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Scot Consultoria

Manejando o pastoreio - Parte 3


Quinta-feira, 14 de dezembro de 2023 - 06h00

Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC - Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda.



Você que leu a parte 2 desta sequência de artigos na edição de novembro, pode ter ficado com a seguinte dúvida: “Mas quais são as alturas do pasto na entrada e na saída dos animais dos piquetes?” Preste atenção: o método de pastoreio sobre o qual escrevi na edição anterior foi o de lotação contínua (1 piquete pastejado por 1 lote de animais), então se diz “altura de pastejo”. Alturas de entrada ou de pré-pastejo e alturas de saída ou de pós-pastejo, são termos falados e parâmetros adotados no método de pastoreio de lotação intermitente, cujas modalidades mais adotadas são o de lotação alternada (2 piquetes pastejados por 1 lote de animais) e o de lotação rotativa (no mínimo 3 piquetes pastejados por 1 lote de animais). Como combinado, neste artigo que você está lendo estão algumas das bases do manejo do pastoreio, quando o método de pastoreio é o de lotação intermitente.


Na década de 50 do século passado, um professor inglês (Brougham, 1956), ao trabalhar em pastagens de capim-azevém perene, uma gramínea forrageira (um capim) de clima temperado, apresentou uma metodologia de avaliação de plantas forrageiras em pastoreio de lotação intermitente. Esta metodologia foi introduzida no Brasil em meados da década de 90 do século passado e adaptada para a avaliação de forrageiras de clima tropical e subtropical. Os primeiros resultados foram publicados a partir de 2002.


Os experimentos foram conduzidos sob regime de desfolhação intermitente, utilizando o método de pastoreio de lotação rotativa e foram definidas duas condições de referência para a utilização dos pastos: a) pré-pastejo ou de entrada dos animais no piquete, de 95 e 100% de interceptação de luz solar (IL) para os capins Panicum maximum cv. Aruana e Mombaça, para os capins Brachiaria decumbens e B. brizantha Marandu (Braquiarão) e para Cynodon sp cv. Tifton 85; de 90, 95 e 100% de IL para o capim Panicum maximum cv. Tanzânia; de 95 e 100% de IL, e um período de descanso fixo de 28 dias para o capim B. brizantha cv. Xaraés; de 95% de IL e períodos de descansos fixos de 27 e 37 dias para o Pennisetum purpureum cv. Cameroom (capim-elefante); b) outra de pós-pastejo ou de saída dos animais do piquete, com alturas de resíduo de 10 cm para capim Aruana, 30 e 50 cm para o Mombaça; 25 e 50 cm para o Tanzânia; 10 e 15 cm para o capim Marandu e um valor único de 15 cm para o capim Xaraés. As alturas de resíduo pós-pastejo foram pré-definidas para que refletissem condições eficientes de colheita da forragem disponível (resíduos mais baixos), contrastando com a condição normalmente encontrada nas fazendas, de baixa eficiência de colheita (resíduos mais altos).


Os resultados desses experimentos revelaram padrões dinâmicos de acúmulo de forragem, muito semelhantes aos descritos originalmente para azevém perene, variando apenas o valor absoluto das taxas dos processos observados (crescimento, senescência e acúmulo). A rebrota foi iniciada imediatamente após o pastejo por meio de acúmulo de folhas, e a partir de 95% de IL, o processo de acúmulo sofreu mudança, passando de uma redução no acúmulo de folhas e aumento acentuado no acúmulo de hastes (caules ou colmos ou talos) e material senescente (folhas e caules velhos e mortos). O conceito de Índice de Área Foliar Crítico (IAF crítico), condição na qual 95% da luz solar incidente é interceptada pelo pasto, originalmente descrito e aplicado com sucesso em plantas de clima temperado, mostrou-se efetivo e válido também para gramíneas tropicais e subtropicais. Devido à dificuldade em adotar a mensuração da interceptação luminosa como critério de manejo do pastoreio em condições de campo (em fazendas comerciais), utilizou-se a altura do pasto, que se revelou durante os experimentos como sendo um parâmetro consistente para substituir a IL, independente da época do ano, altura de resíduo e estádio fisiológico da planta forrageira.


