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Scot Consultoria

A polêmica da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta – ILPF


Terça-feira, 8 de outubro de 2013 - 15h47

Editor e publisher.




* Reprodução permitida desde que citada a fonte.

 


Polemizar nos faz crescer, pois aprendemos a conhecer as opiniões contrárias. Podemos medir e comparar ideias diferentes, desde que sejam manifestações honestas e críticas construtivas, que podem contribuir para propósitos meritórios. Assim, espero contribuir através do blog para um debate saudável sobre a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), apresentando, de um lado, a opinião de seus adeptos, que se encontram no vídeo abaixo, e de outro lado a visão crítica, manifestada no texto, abaixo do vídeo.


A minha ótica em relação à ILPF concentra-se em dois pontos: primeiro, o fato de quem faz a ILPS, invariavelmente o agricultor (cerca de 90%), que tem a cultura e tradição do investimento no curto prazo e dispõe de máquinas, enquanto o pecuarista (10%) não tem a cultura do investimento em curto prazo e não tem as máquinas. Nesse caso o ideal seria a parceria entre o dono da terra, que tem pastos degradados e carência de recursos financeiros para investir; junto com o agricultor poderá recuperar o solo, dar melhor produtividade para a produção de carne, eis que o pasto pode ser implantado a baixo custo, geralmente sem uso de fertilizantes, depois de plantar-colher uma lavoura. A conciliação desses interesses culturais, e as dificuldades da implantação do sistema, portanto, seriam o primeiro entrave, ou dificuldade.


Em segundo lugar, a inclusão da Floresta no sistema ILP implica em certeza de que não poderá haver "arrependimento" na implantação, eis que retirar as raízes / tocos exige tempo, em média superior a 5 ou 8 anos, e impossibilita nesse período a continuidade da agricultura naquele espaço. Fora isso tenho convicção de que a ILP (e a ILPF) pode ser a fórmula e o caminho para a recuperação de mais de 90 milhões de hectares de pastagens degradadas e sem perspectivas de solução no curto prazo. Muitos pecuaristas, por causa disso, e para aprender sobre o sistema, preferem implantar apenas a ILP, deixando a "floresta" para depois.


Desta forma, abro o debate sobre o assunto com o vídeo publicado no início desse texto, e, na sequência, a opinião do mestre Fernando Penteado Cardoso (agora mais conhecido como "R.100" = Rumo aos 100). 


 


ILPF - Por que floresta?


Por Fernando Penteado Cardoso*


*Eng. Agr. Sênior-ESALQ-USP 1936 - Fundador e ex-presidente da Manah S.A. e da Fundação Agrisus. Produtor rural em Mogi Mirim/SP.


Estão na moda os palavreados ambiciosos "lavoura-pecuária-floresta-ILPF" ou "agro-silvo-pastoril". O que significam ou o que podem significar?


Tudo começou alguns anos atrás com a expressão "integração lavoura-pecuária - ILP" que foi definida como a sucessão alternada de atividades agrícolas e pecuárias na mesma área.


Importante ser na mesma área, pois se uma fazenda se dedica a lavouras e a criações em áreas separadas, ela tem essas atividades paralelas, mas não integradas.


A integração acontece quando as duas atividades - agrícola e pecuária - se alternam, se sucedem, se interagem, se integram e, se completam em uma mesma área.


Um exemplo de ILP bem sucedido é o do produtor Ake van der Vinne, em Maracajú - MS, onde no verão a sucessão anual é soja>soja>milho>pasto e no inverno pasto>pasto>pasto. Nesse sistema, a cada 4 anos um hectare em rotação produz  em média 120 sacas de soja (2 safras), 100 sacas de milho  e 1.000 kg de ganho de peso vivo - GPV.


Outra aferição bem sucedida foi relatada pela Granja JAE, Santo Inácio - PR, onde, por 6 anos consecutivos, foi comprovada a produção anual de 2.000 litros de leite ou de 300 kg de GPV por hectare durante o inverno, no intervalo entre culturas de soja de verão.


Nesses dois exemplos, o sistema assegura ainda um volume satisfatório de fitomassa para o plantio direto subsequente. Nos dois casos, pecuária e lavoura se alternam na mesma área.


De uns anos para cá a Embrapa vem incentivando o plantio de renques de duas a três linhas de eucalipto ou outra espécie arbórea separadas de 25 a 27 m. Nos primeiros 2 anos cultiva-se soja ou outro cereal no intervalo entre os renques. No final do 2º ano semeia-se capim, geralmente uma Brachiaria, iniciando-se então um sistema permanente de pasto sombreado.


Não se trata de uma integração por falta de rotatividade e de alternância. Poderá, quando muito, ser classificada de silvo-pastoril, sem que a lavoura faça parte do sistema.


Os pastos sombreados não constituem novidade. Anos atrás a CMM do grupo Votorantim patrocinou experimentos e observações em Vazante, no noroeste de Minas Gerais, mas o trabalho foi descontinuado antes de concluído. Outras descrições em Paragominas - PA e no estado de Mato Grosso do Sul são pouco conclusivas quanto aos resultados anuais de ganho de peso, embora apresentem simulações e estimativas favoráveis.


Nos anos 1990 diversos criadores na região de Dourados - MS iniciaram o plantio de renques de Leucaena ocupando cerca de 50% da área de piquetes em rotação, com sombreamento intenso na área arbustiva rebrotada. Os intervalos entre os renques eram semeados com capim, permitindo que os animais pastoreassem a gramínea e os brotos e folhas da leguminosa. Inicialmente houve grande entusiasmo dos criadores, mas, pouco a pouco o sistema foi relegado, seja por dificuldades de manejo, seja por não compensar economicamente.


A forragem à sombra é menos palatável nas águas, o capim é mais tenro e bem aceito na seca e a faixa lindeira aos bosques é prejudicada pela forte competição até uma largura de 10 a 15 m. Estas observações são de conhecimento geral dos que convivem com o ambiente rural.


Seja pelo sombreamento, seja pela competição por nutrientes e água, a produção de fitomassa forrageira à sombra pode vir a ser limitada, desconhecendo-se pelo momento o GPV anual por unidade de área. Os custos de implantação são, por sua vez, muito variáveis, dependendo de inúmeros fatores locais, inclusive da infestação dos inços e de formigas cortadeiras.


A redução da produção animal é até certo ponto compensada pelo crescimento de fustes com valor comercial para celulose, carvão ou madeira, mas o resultado econômico por hectare entre produção animal e vegetal não foi ainda determinado.


O que deve ficar bem claro é que a integração lavoura/pecuária está bem comprovada e dimensionada, mas ao se introduzir árvores permanentes o sistema torna-se mal conhecido, em que pese o entusiasmo desiderativo dos que o apregoam antes de ter aferições convincentes.


Dias de Campo festivos divulgam as iniciativas ditas agro-silvo-pastoris enquanto satisfazem a curiosidade dos interessados e envaidecem tanto os técnicos promotores, como os proprietários gratificados.


Vale aqui lembrar o preceito de Lord Kelvin enunciado no século 19: "A menos que você possa medir alguma coisa e descrevê-la com números, você está apenas começando a compreendê-la".


É admissível a hipótese de que ao final de alguns anos os agropecuaristas cheguem à conclusão de que seria melhor ter pastagem e reflorestamento em separado.


O futuro dirá, seja por problemas operacionais, seja por pragas rogadas pelos vaqueiros em disparada ao cruzar pelos renques arbóreos.



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