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Scot Consultoria

Manejando o pastoreio - Parte 2


Segunda-feira, 13 de novembro de 2023 - 08h00

Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação nas Faculdades REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC - Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda; Investidor nas atividades de pecuária de corte e de leite.


Foto: Bela Magrela

 

Neste artigo que você está lendo estão algumas das bases do manejo do pastoreio quando o método de pastoreio é o de lotação continua (1 piquete pastejado por 1 lote de animais). 

Na década de 80 um professor inglês, trabalhando na Nova Zelândia em pastagens de capim-azevém perene, uma gramínea forrageira de clima temperado, apresentou em um congresso internacional uma metodologia de avaliação de animais em pastoreio de lotação continua. Esta metodologia foi trazida para o Brasil em meados da década de 90 do século passado e adaptada para avaliação de forrageiras de clima tropical e subtropical. Os primeiros resultados foram publicados em 1999.

Forrageiras dos gêneros Brachiaria sp (B. brizantha cultivar Marandu ou capim-braquiarão e B. decumbens) e Cynodon sp (cultivares Coastcross, Florakirk e Tifton 85) foram avaliadas com base naquela metodologia.

O capim-braquiarão foi submetido ao pastejo nas alturas de 10, 20, 30 e 40 cm, o capim-decumbens nas alturas de 10, 20, 30, 40 e 50 cm, e o Cynodon 5, 10, 15 e 20 cm.

A adoção das menores alturas teve a finalidade de alcançar uma condição de superpastejo (taxa de lotação acima da capacidade de suporte), enquanto as alturas médias (taxa de lotação na capacidade de suporte) e as máximas, condições de pastejo ótimo e de subpastejo (taxa de lotação abaixo da capacidade de suporte), respectivamente. Estas diferentes alturas refletem diferentes condições do pasto, quer seja IAF (índice de área foliar), massa de forragem, estrutura ..., e são mantidas por meio da técnica da taxa de lotação variável.

Com base nos resultados destes experimentos foi possível concluir que os padrões dinâmicos de acúmulo de forragem (kg de matéria seca/ha/dia) são muito semelhantes àqueles descritos originalmente para capim-azevém perene, variando apenas o valor absoluto das taxas dos processos observados (crescimento, senescência (envelhecimento) e acúmulo de forragem), qual seja: em pastos baixos, a produção liquida (crescimento - senescência) é baixa devido à baixa produção de folhas, enquanto que em pastos de altura média, a produção torna-se relativamente constante e próxima do máximo, em uma faixa de diferentes alturas. Em pastos altos, a produção liquida é diminuída devido à alta taxa de morte de folhas.

Para o Cynodon os resultados revelaram uma amplitude de condições de pasto de 10 a 20 cm, nas quais, as taxas de acúmulo foram relativamente constantes e máximas e, para os capins B. decumbens e B. brizantha cv Marandu, equilíbrio semelhante ocorreu em pastos mantidos entre 20 e 40 cm; os animais em pastejo apresentaram o mesmo padrão de resposta daqueles pastejando em pastagens de capim-azevém perene.

Na tabela 1 encontram-se resultados de desempenho individual e produtividade por área do experimento com capim-braquiarão. Observa-se que apesar da taxa de lotação ter sido reduzida em 57,0% entre os tratamentos 10 cm e 40 cm (5,4 x 2,3 cabeças/ha), a produtividade de carne por hectare aumentou em 119% (230 x 570 kg/ha) em função do ganho individual ter aumentado 389,0% (0,19 kg/dia x 0,93 kg/dia). 

Tabela 1.
Ganho médio diário (GMD), taxa de lotação (TL) e produtividade por área com bovinos de corte em pastos de capim-braquiarão submetidos a diferentes condições de pasto.


*os valores entre parêntesis nos tratamentos 20, 30 e 40 cm de altura representam o aumento ou decréscimo em relação ao tratamento 10 cm de altura.
Andrade, 2003.

As respostas de animais em pastejo em termos de consumo de forragem e desempenho animal foram descritas e correlacionadas com variações em estrutura do pasto (é caracterizada pelas variáveis massa de forragem, altura do pasto, densidade dos horizontes, cobertura de solo, relação folha/colmo, distribuição espacial ...), sendo que, de forma geral o consumo e o desempenho aumentam com aumentos em altura do pasto, a massa de forragem e a oferta de forragem.

Com base nestes resultados experimentais e já validados em fazendas comerciais foi possível elaborar a tabela abaixo, referente ao manejo do pastoreio.

Tabela 2.
Manejo do pastoreio de algumas espécies forrageiras usadas em pastagens no Brasil submetidas a pastoreio de lotação continua.

Esta amplitude de variação nas alturas, por exemplo, 30 a 40 cm nas B. brizantha e B. decumbens, de 15 a 20 cm no Cynodon sp., são as condições de alturas nas quais a capacidade de suporte é alcançada (a capacidade de suporte é a amplitude de utilização que permite um equilíbrio entre os ganhos por animal e por unidade de área, possibilitando maior rendimento por área).

Nas maiores alturas de pastejo é possível maximizar o desempenho por animal, enquanto nas menores alturas o desempenho por animal seria menor com produtividade por área semelhante, apesar de possibilitar maior eficiência de uso da forragem produzida.

Ai você que está lendo este artigo pergunta: “mas quais são as alturas do pasto na entrada e na saída dos animais?” Preste atenção: o método de pastoreio aqui é o de lotação continua, então se diz “altura de pastejo”.

Alturas de entrada ou de pré-pastejo e alturas de saída ou de pós-pastejo, são termos falados e parâmetros adotados no método de pastoreio de lotação intermitente, cujas modalidades mais adotadas são o de lotação alternada e o de lotação rotacionada.

Aí você me pergunta: “você não vai escrever nada sobre estes métodos de pastoreio?”. Sim, mas aguarde a próxima edição.


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