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Scot Consultoria

Manejando e controlando plantas daninhas da pastagem - parte 4


Terça-feira, 24 de setembro de 2024 - 06h00

Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação nas Faculdades REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC - Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda; Investidor nas atividades de pecuária de corte e de leite.


Foto: Bela Magrela


Na quarta e última parte dessa série de artigos sobre “manejando e controlando plantas daninhas da pastagem” descreverei o método de controle químico localizado no caule, no toco e na gema das plantas, e finalizarei apresentando a relação de benefício/custo do controle de plantas daninhas da pastagem, os avanços e os desafios dessa área.

Para o controle químico de plantas daninhas de portes subarbustivos, arbustivos e arbóreos, que possuem folhas espessas, com cerosidade e espelhamento, caules lignificados e suberizados (com casca grossa e morta) têm dois métodos de aplicação de herbicidas localizado. Vamos a esses.

Aplicação no caule: é um método para a aplicação de herbicidas sistêmicos de forma dirigida na base de plantas com diâmetro de caule menor que 10cm de espessura no seu terço inferior. O herbicida é aplicado na base do caule através de pulverização sem precisar cortar o mesmo. Os herbicidas para este método de controle são à base da mistura dos ingredientes picloram e triclopir. A dose varia de 4 a 8% da calda misturado a óleo diesel (92 a 96%). Este método de controle pode ser realizado em qualquer época do ano. A solução deve ser pulverizada no terço inferior do caule e na coroa da planta até o ponto de escorrimento da calda.

Aplicação no toco: é um método para a aplicação de herbicidas à base do ingrediente ativo picloram em plantas daninhas de portes subarbustivo, arbustivo e arbóreo com diâmetro de caule maior que 10cm de espessura no seu terço inferior. O herbicida é aplicado no toco até o ponto de escorrimento da calda, logo após o corte do caule rente ao solo e a sua secção em cruz. Naquelas plantas que vem sendo roçadas periodicamente é preciso cavar o solo em volta da base da planta até uma profundidade abaixo dos seus órgãos de reservas, onde se formam engrossamento da coroa da planta e do sistema radicular. A raiz deve ser cortada abaixo deste ponto e o herbicida pulverizado sobre a parte da raiz que permanecer no solo. Em áreas onde houve queimada esperar a rebrota das plantas daninhas para fazer este tipo de controle. E nas áreas onde este método de controle for executado evite queimadas por no mínimo 30 dias. Em áreas onde o solo estiver encharcado esperar o período da seca para realizar este método de controle, quando o solo estiver seco. A dose varia entre 1 a 2% na calda feita com água (98 a 99%) e não acrescentar adjuvantes. Este método de controle pode ser realizado em qualquer época do ano.

Já para o controle específico de palmáceas, por exemplo, a pindoba, a aplicação devem ser na gema da planta (no ponto de crescimento, conhecido popularmente por “no olho”). O herbicida para este método de controle é a base do ingrediente ativo triclopir e é misturado em óleo diesel (95%) na proporção de 5% do volume da calda e aplicado na dose de 5 a 10ml na gema da planta.

Concluído o conteúdo sobre os métodos de aplicação localizado, seguem orientações básicas que devem ser adotadas em todas as modalidades do método de controle químico de plantas daninhas, aplicação foliar ou localizada no caule, no toco ou na gema das plantas.

Para herbicidas que devem ser misturados com água esta deve ser limpa, isenta de argila em suspensão, sem a presença de sais em excesso e com pH abaixo de 6,0. Se o pH for maior que 6,0 é preciso usar redutores de pH.

Os herbicidas de pastagens têm intervalo de segurança de apenas um dia, enquanto o intervalo de reentrada de pessoas é de cinco dias para até duas horas de atividade na área, e de 23 dias para 8 horas de atividade na área. Antes destes intervalos de reentrada o trabalhador deverá estar vestindo o equipamento de proteção individual (EPI).

O uso sucessivo de herbicidas do mesmo mecanismo de ação para o controle do mesmo tipo de planta daninha pode levar a um aumento da população desta planta se esta for resistente a esse mecanismo de ação, levando a perda da eficiência do produto.

As tecnologias validadas em pesquisa e em fazendas comerciais apresentam suas relações de benefício/custo. É uma pena que a maioria dos pecuaristas e muitos técnicos acabam tendo informações apenas do custo das tecnologias, mas não dos seus benefícios. E é compreensível este fato porque é relativamente fácil ter informações sobre o custo de uma tecnologia. Por exemplo, a do custo do controle químico de plantas daninhas de pastagens é só ir a um distribuidor local, levar um técnico deste na fazenda para ele fazer o levantamento das espécies e da população das plantas daninhas e seus estádios de desenvolvimento para orientar o tipo de produto comercial, sua dose, forma de aplicação etc., e orçar o custo do controle. Mas e o benefício da adoção desta tecnologia? A maioria não sabe quantificá-lo. Para tal é preciso mergulhar no conhecimento científico, estudando os resultados de pesquisas de especialistas que dedicaram ou ainda dedicam à pesquisa na área da tecnologia em questão por 20, por 30, por 40 anos ou mais.

