• Terça-feira, 23 de abril de 2024
  • Receba nossos relatórios diários e gratuitos
Scot Consultoria

Um resumo dos mercados neste semestre de pandemia


Quarta-feira, 26 de agosto de 2020 - 10h00

Médico veterinário, formado pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Câmpus de Campo Grande-MS, mestre em Administração de Organizações pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto - FEA-RP/USP. Possui MBA em Gestão Financeira pela UNOPAR. É analista e consultor de mercado da Scot Consultoria. Coordena a divisão de mercado de couro e sebo. É editor-chefe do informativo pecuário semanal Boi & Companhia, publicação da Scot Consultoria. Atuação nas áreas de análises, estabelecimento de cenários, estratégias de mercado, realização de projeções de preços, oferta, demanda, análises setoriais e pesquisa de opinião e imagem. Ministra aulas, palestras, cursos e treinamentos nas áreas de mercado do boi e assuntos relacionados à agropecuária em geral.


Foto: Scot Consultoria


Enquanto algumas atividades foram suspensas ou tiveram seu movimento reduzido, como os setores de eventos, aviação e comércio, dentre outros, a agropecuária passou relativamente bem pelos últimos meses.


Obviamente, sem a queda da demanda interna, teríamos um cenário melhor, mas as incertezas relacionadas à economia, sempre temperadas com o cenário político, apreciaram o câmbio e ajudaram nas vendas ao exterior, em um cenário no qual a China tem uma lacuna da ordem de 20 milhões de toneladas de carne suína, comparando a produção de 2020 à de 2018, ano de início do surto de peste suína africana. 


Vamos passar por alguns mercados e um resumo do que ocorreu neste primeiro semestre.


Milho e soja 

Com a queda da demanda global por combustíveis com a pandemia, o que afetou o petróleo e, por consequência, o etanol, a pressão de baixa sobre a cotação do milho, estabeleceu-se a partir de março. 


Com o alastramento da pandemia, as expectativas de menor demanda por frango e suíno geraram receio quanto ao consumo doméstico do grão. Cabe a ressalva de que o consumo estimado no último relatório da Conab, de junho, foi de 68,5 milhões de toneladas, queda frente às 70,5 milhões do relatório de fevereiro. 


A semeadura da safrinha fluindo bem dissipou boa parte do receio que o plantio tardio da safra de verão tinha trazido, pensando na janela da segunda safra. 


Com isto, a cotação de referência do milho, que começou 2020 em R$49,00/saca e atingiu R$62,00/saca no início de abril, terminou o semestre em R$50,50, o que equivale a uma valorização de 32,9%, na comparação com o mesmo período de 2019 e 3,1% acima do preço do início do ano. 


O dólar valorizado, associado a uma boa safra e à demanda chinesa geraram exportações recordes de soja. Mesmo em relação ao recorde anterior para o período, em 2018, este ano houve aumento de 37,9% no volume embarcado. 


Considerando os preços em Paranaguá-PR, a cotação subiu 31,8% ao longo do semestre e em relação ao mesmo período do ano passado a valorização foi de 38,2%. Para os próximos meses, a expectativa é de preços sustentados, pelo câmbio e demanda para exportações.


Leite

A demanda do setor de leite e lácteos sentiu a paralisação das aulas e fechamento parcial dos restaurantes, bares, etc. (food service). O preço do leite ao produtor ficou praticamente estável em abril e cedeu 2% em maio, considerando a média ponderada dos estados pesquisados.


O cenário de consumo mais fraco e sem perspectivas claras, associado a um custo de produção em alta, gerou ajustes da produção. Somando-se a isto, por questões climáticas, houve atraso na retomada da produção na região Sul.


Com uma demanda um pouco melhor, em decorrência da volta da circulação de pessoas, além da produção menor, houve alta de 4% no pagamento de junho.


Para o curto prazo, a tendência é de produção menor colaborando com preços mais firmes, no entanto, a safra vindo com mais força no Sul do país pode contrapor a queda na produção no Sudeste e Centro-Oeste.


Alguma ajuda do lado da demanda completa a expectativa de preços mais positivos.


Frango e suíno

Após altas importantes no segundo semestre de 2019, as cotações de frangos e suínos começaram 2020 em queda.


Os abates em alta no primeiro trimestre pressionaram as cotações, mesmo com exportações em bom ritmo, notadamente para o mercado de suínos.


A chegada da pandemia ao Brasil, na primeira metade de março, colaborou com a pressão, pela queda da demanda doméstica. Mais uma vez, como observado para os grãos, com as valorizações do dólar, as exportações foram estimuladas, principalmente a de carne suína.


Embora tenha participação relevante nos embarques das três proteínas, a China tem peso maior nos embarques de carne suína e bovina.


Para a carne suína, no acumulado do primeiro semestre, houve aumento de 38,4% no volume embarcado, enquanto para a carne de frango o acréscimo foi de 2%, considerando carne in natura (Secex).


A partir de abril, com os ajustes feitos na produção, além de exportações colaborando, as cotações encontraram um piso. Considerando preços no atacado, o frango terminou o semestre em patamar 15,4% menor que no início do ano e a carcaça suína cedeu 28% no acumulado do ano.


Com o bom ritmo esperado para os embarques de carnes, devemos ter preços mais positivos. A demanda doméstica, embora sentindo os efeitos da crise econômica, tende a melhorar com a volta gradativa do funcionamento de restaurantes, além da própria sazonalidade do consumo, com maior demanda no segundo semestre.


Bovinos

O mercado do boi gordo e reposição têm trabalhado firme em 2020. Apesar de ajustes negativos no período no qual a pandemia chegou ao Brasil, entre o final de fevereiro e começo de março, as cotações retomaram a firmeza e ignoraram o período de final de safra, em parte pela retenção de fêmeas.


O cenário de pouca oferta de gado jovem devido aos abates de fêmeas em alta nos últimos anos tem valorizado as cotações da reposição desde a segunda metade de 2018. Isso estimulou a retenção de fêmeas, como forma de investimento na atividade.  


No mercado externo, as vendas para a China têm sido fundamentais para compensar a demanda doméstica afetada pela pandemia e paralisação da economia. Considerando o acumulado do primeiro semestre, houve acréscimo de 14,2% no volume de carne bovina exportada, frente ao mesmo período de 2019.


Embora os preços no mercado físico tenham cedido relativamente pouco entre março e abril, as cotações futuras desestimularam o confinamento e ajudam a gerar este momento de oferta curta e preços em alta que observamos.


Esperamos um volume maior de gado confinado a partir de meado de agosto e setembro, mas paralelamente a demanda doméstica também deve estar em um patamar um pouco melhor, colaborando com a expectativa de preços firmes.


Considerações finais e pontos de atenção

O cenário econômico foi afetado pelas medidas de contenção da propagação da gripe e isso impactou o consumo doméstico. De toda forma, a volta da circulação da população tem um efeito positivo, nas comparações semana a semana, o que se soma à sazonalidade de demanda normalmente maior na segunda metade do ano.


No mercado externo, o patamar cambial tende a colaborar, com atenção especial às carnes e possíveis suspensões de plantas devido à covid-19, como ocorrido recentemente em Mato Grosso e Rio Grande do Sul. 


Vamos acompanhando.


Originalmente publicado em www.nutrimosaic.com.br



<< Notícia Anterior Próxima Notícia >>

Buscar

Newsletter diária

Receba nossos relatórios diários e gratuitos


Loja