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Scot Consultoria

Mercado do leite e resultados econômicos


Sábado, 25 de outubro de 2014 - 17h37

Zootecnista, formado pela Universidade Estadual Paulista – UNESP, Câmpus de Ilha Solteira-SP, mestre em Administração de Organizações Agroindustriais pela UNESP, Câmpus de Jaboticabal-SP. É analista e consultor de mercado da Scot Consultoria. Coordena as divisões de pecuária de leite, grãos e avaliação e perícia. Editor-chefe do Relatório do Mercado de Leite, publicação da Scot Consultoria. Atuação nas áreas de análises, estabelecimento de cenários, estratégias de mercado, realização de projeções de preços, oferta, demanda, análises setoriais e pesquisa de opinião e imagem. Ministra aulas, palestras, cursos e treinamentos nas áreas de mercado de leite, boi, grãos e assuntos relacionados à agropecuária em geral.


Artigo originalmente publicado na Revista Agroanalysis

O planejamento e a antecipação dos riscos são fundamentais para o sucesso em qualquer atividade.


Na pecuária de leite ou de corte não é diferente. Só no primeiro semestre de 2014, o mercado do leite passou por três momentos distintos.


No primeiro trimestre, houve uma forte especulação a cerca da produção de leite no país por causa da seca em importantes bacias leiteiras.


Como consequência, o mercado se firmou e os preços ao produtor subiram a partir de fevereiro.


O segundo momento foi no início da entressafra, no final de abril.


Mesmo com a captação em queda desde dezembro do ano passado, o volume captado em 2014 (média do primeiro semestre) foi 12,5% maior na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo o Índice Scot Consultoria para a Captação de Leite.

A demanda por leite e derivados, porém, não acompanhou este incremento da oferta e o resultado foi o aumento dos estoques de lácteos nas indústrias, principalmente de leite longa vida e de leite em pó.


Os preços caíram na fazenda e demais elos da cadeia. Na figura 1 estão os preços ao produtor, considerando a média brasileira nos dezoito estados pesquisados pela Scot Consultoria.


Figura 1.
Preço do leite ao produtor, média nacional, em R$ por litro.



Fonte: Scot Consultoria - www.scotconsultoria.com.br


O terceiro momento foi recente, entre junho e setembro.


Apesar do mercado de leite estar andando de lado em plena entressafra do Brasil Central e região Sudeste, os custos de produção caíram consideravelmente, principalmente com relação à alimentação concentrada.


O milho saiu de R$25,00 por saca de 60 quilos na região de Campinas, em São Paulo em janeiro e chegou a R$34,00 no começo de março.


A expressiva alta, de 36,0% em pouco mais de um mês, foi devido às perdas registradas na safra de verão e expectativa de redução da área plantada na segunda safra 2013/2014, naquela oportunidade.


A partir de maio, no entanto, com um cenário melhor em termos de clima e expectativa de bom volume produzido na segunda safra, os preços do grão recuaram para patamares próximos de R$21,00 por saca, os mais baixos desde o segundo semestre de 2010.


Figura 2.
Preço médio do milho na região de Campinas-SP, em R$ por saca de 60 quilos.



Fonte: Scot Consultoria - www.scotconsultoria.com.br


Lembrando que o milho a preços baixos pressiona, também para baixo, as cotações dos alimentos alternativos, como o sorgo e a polpa cítrica.


No caso do farelo de soja, os preços no mercado interno também caíram, acompanhando a desvalorização da soja, cujos preços recuaram com um cenário positivo para a produção norte-americana, cuja colheita começou em setembro, e à perspectiva de aumento da área plantada no Brasil, em início de semeadura.


Do mesmo modo, a queda no preço do farelo de soja, reflete diretamente na demanda e cotações de outros alimentos concentrados proteicos, como o farelo de algodão, o caroço de algodão e farelo de amendoim.


Resultados Econômicos


Aqui fazemos uma análise dos resultados econômicos da pecuária leiteira em 2013 e uma expectativa para 2014.