As relações de benefício/custo do controle químico de plantas daninhas de pastagens podem ser calculadas com base em resultados de pesquisas e de campo quando se compara a produtividade de carne, leite ou lã em pastagem mantidas sem plantas daninhas com pastagens infestadas.

A amplitude de variação nas relações de benefício/custo calculadas para a produção de carne bovina foi de R$1,10 a R$4,60:R$1,0, ou seja, para cada R$1,00 gasto no controle químico de plantas daninhas é possível ter um resultado de R$1,10 a R$4,60 livres após o desconto do custo. Esta amplitude de variação é devida aos seguintes fatores: se a pastagem estava sendo estabelecida ou já estava em manutenção; as espécies de plantas daninhas presentes e a sua população; seu estádio de desenvolvimento; os tipos de herbicidas aplicados; e o método de aplicação (se manual localizado, se foliar tratorizado, se foliar aéreo).

Para a conclusão da relação de benefício/custo do controle de plantas daninhas de pastagens é o quanto este custo impacta proporcionalmente o custo operacional. Nas três fases do ciclo pecuário da pecuária de corte, na cria, na recria e engorda representa em média entre 1,7% a 2,9% dos custos da atividade, proporção de custo que não justificaria a não adoção do seu controle.

A indústria de herbicidas lançou o primeiro produto comercial em 1965 para aplicação foliar à base dos ingredientes ativos 2,4 D e picloram, em 1990 lançou herbicida a base de triclopir, como alternativa para o controle localizado de palmáceas, em 1997 o lançamento de picloram puro para o controle localizado no toco, em 2006 o ingrediente aminopiralide, em 2007 o herbicida a base dos ingredientes picloram mais triclopir para o controle localizado no caule sem precisar cortá-lo e em 2018 chegou ao mercado herbicidas com a mistura tríplice dos ingredientes ativos aminopiralide mais picloram mais triclopir para o controle de plantas daninhas de difícil controle. Em 2022 a área de pastagens com controle químico de plantas daninhas somou 31,8 milhões de hectares. Em 1965 e em 2022, apenas um fabricante, que foi o pioneiro no desenvolvimento e lançamento de ingredientes de herbicidas de pastagens vendeu herbicidas para o controle em 325 mil e 14,2 milhões de hectares, respectivamente, um aumento de 43,7 vezes. 

O avanço mais recente na tecnologia de controle químico de plantas daninhas de pastagens foi o lançamento em 2020 de herbicidas da linha Ultra-S, que tem uma concentração 25% mais alta dos ingredientes ativos contribuindo para controlar uma maior área por litro de produto e a redução de até 50% na necessidade de embalagens. 

Entretanto, todo o conhecimento sobre controle químico de plantas daninhas de pastagens acumulado em 55 anos e descrito resumidamente nesta série de quatro artigos é aplicado ao controle de plantas dicotiledôneas (latifoliadas, de folhas largas). Mas, nos últimos 30 anos as pastagens têm sido infestadas por plantas monocotiledôneas (de folhas estreitas, gramíneas ou capins). Existem vários capins infestantes de pastagens no Brasil, mas os que têm trazido maiores prejuízos à pecuária são os capins annoni (Eragrostis plana), o barba-de-paca, ou BM, ou capeta, ou cortisia, ou de Luca, ou mourão (Sporobolus indicus) e o capivara, ou cabeçudo, ou navalha, navalhão, ou taripuco, ou tiriricão (Paspalum virgatum). Além destes que atualmente são os que mais preocupam os pecuaristas, ainda tem os capins rabo-de-burro, ou bezerra, ou peba, ou vassoura (Andropogon bicornis) e o amargoso (Digitaria insularis). 

Infelizmente, tanto a pesquisa nacional como a indústria de herbicidas têm atuado muito timidamente para solucionar este grave problema.

No dia 11 de maio de 2018 (ato no 37 de 09/05/2018, D.O.U de 11/05/2018) foi registrado um herbicida comercial à base dos ingredientes ativos Imazapique e Imazapir para o controle de espécies de capins do gênero Paspalum sp, por exemplo a Paspalum virgatum (capivara, ou cabeçudo, ou navalha, navalhão, ou taripuco, ou tiriricão).

Em outubro escreverei um artigo abordando o manejo e controle de plantas daninhas de folhas estreitas – os capins infestantes.


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