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Scot Consultoria

Carta Conjuntura - O que todo pecuarista gostaria de acreditar sobre aquecimento global


Terça-feira, 20 de junho de 2017 - 15h40


Há pouco mais de quatro anos, escrevi o texto “Mudanças climáticas e pecuária: O que todo pecuarista deve saber”: Clique aqui para ler o texto

Ele começa assim: “Poucos assuntos irritam tanto o pecuarista como o envolvimento do boi no aquecimento global. Seu maior desejo seria alguém confirmar que o aquecimento global (AG) é a balela científica do século ou que o boi não tem nada a ver com isso”.

Recentemente, em uma palestra em Campo Grande em um importante evento para pecuaristas, tive a prova que isso ainda é verdade. Um professor da USP foi convidado exatamente por ser um negacionista do aquecimento global. Em cerca de uma hora de palestra ele apresentou vários argumentos que provariam cabalmente que o aquecimento global causado pelo homem seria “balela científica do século” e, numa segunda parte, que ele seria usado para, nas palavras dele “a legitimação para a ascensão de poder e controle globais”.  

O objetivo deste texto é demonstrar como falta à palestra consistência. Assim queremos, na parte sobre o aquecimento global ser inexistente, tentar mostrar que: (i) os argumentos usados encontram pouco (ou nenhum) suporte científico; (ii) que, em seu conjunto, são contraditórios e (iii) que, alguns deles, de tão primários ou forçados faz difícil acreditar que sejam apenas equívocos.

Na parte de geopolítica, tentaremos mostrar como a narrativa tem todos os quesitos para se enquadrar em mais um caso de “teoria conspiratória”, algo que depende mais de crença do que de razão.

Por fim, trazer informações relevantes de como o aquecimento global e a pecuária estão conectadas, mas, ao contrário do “terror” da palestra, traz oportunidades para quem souber se posicionar proativamente perante esse desafio.

Antes de prosseguir, porém, em benefício do leitor, esclareço que não sou guardião da tese do aquecimento global, mesmo porque minha área de pesquisa é a nutrição animal. Contudo, meu envolvimento em projetos ligados a este tema, nos quais interagi com inúmeros colegas brasileiros, sul-americanos, europeus, africanos e americanos, propiciou-me acesso a uma grande quantidade de informações de qualidade. De tudo que vi, estudei e dos dados gerados em experimentação, constatei que as evidências são tantas e com tamanha robustez que, em que pese ser impossível ter 100,0% de certeza em qualquer cenário futuro, seria um enorme erro ir ao sentido contrário. Seria como, antes de sair de casa, ver as pessoas na rua carregando guarda-chuvas e usando agasalhos, o céu nublado, neblina cobrindo o jardim e condensação na janela e, mesmo assim, escolher sair de camiseta e calção. 

Voltando ao nosso primeiro objetivo, destacarei apenas nove pontos (os menos complexos) da palestra, usados para provar a tese que o aquecimento global é “falsa ciência”, à luz das melhores e mais recentes informações que encontrei:

1) “O efeito estufa não existe”: Um dos principais argumentos usados pelo palestrante seria que a moléculas, como as de CO2 (dióxido de carbono ou gás carbônico), não captam calor e, portanto, não poderiam ser responsáveis pelo aquecimento. Isso seria a “bala de prata” para os negacionistas como ele, pois, uma vez comprovado, isso faria desnecessária qualquer discussão adicional. Seria muito simples para o palestrante fazer um experimento científico para provar sua tese. Na Internet, há vários experimentos desta natureza que, ao contrário da hipótese do palestrante, provam que o CO2 captura calor! Duas sugestões para os curiosos: Um feito para ensinar crianças e adolescentes (clique aqui e confira o conteúdo) e, o outro, de um episódio dos “Caçadores de Mitos” (clique aqui e assista ao vídeo), também ajudados por uma criança. Simples assim.

2) “A atividade solar está diminuindo”: A contradição é exatamente essa, pois apesar da atividade solar estar diminuindo, a temperatura do planeta está aumentando. Os gráficos usados pelo palestrante vão, convenientemente, apenas até 1990 ou 2000 antes deste efeito ficar mais evidente. Uma conexão interessante com maiores informações sobre isso segue: https://www.skepticalscience.com/translation.php?a=18&l=10

3) “O IPCC tem 29 anos, 17 anos foram de declínio de temperatura!”: Na verdade, segundo a agência espacial dos EUA (NASA), 16 dos 17 anos mais quentes de toda série histórica ocorreram depois de 2001. O ano de 2016 não só foi o recordista, como oito de seus meses foram os mais quentes de toda série histórica medida desde 1880. Os dados apresentados na palestra eram de temperatura atmosférica (balões e satélite), menos confiáveis que as temperaturas tomadas na superfície, quando não são feitos os devidos ajustes (como da altura do satélite, por exemplo).  

