção, em mil toneladas (eixo da esquerda), e participação (%) da produção no consumo doméstico (eixo da direita).
Fonte: Conab / Elaboração: Scot Consultoria
Figura 2b.
Preço médio do trigo, em R$/t, no Paraná.
Fonte: CEPEA / Elaboração: Scot Consultoria
No mercado internacional, o principal exportador global, a Rússia, pode ter dificuldades no escoamento de grãos, assim como ocorreu em 2022, com o conflito continuando.
O El Niño geralmente possui influência negativa sobre a produção asiática, associada a menos chuvas, o que pode reduzir as estimativas de produções para a Índia, China e Austrália, pesando negativamente no quadro de suprimento do cereal.
Após forte quebra em 2022, a produção na Argentina deve se recuperar em 2023. A estimativa é de 16,50 milhões de toneladas, incremento ante às 12,50 milhões produzidas no ano anterior (USDA).
Apesar da expectativa de recuperação, o clima tem afetado a condição das lavouras locais e preocupa, apesar da expectativa inicial de recuperação das lavouras em meio ao El Niño.
Segundo a Bolsa de Cereales de Buenos Aires (BCBA), 47,0% das lavouras locais estão em condição péssima/ruim, 42,0% em condição normal e 11,0% em condição excelente/boa.
Ou seja, há o risco de que a produção local seja menor que a perspectiva vigente.
Com relação aos preços, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), no Paraná, a referência atingiu sua máxima em junho/22, estimulada por um contexto de conflito entre Rússia e Ucrânia e de quebra de produção de milho no Brasil.
Desde então, o preço do trigo está em queda, com a referência em outubro/23 (até 20/10), em R$1,0 mil por tonelada.
A maior oferta global de milho na safra 2022/23, com destaque ao Brasil, somado a expectativa de uma boa safra de trigo nacional – cuja colheita está em andamento, aumentando a pressão de baixa –, pesaram na condição dos preços no mercado brasileiro.
A colheita do trigo na temporada 2023 está em andamento, mas há o risco de menor produtividade, em função do excesso de umidade no Rio Grande do Sul e Paraná, principais produtores do cereal.
A estimativa de resultados econômicos da atividade é crescente desde 2017, com maior resultado ao produtor registrado em 2022 (R$2,78 mil/hectare).
Em 2023, porém, com o aumento expressivo dos custos de produção e a queda nos preços do trigo, o resultado estimado é de um prejuízo de R$498,77/hectare.
Veja na tabela 1 os resultados econômicos para a cultura do trigo no Paraná nas últimas safras e a estimativa para 2023.
Para os cálculos, foram considerados valores médios para os custos de produção, preços de venda e produtividades, portanto, os resultados podem variar de acordo com o momento da venda ou rendimentos médios em alguma região específica.
Tabela 1.
Estimativas de resultados econômicos para a produção de trigo no Paraná.
*cálculos feitos com o preço médio de janeiro a outubro de 2023.
Fonte: Scot Consultoria / Deral / Conab
Para o curto e médio prazos, com o avanço da colheita no Brasil, a expectativa é de queda para os preços do trigo no mercado brasileiro, considerando a maior oferta do produto no mercado interno neste momento.
No médio e longo prazos, o estoque global e a relação estoque/consumo global menor para o atual ciclo, o câmbio em patamar elevado e o quadro de produção conturbado à Argentina, importantes fornecedor de trigo ao Brasil, podem dar sustentação às cotações do cereal.
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