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Scot Consultoria

Quem paga a conta no ILPF?


Terça-feira, 25 de dezembro de 2018 - 10h00

Médico veterinário pela UNESP – campus de Jaboticabal, especialização em produção animal pela UFLA e atual Consultor senior da CRIATEC - Consultoria em Agronegócios.


Foto: Três diferentes componentes de um sistema integrado - Gabriel Faria, Embrapa Agrossilvipastoril, Sinop-MT.


Dentro de um Sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) muitos produtores ficam buscando separar algo que hoje consideramos indivisível. A quem pertence a responsabilidade dos investimentos, de habilitação das áreas, da correção da acidez do solo, da fertilização, da infraestrutura, enfim de tudo que foi utilizado para estruturar o sistema de produção integrado?


A resposta é simples, pertence ao sistema de produção integrado. Estas atividades são indivisíveis, estes produtos passam a ser parte integrante de um sistema de produção, visto que todas as atividades produtivas dentro de um sistema integrado assumem uma dinâmica totalmente distinta quando comparamos com os resultados obtidos na atividade quando solteira.


Dados de pesquisa têm demonstrado inúmeras consequências sinérgicas que refletem, não só na produtividade da outra cultura ou atividade, assim como na resiliência destas atividades diante de um contratempo climático como veranicos.


O benefício da palhada de braquiária pós-pastejo no desempenho da soja em sucessão pode ser visualizado na figura 1. O rendimento de grãos de soja, em plantio direto, no resíduo pós-pastejo foi 24% (774 kg ou 13 sacos de 60 kg) superior ao obtido na área sem braquiária. Vale destacar que, na região, aumentos entre 300kg/ha e 600kg/ha na produtividade de grãos de soja em plantio direto sobre palhada de milho consorciado com B. ruziziensis tem sido frequentemente observado pelos produtores que adotam esse sistema.


Figura 1.
Efeito da palhada de capim-braquiárias consorciadas com milho (B. ruziziensis e B. brizantha cv. Piatã) na produtividade de soja cv. M-SOY 8866. Fazenda Triunfo, Formosa do Rio Preto, BA. Médias seguidas de letras diferentes diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05).

Fonte: Circular Técnica 35- Embrapa Planaltina – elaborado pelo autor. 


Da mesma forma, podemos observar na figura 3, o aumento da produção de arrobas por hectare dentro de um sistema integrado quando comparado com os sistemas sem integração. 


Figura 3.
Comparativo de produtividade de @ por hectare nos diferentes sistemas de produção pecuária da Unidade de Referência Tecnológica da Embrapa Agrosilvipastoril em Sinop, MT.

Fonte: Embrapa – elaborado pelo autor.


Também, em propriedades que utilizam o sistema Silvipastoril, integrando pecuária à atividade florestal de eucalipto para produção de celulose, como na região de Bataguassu-MS, temos renques de quatro linhas de eucalipto com 27 metros de espaçamento com a atividade de cria entre os renques, neste sistema a floresta ocupa 30% da área, porém com a bordadura mais produtiva e a adubação das pastagens, a produtividade da floresta equivale a 50% da área em um cultivo convencional.


Enfim, estes modelos de produção integrados o são devido a estas disparidades na produtividade destas atividades quando comparadas com as atividades isoladamente. Estes efeitos sinérgicos entre as diferentes culturas e a economia de insumos tem levado a um aumento significativo no nível de adoção destes sistemas de integração.


Desta forma, hoje falamos em “Fertilização de Sistemas de Produção”, onde o uso de fertilizantes, um dos insumos que mais impactam a produção agropecuária, passa a ser uma nova diretriz para estes sistemas, enfim estamos fertilizando um ambiente produtivo, convertendo o solo como base para todas as diferentes culturas que poderão se apropriar momentaneamente desta base.


Buscar a separação de algo indivisível passa a ser uma tarefa hercúlea, de difícil lógica e que acaba levando vários produtores a avaliações errôneas dos resultados das atividades em separado, pois o resultado transpassa a barreira do produto em si, repercutindo na outra atividade integrada, desta forma, alguns componentes passam a ser desejados na integração pelo simples fato de alterarem drasticamente para melhor a produtividade do componente que irá sobrepô-lo.


Até mesmo os diferentes sistemas informatizados que dispomos possuem grande dificuldade de lidar com esta diversidade no uso das áreas, e ainda quando passamos a ter o componente florestal a complexidade é maior, pois com um ciclo longo com mais de seis anos para a geração de receita, as avaliações iniciais transformam estes investimentos no componente florestal um grande desafio, pois a receita advinda da árvore poderá ocorrer depois de longo prazo, ainda mais quando temos espécies madeireiras no processo coma a Teca, Mogno, Cedro, e até o eucalipto para movelaria.


Porém, a ambiência criada com a presença das árvores, poderá aumentar significativamente a produtividade animal na área e com isso gerar mais receita no decorrer do tempo.


A inovação deverá vir em todos os níveis, estes sistemas gerenciais informatizados que hoje ainda “correm atrás do rabo” tentando se adequar a algo que já existe e não antevendo às diferentes tendências do campo e com isso se anteciparem fornecendo ao produtor ferramentas capazes de realmente atender a esta diversidade, serão vencidos pelo imenso volume de alternativas que as ditas “startups” estão despejando no mercado, soluções rápidas, simples, práticas e que entregam imediatamente respostas ao produtor, o grande desafio será a integralização destas diferentes ferramentas, obter o chamado BI “Business Intelligence”, que poderá transformar informação em conhecimento e fomentar a tomada de decisão do produtor rural.


Princípios como a rotação de cultivos, cultivos alternativos para maximizar a diversidade da fauna e flora deste solo, aumento da matéria orgânica, aumento da quantidade de carbono em solo, a manutenção de cobertura vegetal durante todo o ano, todas estas ações têm demonstrado que apesar da complexidade gerencial destes sistemas, passa a ser inevitável sua adoção para que tenhamos um futuro sustentável das atividades agropecuárias, tanto do ponto de vista econômico, como no tocante às relações sócio ambientais que nos é de responsabilidade.


Por fim, a conta poderá ser avaliada por área de produção, por talhão, até por atividade, no entanto, o que terá maior importância neste contexto é o resultado final de rendimento líquido por hectare ano, independente dos arranjos que este hectare recebeu neste ano, mesmo por que estas relações são como um bom vinho, vão maturando com o passar dos anos e vão expressando cada vez mais suas qualidades.


Vai a dica: www.redeilpf.org.br





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