4) “...a estação de referência do IPCC está ao lado de um vulcão”: O Observatório Mauna Loa faz parte da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) dos EUA. Ele coleta continuamente dados atmosféricos desde a década de 1950. Ao contrário do que sugeriu o palestrante, o ar não perturbado, a localização remota e as influências mínimas da vegetação e da atividade humana são ideais para monitorar os constituintes na atmosfera que podem causar alterações climáticas. A precisão das médias mensais é de aproximadamente 0,5 ppm, ou seja, as médias mensais e anuais dos dados Mauna Loa são estatisticamente robustas e servem como um registro preciso e de longo prazo das concentrações atmosféricas de CO2¹ . Como qualquer outra estação, a Mauna Loa está sujeita a fontes de variação. Essas interferências são tratadas estatisticamente e, a maior prova que os dados estão corretos, é o fato de que outras estações espalhadas pelo mundo têm medidas com grande concordância entre elas.  

5) “... CO2 não subiu quase nada”: Os valores apresentados por ele na palestra foram de 0,0033%, em 1958, para 0,0040% nos dias de hoje. Apresentar esses dados em porcentagem não é usual, exceto caso o palestrante queira influenciar a plateia a achar que os valores sejam irrelevantes. Multiplicando o valor em porcentagem por 10 mil, então, os valores são 330 ppm e 400 ppm. Houve, então, um expressivo aumento de 21,0% na concentração desse gás. Isso é mais importante do que o valor absoluto. Considerando a concentração antes da revolução industrial, a diferença relativa é de praticamente 40,0%. Aliás, o aumento de temperatura relacionado com esse aumento de concentração de CO2 para nossa percepção seria também “pequeno”, de “apenas” 0,8oC.  O que precisa ser entendido é que esse diferencial é na temperatura de todos os mais de 510 milhões de km2 da terra, ou seja, estamos tratando de quantidades gigantescas de energia que tem grande influência no clima terrestre. Um bom indicador disso é o aumento muito grande de eventos extremos (secas recordes, chuvas torrenciais e, especialmente, recordes de temperaturas máximas) que tem sido constantemente manchete nos jornais. 

6) “CO2 não é o gás do fim do mundo, mas o gás da vida...”: Antes de entrar no mérito dessa afirmação, é interessante lembrar que neste ponto o palestrante comentou que “... satélites ambientais mostram aumento da vegetação entre 1982 e 2015”. Como, segundo ele, o aumento do CO2 veio da liberação desse gás dos oceanos pelo aumento de temperatura, isso vai contra o próprio discurso dele que a temperatura da terra estaria diminuindo (vide “título” do item 3, acima). O aumento da vegetação observado ocorre tanto pela maior concentração de CO2, como pela maior temperatura. Não existe qualquer pesquisador que desconsidere o papel do CO2 nos ciclos naturais e que esteja querendo eliminar esse gás da atmosfera, mas apenas tentando evitar que ele continue subindo tão rapidamente como está. É esse aumento fora dos padrões que traz desequilíbrio aos sistemas climáticos (que já estamos testemunhando²). O ponto fundamental nesta questão é que o CO2 é apenas um dos fatores de crescimento e, de nada adianta tê-lo “bombando” na atmosfera se, ao mesmo tempo, o aquecimento global causa inundações em sua região. Os efeitos combinados do aumento do CO2 e demais variáveis climáticas é que definem ganhos e perdas. Um estudo da Embrapa³ sobre isso mostrou grandes mudanças nos locais adequados para cada uma das principais culturas no Brasil. Esse estudo mostra que a área de risco do plantio de milho e soja se expande muito com a subida das temperaturas, que devem aumentar também o abortamento, por exemplo, de flores do café, laranja e feijão. Com relação às pastagens brasileiras, apesar das nossas forrageiras tropicais serem responsivas ao aumento de CO2 e temperatura, o balanço geral desse estudo mostra que haveria redução na produção, em função do aumento de déficit hídrico, pois a planta perde mais água com a temperatura mais alta e também por um aumento na duração dos períodos de seca.

7) “Modelos de computador do IPCC erram muito”: Nesse ponto, o palestrante usou texto do próprio relatório do IPCC igualando as “incertezas”, que honestamente o relatório autodeclara, com “não saber nada”.  A primeira crítica é que o texto selecionado é do IV relatório, lançado há 10 anos.

