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Scot Consultoria

Fim da margarina na América do Norte


Segunda-feira, 2 de março de 2015 - 17h00

Engenheira agrônoma, formada pela Universidade Estadual Paulista – UNESP, Campus de Ilha Solteira e graduanda em Direito pelo Universidade de Ribeirão Preto – UNAERP. É engenheira de avaliações de imóveis rurais pela Scot Consultoria desde 2012. Realiza laudos para garantias bancárias, valor de mercado, divisão de bens, indenização para desapropriação, cálculo de passivo ambiental, comprovação de produtividade e acompanhamento em processos judiciais. Além disso, acompanha serviços de georreferenciamento, Cadastro Ambiental Rural e projetos ambientais, prestados por parceiros da Scot Consultoria.


Apesar da má fama da margarina, ela ainda detém um mercado interessante. As vendas mundiais subiram 60% desde 2000, segundo dados do Euromonitor. Para a manteiga não há muito o que escrever, não quando as vendas mais que dobraram durante o mesmo período.


Ruim para a margarina foi a mudança na dieta dos norte-americanos, que ocorreu, especificamente, entre 1990 e início dos anos 2000. Tudo por causa da consciência de que os ácidos graxos ou as gorduras trans não são bons para a saúde e, o consumo da margarina caiu de forma acentuada.


A Organização Mundial da Saúde (OMS) indicava, desde 1995, a importância do controle no consumo de alimentos com ácidos graxos trans, mas não determinava o valor quantitativo desse consumo.


Em 2007, após uma atualização científica sobre gordura trans, com a participação de peritos e representantes da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a OMS recomendou a revisão do limite tolerável de ingestão da gordura trans, que era de até 1% do consumo energético diário e que atualmente continua em vigor em muitos países, entre eles o Brasil.


O Guia Alimentar para População Brasileira (GAPB), lançado em 2005, restringe o consumo de gordura trans a 1% do valor energético diário, o que corresponde a aproximadamente 2 g/dia em uma dieta de 2.000 calorias.


Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 1 de agosto de 2006 entrou em vigor a norma que obriga os fabricantes a especificarem na embalagem a quantidade de gordura trans contida nos alimentos.


Embora seja difícil encontrar dados sobre o consumo de margarina desde 2010, é uma boa suposição avaliar sua linha de tendência, que começou a se estabilizar depois de 2005, ou seja, não foi detectada queda acelerada no consumo a partir desta data. No entanto, isso ocorreu somente porque a partir de 1990 o consumo ficou tão baixo que outro recuo dessa magnitude significaria que ninguém estaria consumindo margarina nos Estados Unidos. Veja figura 1.



Foi em 1990 que o New England Journal of Medicine publicou um estudo sugerindo que as gorduras trans, encontradas nas margarinas e todos os outros alimentos processados feitos com óleo parcialmente hidrogenado, não seriam saudáveis quando comparados com as gorduras saturadas. Hoje em dia, as gorduras trans são execradas. A pesquisa mostra que elas realmente são piores para a saúde frente às gorduras saturadas e o governo dos Estados Unidos espera, eventualmente, bani-las do alimentos.


Larqué e Salvador (2001) estimam que o consumo mundial de gorduras trans da dieta provenientes de fontes naturais como carnes, derivados do leite e ovos, varie entre 2% a 8%.


No entanto, aproximadamente 90% dessas gorduras são derivadas de óleos que passaram por processo industrial de hidrogenação Scheeder (2007). Além da margarina, estes ácidos graxos podem ser encontrados em fast foods, bolachas, sorvetes, bolos e frituras em geral, dentre outros.


O resultado do consumo desenfreado destes alimentos processados, desencadeia o aumento do LDL (colesterol ruim) e redução do HDL (colesterol bom). Ascherio et al. (1996) e Eckel et al. (2007) comentam que o aumento de 23% na incidência de doenças coronárias em adultos saudáveis pode estar relacionado com o aumento no consumo de 2% de ácidos graxos trans.


