• Quarta-feira, 19 de novembro de 2025
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Scot Consultoria

O que a margem da indústria indica sobre a cotação do boi gordo?

Um olhar para a margem da indústria frigorífica e o potencial para o preço da arroba do boi gordo no fim de 2025.


Foto: Bela Magrela

Foto: Bela Magrela

Originalmente publicado em Revista DBO

O boi gordo é uma commodity e, como toda commodity, quem determina o preço é o mercado. E o mercado, quem direciona? No aspecto econômico, a oferta e a demanda.

Desde 2022, a oferta está boa – reflexo da fase de baixa do ciclo pecuário de preços e do descarte de matrizes. O Brasil nunca abateu e produziu tanta carne bovina em sua história – veja na figura 1.

Figura 1.
Abate de bovinos em milhões de cabeças e produção de carne bovina, em milhões de toneladas de equivalente carcaça (tec.), por ano.

*estimativa.
Fonte: IBGE / Elaboração: Scot Consultoria.

Mas se a oferta está boa, por que os preços subiram no fim de 2024 e, ao longo de 2025, tem se mantido praticamente estáveis (figura 2)?

Figura 2.
Bovinos abatidos no Brasil, em milhões de cabeças, no eixo da esquerda e a cotação da arroba do boi gordo, por mês, no eixo da direita, entre janeiro de 2022 e junho de 2025.

Fonte: IBGE / Scot Consultoria.

Em 2024, com uma demanda firme e redução do abate no último trimestre do ano, em relação aos trimestres anteriores, o mercado ganhou firmeza, que se sustentou ao longo de 2025 – apesar do aumento de oferta.

Se a oferta está boa, o que tem direcionado a cotação da arroba do boi gordo é a demanda. Neste ano o destaque é a exportação, que nunca teve desempenho tão bom e tamanha participação no escoamento da produção de carne bovina (figura 3).

Figura 3.
Participação (%) do mercado interno e da exportação no escoamento da produção de carne bovina.

Fonte: IBGE, Secex / Elaboração: Scot Consultoria.

O que a margem da indústria tem a ver com o preço do boi?

Em meados de novembro de 2024, após forte alta, a cotação do boi gordo chegou em sua máxima no ano e esteve cotada a R$355,00/@ para o “boi China”, e R$350,00/@, para o boi comum, preços brutos e com prazo.

Será que o preço pode, neste fim de 2025, novamente chegar a tais patamares? É aqui que entra a margem da indústria.

Na indústria frigorífica, a aquisição do boi gordo pode representar até 70,0% do custo total.

O Equivalente Scot Desossa é um indicador da receita obtida pelo frigorífico com a venda de carne sem osso, couro, sebo, miúdos, derivados e demais coprodutos bovinos. É o índice que representa o faturamento do frigorífico no mercado interno que desossa, e leva em consideração a venda de: carne sem osso + couro + sebo + miúdos + derivados + coprodutos.

Este indicador não mede o lucro líquido, mas é um bom termômetro da saúde da operação.

A margem média do Equivalente Scot Desossa da Scot Consultoria, considerando novembro de 2024, que mede apenas a venda para o mercado interno, à época, atingiu 4,6%, a menor média mensal desde 2019 – a margem média no ano, porém, ficou em 23,4%.

Assumimos que, à época, o maior giro de mercadorias no mercado interno, com a melhora da capitalização da população no final do ano e o bom desempenho da exportação – com um dólar que estava próximo dos R$6,00, justificavam tal movimento.

Em 2025, até setembro, a margem média mensal está em 16,7%, menor do que a média de 2023 e 2024. Veja na figura 4.

Figura 4.
Margem (%) média mensal do Equivalente Scot Desossa.

Fonte: Scot Consultoria.

Com o preço da arroba do boi gordo acima dos R$300,00 ao longo de 2025, o repasse da firmeza do preço do boi gordo foi repassado à carne bovina no mercado atacadista sem osso (veja na tabela 1) – ou seja, o mercado absorveu a alta ao longo da cadeia e, manteve os preços firmes (apesar de oscilações pontuais).

Tabela 1.
Preço médio dos cortes no mercado atacadista da carne sem ossos em São Paulo, em R$/kg, e a variação em diferentes períodos. Data-base: 21/10/25.