Desde 2014, já há o V relatório que continua expondo as incertezas, mas que são consideravelmente menores. O fato é que os valores estimados de temperatura obtidos com os modelos já estavam próximos dos valores observados em 2014. Os modelos são continuamente melhorados e, os atuais, têm seus prognósticos ficando em valores muito próximos aos observados.

8) “Consenso científico”: O palestrante usou um levantamento científico (Legates, Soon e Briggs, 2013) que desbancaria outro (Cook et al., 2013), pois apenas 0,37% dos trabalhos atribuiriam o aumento da temperatura à ação do homem e não 97,0%, como declarado no trabalho de Cook. A questão é que Legates e seus colaboradores consideraram todos os trabalhos na conta, incluindo mesmo os que não tomavam posição, o que implicaria em aceitar a premissa (furada), que “...se não falou que acredita haver ação humana no AG, então ele não acredita que haja!”. Cook e colaboradores têm a seu favor terem enviado questionários para os autores dos trabalhos e, da mesma forma que a avaliação do conteúdo, 97,0% dos que responderam ao questionário concordavam com o aquecimento global antropogênico. Existem vários outros trabalhos, feitos de diferentes formas com resultados muito próximos desse. O mais interessante deles mostra uma estreita relação entre a concordância com o aquecimento global por ação humana e o grau de expertise do cientista do clima, ou seja, quanto mais especializado o climatologista, maior o grau de concordância com o fato do homem mudar o clima.

9) “Vai ter um capítulo inteiro sobre a farsa do aquecimento global no livro do Snowden”: Os pontos de 1 a 8 acima mostram que o palestrante usou informações: (a) equivocadas (item 1, item 3, item 4), (b) que contradizem seu próprio discurso (item 2, item 6), (c) inconsistentes (item 5) e (d) tendenciosas (itens 6, 7 e 8). Esse item 9, por sua vez, mostra a falta de cuidado com suas fontes: a única origem desta “notícia” que envolve o famoso delator americano atualmente exilado na Rússia, Edward Snowden, é um site satírico o worlddailyreport.com. Alguns exemplos de “notícia” desse site: “Empregado de Zoológico na Flórida morto ao tentar estuprar um jacaré”; “Homem morre de hemofilia depois de comer 227 litros de sorvete” e “Príncipe Saudita oferece 10 milhões de dólares para passar uma noite com Kim Kardashian”. Um bom exemplo de como o palestrante se certificou de ter apenas informações 100,0% confiáveis, afinal, nas palavras dele, seu objetivo era apenas trazer os fatos para a plateia decidir, sem querer fazer valer sua narrativa a qualquer custo.

A outra parte da palestra foi sobre geopolítica, na qual, basicamente ele defendeu que há um complô internacional em que um grupo chamado de “Eles” faz o diabo para manter a farsa do aquecimento global como método de dominação. Em nenhum momento ele claramente “deu nome aos bois” para esse “Eles” que repetiu por várias vezes. Da narrativa que ele propõe, subentende-se que seria uma elite rica e poderosa de nacionalidades indefinidas que, segundo ele, “...visa aplicar métodos de controle total sobre a humanidade”.

De sete características que definem uma “teoria conspiratória”, vejamos como a narrativa do palestrante se encaixa: 

1) As ligações entre as diferentes partes da narrativa não são óbvias: Saneamento básico, uma empresa de energia renovável em falência na Alemanha em 2014, a retirada, por decisão judicial de algumas torres eólicas em frente a um castelo na França, a dívida pública brasileira (inexistente, segundo ele), problemas com usinas eólicas e aumentos do preço da energia no Brasil, entre tantas outras coisas, foram conectados entre si e o aquecimento global.

2) Os agentes responsáveis têm poderes ilimitados: Os “Eles” do palestrante são donos da ONU, dominam a maioria das agências governamentais no mundo e conseguem fazer a maior parte da comunidade científica agir como macacos amestrados que, então, se presta a gerar uma infinidade de dados falsos para embasar a fraude.

3) É complexa e exige muitos elementos: É exatamente o que temos juntando o que foi citado nos dois itens anteriores. 

4) Dá significado sinistro e perigoso mesmo para algo que é inócuo: Na sua narrativa, o IPCC não é um órgão da ONU composto por 2 mil cientistas de 154 países para ser um fórum sobre mudanças climáticas, mas um inimigo que usa de toda baixeza para criar um jeito de cobrar impostos e o que mais puder fazer para atrapalhar os países pobres. Outro exemplo: colocou como se o “Acordo de Paris” fosse danoso à economia dos países, o que seria o caso apenas por escolha do país signatário, uma vez que, neste acordo, as metas voluntárias são definidas exclusivamente por cada um dos países. Além disso, não há medidas legais ou punições na hipótese de não cumprimento. 