Por esse critério, a manteiga passou a ser vista como mais uma fonte de gordura; talvez não a melhor, mas um alimento que as pessoas poderiam comer com moderação.


A Unilever, uma das maiores empresas de bens de consumo do mundo, respondeu a esta mudança em uma conferência com investidores em 5 de dezembro de 2013, voltando atrás, publicamente, na sua posição contra a manteiga e reformulando a sua linha de produtos desta origem para o mercado europeu.


Em setembro de 2013 a Unilever adicionou manteiga à linha de produtos da marca Rama, na Alemanha. Esta decisão foi tomada após as vendas unitárias desta divisão caírem por seis trimestres consecutivos.


O mercado spreads, nome sem tradução e dado para se referir aos produtos usados para passar em pães e biscoitos, representa 7% das vendas totais da Unilever.


De acordo com o relatório anual de balanço da Unilever, de 2013, o volume de negócios no segmento alimentício foi de 13,46 bilhões de euros, queda de 7,0% frente a 2012.


Ainda segundo o relatório os volumes de vendas caíram 0,6% em virtude do enfraquecimento do mercado spreads. No entanto, no segundo semestre houve retomada do desempenho, resultado do relançamento da Flora no Reino Unido e novas variações de produtos na Europa e os EUA.


A Unilever solidificou as suspeitas de que a margarina não é mais rentável, o que motivou uma cisão da divisão na companhia. Observadores do setor acreditam que, possivelmente esta divisão será vendida.


Fonte: http://qz.com/306609/margarine-is-over-in-america-at-least/


Traduzido, adaptado e comentado por Paola Jurca, engenheira agrônomo da Scot Consultoria.


Referências:


Ascherio, A.; Rimm, E.B.; Giovannucci, E.L.; Spiegelman, D.; Stampfer, M.; Willett, W.C. Dietary fat and risk of coronary heart disease in men: cohort follow up study in the United States. Br Med J. 1996; 313: 84-90.


Coordenação Geral da Política de Alimentação e Nutrição, Departamento de Atenção Básica, Secretaria de Assistência à Saúde, Ministério da Saúde. Guia alimentar para a população brasileira: promovendo a alimentação saudável. Brasília: Ministério da Saúde; 2006.


Eckel, R.H.; Borra, S.; Lichtenstein, A.H.; Yin-Piazza, S.Y. Understanding the complexity of trans fatty acid reduction in the American diet. Circulation. 2007; 115(16):2231-46. doi:10.1161/CIRCULATIONNA HA.106.181947.


Gordura trans: mal a ser evitado. Disponível em: http://www.einstein.br/einstein-saude/nutricao/Paginas/gordura-trans-mal-a-ser-evitado.aspx. Acesso em 8 de dezembro de 2014.


Larqué, E.; Salvador, Z.; Gil, A. Dietary trans fatty acids in early life: a review. Early Hum Dev. 2001; 65 (Suppl): S31-S41.


Matthew Boyle. I Cant Believe Its Butter in My Unilever Rama. Disponível em: Spreadhttp://www.bloomberg.com/news/2014-01-17/i-can-t-believe-it-s-butter-in-my-unilever-rama-spread.html. Acesso em 9 de dezembro de 2014.


Uauy, R.; Aro, A.; Clarke, R.; Ghafoorunissa, R.; LAbbé, M.R.; Mozaffarian, D.; Skeaff, C.M.; Stender, S.; Tavella, M. WHO scientific update on trans fatty acids: summary and conclusions. Eur J Clin Nutr. 2009;63:S68-75. DOI:10.1038/ejcn.2009.15.


World Health Organization. WHO and FAO Joint Consultation: fats and oils in human nutrition. Nut


Rev. 1995;53(7):202-5.


World Health Organization. Food and Agriculture Organization of the United Nations. Understanding the Codex Alimentarius. rev. updated. Rome; 2005.


*Texto publicado originalmente no Relatório do Mercado do Leite da Scot Consultoria.



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