Cortes R$/kg Variações (%)
Uma semana Um mês Um ano
Acém 24,02 0,00% -1,52% 2,26%
Alcatra (miolo) 34,74 0,00% -0,59% 1,59%
Alcatra com maminha 33,30 0,00% -0,53% 5,35%
Alcatra completa 40,23 0,00% -0,16% -0,05%
Capa de filé 25,62 0,00% -0,83% 10,08%
Contrafilé 37,74 -0,45% -1,20% 3,74%
Coxão duro 29,05 -0,49% -3,60% 5,29%
Coxão mole 31,16 0,00% -2,28% 5,31%
Cupim 33,39 -0,35% 0,17% 3,73%
Filé mignon com cordão 54,59 0,00% 0,79% 2,35%
Filé mignon sem cordão 60,59 0,00% 1,04% 5,13%
Fraldinha 30,02 0,00% -1,29% -0,62%
Lagarto 28,21 0,00% -0,55% 5,77%
Lombinho 21,01 0,48% 0,41% 6,65%
Maminha 33,04 -0,43% -1,70% -1,75%
Músculo 24,78 -0,29% -1,62% 9,92%
Paleta com músculo 24,01 0,00% -1,75% 1,72%
Paleta sem músculo 24,41 -0,34% -1,55% 0,49%
Patinho 32,16 0,00% -0,84% 8,33%
Peito 24,08 0,12% -0,71% 1,63%
Picanha (A) 57,02 0,00% -0,10% -4,04%
Picanha (B) 45,77 0,09% 0,41% -4,53%

Fonte: Scot Consultoria

No setor exportador, o mercado também justificou a firmeza da cotação da arroba.

A cotação média da tonelada de carne bovina in natura exportada, entre janeiro e setembro, subiu 18,0% em 2025 estando em US$5,3 mil/t. A cotação média do dólar no mesmo período esteve em R$5,65, enquanto, em 2024, a referência era de R$5,25.

Tabela 2.
Cotação média mensal do dólar, da carne bovina exportada e da cotação convertida em reais.

Mês 2024 (A) 2025 (B) Variação % (B/A)
Dólar (R$) Carne (US$/kg) Carne (R$/kg) Dólar (R$) Carne (US$/kg) Carne (R$/kg) Dólar (R$) Carne (US$/kg) Carne (R$/kg)
jan 4,91 4,52 22,21 6,02 5,03 30,29 22,5% 11,3% 36,4%
fev 4,97 4,53 22,49 5,77 4,93 28,42 16,1% 8,8% 26,4%
mar 4,98 4,53 22,56 5,75 4,90 28,16 15,4% 8,2% 24,8%
abr 5,13 4,53 23,24 5,78 5,03 29,09 12,7% 11,0% 25,2%
mai 5,13 4,50 23,10 5,67 5,20 29,47 10,4% 15,6% 27,6%
jun 5,39 4,47 24,09 5,55 5,45 30,23 2,9% 21,9% 25,5%
jul 5,54 4,41 24,44 5,53 5,55 30,68 -0,2% 25,9% 25,5%
ago 5,55 4,44 24,65 5,45 5,60 30,50 -1,9% 26,1% 23,7%
set 5,55 4,51 25,01 5,37 5,62 30,16 -3,2% 24,6% 20,6%

Fonte: Banco Central do Brasil, Secex / Elaboração: Scot Consultoria

A exportação está bem, com um recorte mais interessante do que há um ano e remunerando melhor do que em 2024. Até o fim do ano esperamos que a exportação continue firme e sem grandes alterações de preços e volumes – o dólar, porém, poderá ser um diferencial para a alta.

Isso quer dizer que a arroba voltará aos R$350,00?

O volume de carne bovina exportada representou, em 2024, 37,3% da produção brasileira. Em 2025, até setembro, representou 38,1%. Ela, considerando o exposto e a possibilidade de um dólar mais forte, poderá favorecer a cotação da arroba do boi.

Mas o mercado interno é o principal destino da carne bovina. Considerando a margem de novembro de 2024, que fora a mais apertada do passado recente e, logo em seguida, a indústria “perdeu o fôlego” a trataremos como “piso” para a arroba nos próximos meses.