5) Há suspeita indiscriminadas de órgãos oficiais ou grupos privados: O melhor exemplo para isso foi à absurda proposta de criar uma rede de meteorologia privada paralela à oficial. O palestrante até fez a conta e, por módicos R$0,14 por saca de soja, seria capaz de montar essa rede paralela. Não consigo imaginar jeito melhor de jogar fora os cerca de R$260 milhões que isso representa. No Brasil, os dados meteorológicos são gerados pelo Instituto de Meteorologia (InMet) de forma séria e totalmente transparente. Qualquer pessoa tem acesso aos dados de todas as estações. Assim, se alguém desconfiar dos dados e quiser mostrar falhas no sistema, provaria facilmente.

6) Qualquer informação contrária à narrativa está errada: O teorista da conspiração não aceita qualquer evidência em contrário, procurando apenas o que prove o seu ponto, não importe o que seja. Isso explica a insistência do uso de gráficos incompletos, dados antigos que já foram revistos, a crença que dados alterados são sempre por manipulação e não por revisão e da gana em usar qualquer informação que ajude a narrativa, sem critério. Por exemplo, ele coloca os aumentos das tarifas de energia em 2015 e 2016 no Brasil como ligado ao uso de fontes alternativas de energia, sem considerar os efeitos das decisões do governo Dilma no setor de energia e da consequente necessidade do aumento das contas de luz para compensar o uso que foi feito do controle das tarifas públicas para segurar artificialmente a inflação.

7) Uma grande ambição está envolvida: Controlar o mundo é uma das ambições favoritas de quem cria uma teoria conspiratória, o que se aplica a esta criada pelo palestrante.

Curiosamente, em nenhum momento houve qualquer implicação sobre uma das indústrias mais interessadas em negar o aquecimento global que é a poderosa indústria petrolífera.

 A palestra, contudo, tinha no seu “slide” de abertura os dizeres “Apresentação Especial para a Feira (sic) CONFINAR” e a agropecuária devia ser o assunto principal. Para tal, ele trouxe o slide da “A vaca lança-chamas” (a foto de um animal lançando uma língua de fogo pelo ânus), em menção às emissões de metano, que veio junto com o hiperbólico aviso de que “... destruíram todos os setores, falta a agropecuária”. Depois de Al Gore (“Amazônia é de todos...”), da “Lei de Imigração brasileira”, de que o “Brasil vai acabar, quebrado como Portugal...”, e ameaças à nossa soberania, passou a demonizar os painéis da ONU, que representariam grande risco ao Brasil. Como se eles tivessem amplos poderes e não fossem fóruns para conciliar objetivamente o conhecimento científico em sua área de atuação e suas implicações sociais e econômicas.Sobre o painel da Biodiversidade (IPBes), disse que ele fará os produtores pagarem à natureza por serviços ambientais, quando na verdade, por atuação dos representantes dos países membros pode exatamente, ocorrer o contrário. O IPBes pode sugerir (e somente, sugerir!) a política de “pagamento por serviços ambientais”, por exemplo, pagando os produtores rurais pela água que é produzida em sua propriedade. Todavia, o recado dele para a plateia de pecuaristas foi basicamente: ”Vocês são os alvos!”, mantendo o terror como método. 

Mas, como dizem, o medo é o pior conselheiro!

O pecuarista então, nesta perspectiva sombria teria pouco a fazer? Nada disso! O aquecimento global já foi um prato indigesto, mas, hoje, especialmente depois de muito trabalho, inclusive de cientistas brasileiros, temos uma compreensão melhor e podemos resolver o problema lucrando com ele.

A questão é que o metano, o gás de efeito estufa (GEE) que a pecuária tem uma expressiva contribuição, é uma perda de energia na produção animal. Uma parte dela é inevitavelmente perdida, pois faz parte da bioquímica dos ruminantes. Uma pequena taxa para poder produzir proteína nobre de capim!

Todavia é possível reduzir essa perda, transformando parte dessa energia, que iria literalmente pelos ares, em mais carne, produzida com maior rentabilidade. O que ocorre é que, quanto menor a idade de abate, menor a produção de metano para cada quilograma de carne produzida. Isso ocorre tanto porque o animal permanece menos tempo emitindo o metano, como porque ele emite menos para cada quilograma de comida que consome.