Lembramos que esses resultados podem variar caso a caso, pois parâmetros como produtividade, preço da terra, momento e preço de venda da produção, de insumos, por exemplo, são fatores capazes de alterar a rentabilidade dentro de uma mesma atividade.


Dentre as atividades agropecuárias, a pecuária leiteira de alta tecnologia foi a que apresentou o melhor resultado. A rentabilidade média foi de 10,1% em 2013.


Em comparação com outras atividades agropecuárias e indicadores econômicos, o leite só ficou atrás do dólar em termos de rentabilidade média. O resultado foi melhor que opções, como o arrendamento para a cana-de-açúcar, que vem tirando muitos pecuaristas da atividade.


Estamos utilizando como referência, um sistema de produção intensivo, no Centro-Sul brasileiro, com pastejo rotacionado, fornecimento de alimentação concentrada, suplementação mineral, vacas especializadas e produtividade média de 25 mil litros de leite por hectare por ano.


Figura 3.


Rentabilidades médias em 2013.


 


Fonte: Scot Consultoria - www.scotconsultoria.com.br


Esse resultado foi possível graças à forte valorização do preço do leite no ano passado, cuja cotação subiu 17,1% para esse perfil de produção, e às cotações dos alimentos concentrados energéticos, que tiveram oscilações comedidas durante o ano.


Por outro lado, a produção de leite com baixa aplicação de tecnologia deu prejuízo, com rentabilidade média de -3,0%. Só perdeu para os investimentos em fundos de ações e ouro, cujas rentabilidades médias foram de -8,8% e -17,4% no ano passado.


Na figura 4, o histórico da rentabilidade média da pecuária de leite, considerando as atividades de alta e baixa tecnologia.


Em nenhum ano, desde 2004, a produção com baixa aplicação de tecnologia e investimentos deu resultado positivo.


Este fato reforça a necessidade de investimentos para aumento da produtividade e melhoria da qualidade do leite.


Figura 4.
Rentabilidades médias da pecuária de leite de alta e baixa tecnologia, em %.



Fonte: Scot Consultoria - www.scotconsultoria.com.br


Para 2014, apesar do aumento da oferta no mercado brasileiro e pressão sobre os preços pagos aos produtores, na média anual, devem superar a média de 2013.


Explicando: no ano passado os preços subiram fortemente, mas saíram de um patamar próximo de R$0,80 por litro. Este ano, apesar da pressão de baixa e mercado andando de lado, os preços se mantiveram acima de R$0,93 por litro em todos os meses até então.


A Scot Consultoria estima um preço médio nacional de R$0,975 por litro de leite em 2014, 4,5% acima dos R$0,933 por litro em 2013.


Os custos de produção, porém, estão maiores este ano. Apesar da queda nos preços dos grãos, a mão de obra, os combustíveis e os volumosos estão pesando mais no bolso do produtor de leite.


Segundo o Índice Scot Consultoria para o Custo de Produção da Pecuária Leiteira, os custos aumentaram 6,9% em 2014 (janeiro a outubro), em relação ao mesmo período do ano passado.


Considerações finais


O mercado é dinâmico e não existe espaço para erros.


O acompanhamento diário das informações e a criação de cenários auxiliam nas decisões, principalmente em anos de incertezas e grandes oscilações de preços, como está acontecendo neste ano.


O sucesso da compra de insumos e/ou vendas dos produtos por vezes é a chave para o resultado positivo da atividade.


O tom do mercado de leite no segundo semestre de 2014 e em 2015 é de incertezas.


Os investimentos deverão ser comedidos, visto as recentes pressões de baixa causadas pelo aumento da disponibilidade de leite e lácteos no mercado interno.


Aliás, a busca de mercados no exterior e o aumento da demanda interna é necessário para o desenvolvimento do setor, visto que estes choques de oferta e demanda, cada vez mais frequentes, afetam os preços e a estrutura do mercado.


No Brasil, mudanças conjunturais como a liquidação de ativos de laticínios em dificuldade e a saída de empresas do setor, entre outras, devem movimentar o mercado de leite e despertar a atenção de multinacionais do setor para investimentos no país, como já vem despertando.



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