A partir dessa premissa, simulamos diferentes cenários de preços para a arroba do boi gordo e, consequentemente, seu impacto na margem do Equivalente Desossa da Scot Consultoria, mantendo os atuais preços dos outros componentes que fazem parte do indicador.

Não acreditamos, se nenhuma questão sanitária ou geopolítica interferir o mercado até o fim do ano, em preços em queda até o fim de 2025, por isso, nessa simulação, apresentamos apenas os cenários com uma cotação no atual preço e a preços maiores.

Em São Paulo, com a cotação da arroba em R$310,00, a margem do Equivalente Desossa da Scot Consultoria é de 13,7%.

Tabela 3.
Estimativa da margem (%) da indústria frigorífica, medida pelo Equivalente Scot Desossa, em diferentes cenários de preços da arroba do boi gordo.

Aumento em relação à cotação vigente em 20/10 Cotação do boi gordo (R$/@) Equivalente Scot Desossa (%)
- R$ 310,00 13,7%
1,6% R$ 315,00 11,9%
3,2% R$ 320,00 10,2%
4,8% R$ 325,00 8,5%
6,5% R$ 330,00 6,8%
8,1% R$ 335,00 5,3%
9,7% R$ 340,00 3,7%
11,3% R$ 345,00 2,2%
12,9% R$ 350,00 0,7%

Fonte: Scot Consultoria

Expectativa

Mantendo a premissa de que a média de 4,6% foi o “limite” em 2024, com a manutenção dos preços de venda após o abate e desossa até o fim do ano (ou seja, sem repassar aumentar ao longo da cadeia), o pico para a cotação da arroba do boi gordo ocorreria entre R$330,00 e R$340,00 – mais precisamente, R$336,00/@.

No mercado futuro (B3), o contrato com referência para dezembro/25 encerrou em 20 de outubro, em R$330,90. Ou seja, pode haver “fôlego” para um movimento acima do esperado pelos agentes de mercado.

Se o comprador no mercado interno absorver um repasse de preços com o aumento da arroba do boi gordo – pensando na carne bovina – e a exportação continuar firme, e com um dólar próximo aos R$5,50, sonhar com uma recuperação mais contundente ao fim de 2025 não seria absurdo.

É claro que, quando se trata de economia e consumo, outros fatores devem ser avaliados. O endividamento do consumidor brasileiro, a concorrência com as outras carnes, a geração de empregos, renda per capita etc.

Porém, os ventos parecem soprar favoráveis em relação a um mercado mais firme, do que o que acompanhamos até o momento em 2025.

Esperar para ver.

Alcides Torres

Engenheiro agrônomo, formado na Esalq/USP, Piracicaba/SP. Fundador e CEO da Scot Consultoria. Atua na área de ciências agrárias, análises e consultoria de mercados agropecuários. É analista e consultor de mercado, com atuação nas áreas de pecuária de corte, leite, grãos e insumos agropecuários. É palestrante, facilitador e moderador de eventos conectados ao agronegócio. Atuou como Membro de Conselho Consultivo de empresas do setor e dirige as ações gerais da Scot Consultoria.

Felipe Fabbri

Zootecnista, formado pela FCAV/Unesp, Jaboticabal/SP, mestre em zootecnia na área de nutrição e alimentação de monogástricos pela FCAV/Unesp, Jaboticabal/SP. Coordenador da equipe de inteligência de mercado. É consultor de mercado das áreas de proteínas de origem animal (boi gordo, frango, ovos, suínos), grãos (milho, soja, algodão, trigo), coprodutos e insumos agrícolas. Responsável pela elaboração de projeções e cenários de oferta e demanda para os mercados em curto, médio e longo prazo. É editor-chefe de Cartas de cunho de mercado de responsabilidade da Scot Consultoria (Grãos, Insumos e Boi), do Relatório do Mercado Terras, dos informativos “Boi Companhia” e “Tem Boi na Linha” e demais publicações da Scot Consultoria. Redator e revisor das análises da Scot Consultoria publicadas nas revistas Coopercitrus, Balde Branco, Agroanalysis, BroadcastAgro e outras publicações especializadas na área. Ministra palestras, cursos e treinamento nas áreas de mercado do boi, grãos e assuntos relacionados à pecuária e agricultura em geral.

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