Carta Boi - Negócio da China nos contratos futuros?

Segundo o relatório Focus, do Banco Central, as projeções apontam para um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 0,9% em 2019 e de 2,0% para em 2020.

O cenário de crescimento é modesto, frente às expectativas do início do ano, quando as projeções para 2019 estavam em 2,5%.

Com outros indicadores, o cenário é semelhante, com um período mais otimista no começo do ano, mas ainda com melhora na comparação anual. O Indicador de Intenção de Consumo das Famílias, elaborado pela Confederação Nacional do Comércio é um destes.

Em setembro foi 6,4% maior que no mesmo período do ano passado, mas 6,1% abaixo do pico observado em fevereiro. Temos uma taxa de desemprego recuando, embora ainda alta, e assim por diante.

Em resumo, não está bom, mas parece que o pior ficou para trás.

Por outro lado, com relação às exportações, parece que o melhor está por vir. Com a lacuna de carne suína causada pela disseminação da Peste Suína Africana na Ásia, a China tem ampliado as compras, não só de carne suína, mas das diversas proteínas de origem animal e de diversos fornecedores.

De olho nos futuros

Com a demanda doméstica melhorando, exportações com horizonte promissor e preços da reposição ilustrando que a oferta de boiadas não está abundante, o mercado futuro tem apontado para altas, principalmente após a habilitação de mais plantas frigoríficas para exportar para a China, ocorrida no início de setembro.

Esta análise é justamente para situar as altas projetadas pelo mercado futuro, frente ao que já observamos no passado. Com isso, fizemos um histórico das variações dos preços do boi gordo, de outubro a outubro e de outubro a maio.

A figura 1 mostra a variação entre outubros. Perceba que a alta projetada para 2020, frente aos preços em outubro de 2019, é de 11,1%. Seria a maior dos últimos anos, mas metade da observada entre outubro de 2013 e outubro de 2014, por exemplo.

Na média do período analisado, iniciado em 2005 (frente a 2004), a variação entre outubro de um ano e outubro do ano seguinte foi de 8,2%, o que equivaleria a uma arroba de R$173,20.

O cenário, no entanto, está mais para que 2020 seja um ano de altas consistentes, provavelmente acima desta média. A título de comparação, a variação entre 2013 e 2014, se projetada para 2020, equivaleria a R$196,00/@.

Figura 1.
Variações dos preços do boi gordo em outubro, frente ao mesmo mês do ano anterior, além de comparação semelhante com o preço do contrato futuro para outubro de 2020 (em 9/10).
Fonte: B3 / Scot Consultoria – www.scotconsultoria.com.br 

Para outubro de 2020, mesmo com a alta projetada maior que a média, com o fator China, além de um mercado doméstico provavelmente mais forte, seria interessante ficar exposto a possíveis altas mais fortes da arroba. Ou seja, travar preços mínimos quando surgirem oportunidades (opções de venda ou frigoríficos negociando este tipo de termo). 

Já para maio, os preços futuros estão relativamente mais atrativos. Enquanto na média a valorização entre outubro de um ano e maio do ano seguinte foi de 0,9%, o futuro aponta para 7,3%. Seria o quarto melhor cenário da série. Ainda assim, uma alta maior não seria algo surpreendente, devido à conjuntura apresentada. 

Figura 2.
Variações dos preços do boi gordo em maio, na comparação com outubro do ano anterior, além da mesma comparação considerando o contrato futuro para maio de 2020 (em 9/10).

Fonte: B3 / Scot Consultoria – www.scotconsultoria.com.br

Considerações finais 

Historicamente os preços futuros para maio de 2020 estão mais otimistas que os contratos de outubro do mesmo ano, apesar de quase em R$180,00/@. 

O próximo ano tem uma possibilidade interessante de ter altas mais consistentes, o que torna a trava de preços mínimos o cenário mais indicado.