O processo de florescimento, que não é desejável para altas produtividades de forragem e de produto animal, foi efetivamente controlado através da associação entre resíduos pós-pastejos mais baixos e o pastejo mais frequente (nas alturas correspondentes ao estádio em que o pasto alcançou 95% de IL). Os tratamentos com pastejos iniciados com 95% de IL pelo pasto resultaram em forragem com valores mais elevados de proteína bruta e digestibilidade. O maior desempenho animal alcançado em pastejo de lotação rotacionada, manejado com intervalos entre pastejos determinados pelo critério de IL de 95%, pode ser explicado pela proporção significativamente maior de folhas, ao mesmo tempo em que as proporções de talos e material envelhecido e morto são menores em comparação com a condição em que o critério de manejo adotado é o tradicional intervalo entre pastejos fixos em dias. Veja na tabela abaixo.


Tabela 1.
Composição morfológica de Brachiaria brizantha cultivar Marandu (Braquiarão) conforme o critério para determinação do intervalo entre pastejos (IEP).



Fonte: Santos, 2007.


Observa-se que a proporção de folhas aumentou de 40 para 56% (um aumento de 40%), já a de hastes foi reduzida de 36 para 32% (redução de 11%), enquanto os tecidos velhos e mortos foram reduzidos de 24 para 12% (redução de 50%), quando se compara o manejo do pastejo com 31 dias fixos de descanso com o manejo pela IL de 95% e altura do pasto (25 cm neste caso). Com base nestes resultados experimentais e já validados em fazendas comerciais, foi possível elaborar a tabela abaixo.


Tabela 2.
Alturas alvos de entrada no pasto para gramíneas forrageiras em pastoreios de lotação alternada e rotacionada.



Elaborado por Adilson Aguiar


Entretanto, pesquisadores questionando estes resultados conduziram uma linha de pesquisa cujos resultados permitiram a conclusão de que a altura ideal de entrada do pasto depende da altura de resíduo pós-pastejo (altura de saída). Quanto menor for a altura de saída, menor será a altura ideal de entrada. Isso ocorre porque quanto menor a altura do resíduo pós-pastejo (altura de saída), mais meristemas apicais dos perfilhos são eliminados, quebrando a dominância apical, ao mesmo tempo, maior é a incidência de luz solar na base da planta, onde estão as gemas (brotos) basais. Estas duas condições estimulam o perfilhamento e, consequentemente, o aumento do IAF. Então, numa menor altura, o pasto irá alcançar 95% de IL. Por exemplo, para capim Tanzânia os resultados foram os seguintes:


Tabela 3.


Altura do capim Tanzânia no pré-pastejo, para alcançar 95% de interceptação luminosa de acordo com a altura de resíduo pós-pastejo.



Fonte: Almeida, 2011.


Veja que, no tratamento em que a altura do resíduo pós-pastejo foi de 50 cm, a altura ideal de pré-pastejo (altura de entrada) foi de 74,4 cm, muito próximo dos 70 cm que tinha sido estabelecido como altura ideal para o capim Tanzânia em trabalhos anteriores. Mas, nos tratamentos com alturas de resíduos pós-pastejos de 30 e 20 cm, as alturas de entrada ideais foram 56,3 e 49,9 cm, respectivamente.


Apesar destas diferentes alturas de entrada e de saída, o acúmulo de forragem não foi estatisticamente diferente. Entretanto, as perdas de forragem (proporção de material perdido/forragem acumulada), foi significativamente maior no manejo com 74,4 cm na entrada e 50 cm na saída (46% de perdas x 30,5% e x 29,9%, para as alturas de resíduo de 50, de 30 e de 20 cm, respectivamente). Ainda, a proporção de folhas foi significativamente maior no tratamento com 20 cm de resíduo pós-pastejo (94% x 86% x 77% para resíduos de 20 x 30 x 50 cm, respectivamente). E a eficiência de pastejo foi maior no tratamento com 20 cm de resíduo pós-pastejo (72% x 69% x 51% para resíduos de 20 x 30 x 50 cm, respectivamente).


Então, se o pastejo mais frequente e intenso é mais eficiente, por que não o adotar? É porque, quanto mais intenso é o pastejo (resíduos mais baixos), maior é a dependência do pasto por corretivos e adubos para alcançar uma mesma produtividade de forragem. 


Então você que está lendo este artigo pergunta: “mas quais são as alturas do pasto na saída dos animais dos piquetes?”, “Você não vai escrever nada sobre a influência da altura de saída sobre o vigor da rebrota do pasto e sobre o desempenho animal?”. Sim, mas aguarde a próxima edição.



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