A emissão de metano no Brasil pode ser grandemente reduzida se aumentarmos nossos índices de produção, pois, vacas vazias e animais perdendo peso na seca, por exemplo, só produzem metano, sem produzir carne. Vários técnicos defendem que, apenas com manejo de pastagem, podemos produzir uns 30,0% a mais de carne no ano. Usando tecnologia disponível hoje (novas forrageiras, sistemas integrados, técnicas reprodutivas, touros melhoradores, etc.) podemos dobrá-la ou ir além. Reduz-se o metano emitido por quilograma de carne produzida, considerada a melhor métrica para vencer esse desafio.

Trabalhos feitos por brasileiros em cooperação com uma universidade escocesa mostraram que, ideias como a tarifa sobre a carne, ao desincentivar o produtor, aumentariam a emissão, por fazer o produtor descuidar dos seus pastos, que passariam a degradar e a, consequentemente, liberar o carbono do solo. Essa mesma parceria, em outro trabalho, mostrou que tecnologias simples como a suplementação de pastagem, não só reduzem a emissão, mitigando o efeito estufa, mas fazem o produtor ganhar mais dinheiro. 

Já temos estratégias de carne com emissão zero de carbono (Carne Carbono Neutro, criado por colegas da minha unidade) e trabalhos mostrando como o carbono fixado pelas pastagens bem manejadas pode dar uma enorme contribuição para a questão de sequestro do carbono atmosférico. Nossos solos tropicais sob pastagem seriam como imensas caixas a serem preenchidas. No processo de enchê-las, teremos o trabalho de tratar bem as pastagens, mas com o benefício de produzir mais carne de forma mais rentável.

Enfim, ao contrário do terror pregado pelo palestrante, a solução para o enfrentamento do aquecimento global está alinhada com um futuro promissor para a pecuária.  

Espero que esse texto ajude a esclarecer a questão em prol de ajudar a enfrentá-la racionalmente, além de servir de alerta para o encantamento com discurso fácil daqueles que, ao falarem o que queremos ouvir, nos desviam do melhor caminho.

Evidências do aquecimento global

1) Nível dos oceanos: O nível dos oceanos subiu 20 cm no último século e a taxa de aumento do nível é dobro disso hoje.

2) Temperatura média da superfície: Subiu 1,1oC desde o século 19.

3) Aquecimento dos oceanos: Os oceanos absorveram grande parte desse aumento de calor, com os 700 metros superiores de oceano mostrando o aquecimento de 0,17 graus Fahrenheit desde 1969.

4) Camadas de gelo encolhendo: As camadas de gelo da Groenlândia e da Antártida tiveram sua massa reduzida. A Groenlândia perdeu 150 a 250 quilômetros cúbicos de gelo por ano entre 2002 e 2006, enquanto a Antártida perdeu cerca de 152 quilômetros cúbicos de gelo entre 2002 e 2005.

5) Declínio do gelo do Mar Ártico: Tanto a extensão como a espessura do gelo marinho do Ártico diminuíram rapidamente nas últimas décadas.

6) Recuo das geleiras: As geleiras estão recuando quase em todo o mundo - incluindo nos Alpes, Himalaia, Andes, Montanhas Rochosas, Alasca e África.

7) Eventos extremos: O número de eventos de alta temperatura recorde nos Estados Unidos tem aumentado, enquanto o número de eventos recorde de baixa temperatura vem decrescendo, desde 1950. Os EUA também assistiram a um aumento crescente de eventos intensos de chuva.

8) Acidez dos oceanos: Desde o início da Revolução Industrial, a acidez das águas oceânicas de superfície aumentou em cerca de 30,0%. A quantidade de dióxido de carbono absorvida pela camada superior dos oceanos está aumentando em cerca de 2 bilhões de toneladas por ano.

9) Redução da área coberta por neve: As observações por satélite revelam que a quantidade de cobertura de neve da primavera no Hemisfério Norte diminuiu nas últimas cinco décadas e que a neve está derretendo mais cedo.

Fonte: https://climate.nasa.gov/evidence/


“Gostaria de agradecer aos meus colegas pesquisadores da Embrapa Gado de Corte pela revisão, correção e sugestões feitas sobre o rascunho deste texto: Marlene de Barros Coelho, Fernando Alvarenga Reis e Marina de Aragão Pereira”.

 

[1] Fonte: http://www.ferdinand-engelbeen.be/klimaat/co2_measurements.html

[2] Um exemplo: Quando as agências de saúde dos EUA estavam prevendo o risco de Zika no país em 2016, um dos alertas era que a ocorrência do Aedes, o inseto vetor do vírus, vinha se expandindo mais ao Norte do país, por conta dessas regiões estarem com médias mais elevadas de temperatura.

[3] https://www.agritempo.gov.br/climaeagricultura/CLIMA_E_AGRICULTURA_BRASIL_300908_FINAL.pdf


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