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Carta Insumos - As chuvas podem mudar o mercado do boi gordo


Quinta-feira, 28 de janeiro de 2016 - 16h00


A inflação, a taxa de juros, o tamanho da recessão, a saúde financeira dos frigoríficos, os custos de produção, a força da China, Venezuela e Rússia como compradores de carne do Brasil. Essa “cesta” de indicadores, totalmente incertos para 2016, determinarão os rumos da pecuária. E o clima, da forma que vem se comportando, é mais um fator dentro desse “balaio” de fundamentos que precisam ser acompanhados de perto.


Faltou chuva no último trimestre de 2015 em praticamente toda região Centro-Oeste, Norte, Nordeste e parte do Sudeste do país. Em algumas áreas, a falta acumulada chegou a ficar 700 milímetros abaixo do esperado. Figura 1.



Esse cenário salta aos olhos, já que muita coisa poderá mudar a partir desses eventos climáticos. Seguem algumas observações a respeito.


A primeira delas, está consolidada. A seca interferiu no mercado e,  derrubando a oferta de boiadas, contrariou as expectativas baixistas para janeiro - já que se esperava uma combinação de safra de boi e redução de consumo agravado pela crise econômica. O que aconteceu foi a cotação da arroba, em muitos estados, alcançar o maior patamar nominal já registrado.


Segunda. Essa é “silenciosa” e, por enquanto, menos notável, deverá passar despercebida por muitos agentes do setor em 2016. É o desempenho das matrizes. Colocadas em monta entre o final de 2015 e os primeiros meses deste ano, sem oferta suficiente de forragem, devem ter os índices de prenhez prejudicados e a safra de bezerros, lá em 2017, certamente será afetada negativamente. Os estados mais secos são importantes regiões de cria.


Mesmo as chuvas tendo voltado em janeiro, a previsão do Instituo Nacional de Meteorologia (Inmet), indica que até no final de abril, essas regiões continuarão com precipitações abaixo do normal para o período (Figura 2). Ou seja, adiar a estação de monta, não deve ser a solução.



Com menos bezerros, talvez a possível virada de ciclo prevista para 2017 e o efeito nocivo de dois anos de recessão, 2015 e 2016, tenham um bom contraponto. 


Mais uma possibilidade relacionada a isso. De alguma forma, a seca de 2016 pode levar mais fêmeas ao gancho este ano do que iriam em uma situação de clima normal, prejudicando uma possível recuperação do rebanho.


Terceira consideração. Os efeitos disso no mercado do boi gordo em 2016. Acredita-se, até então, em um ano de “briga” entre inflação e boi gordo para ver quem sobe mais. A seca que se apresenta nos próximos meses, para grande parte do território nacional, embora faça muito pecuarista coçar a cabeça, já que encarece a operação e dificulta o manejo, é uma forte aliada da valorização real da arroba. Pode deixar o mercado mais firme do que se esperava em 2016.


Quarta consideração, uma ramificação da terceira. Se ajuda o pecuarista em termos de preços, a seca tende a aumentar a dificuldade dos frigoríficos em comprar matéria prima, o boi gordo. Isso ocorrendo e, não descartando até o final do ano, mais altas para energia elétrica, frete (diesel) e para taxa de juros, estes podem ter suas margens mais apertadas. Já vimos em 2015 que, quando isso ocorreu, a pressão sobre as cotações da arroba cresceu muito e dezenas de indústrias foram desativadas.


Quinta consideração. E última. Esta é referente ao confinamento. As regiões mais secas são as que concentram os confinamentos e grande parte da produção de grãos no Brasil. É certo que, com menos chuva, a safrinha de milho pode ser prejudicada e elevar ainda mais os custos da dieta, que já começaram o ano consideravelmente acima dos patamares vigentes em 2015.


Por outro lado, os recriadores do Centro-Oeste, Norte e Nordeste, vendo a dificuldade para manter as boiadas na fazenda, sem oferta abundante de forragem, podem forçar a venda e isso passa por entregar o boi magro em preços mais competitivos para os invernistas. Sendo estes responsáveis por 70,0% do custo total da atividade, pode facilitar a operação.


Por fim, estas cinco considerações, só trazem incertezas. Todas passarão, inicialmente, pela confirmação das previsões climáticas apresentadas agora, no início do ano. Mas aumentam a necessidade de acompanhamento rotineiro do mercado. 


Com tantas variáveis, será um ano, mais do que outros, para identificar o que é uma empresa pecuária e o que é a pecuária de baixo desempenho.



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