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Scot Consultoria

Zumbis Urbanos...


Quinta-feira, 29 de novembro de 2012 - 15h06

Problemas sociais - soluções liberais
Liberdade política e econômica. Democracia. Estado de direito. Estado mínimo. Máxima descentralização do poder.


Confesso que a questão do crack nunca me incomodou. A famosa cracolândia, em São Paulo, próxima à estação da Luz, não é uma das áreas pelas quais circulo. É simplesmente uma região da cidade que não faz parte da minha vida. Somente passei por lá recentemente, quando estive numa celebração na bela Sala São Paulo. Aquilo me incomodou muito e até escrevi a respeito neste espaço.


A prefeitura de São Paulo decidiu acabar com a cracolândia. Sem um plano estruturado, simplesmente decidiu afugentar os usuários da região, o que os espalhou por várias partes do centro expandido da cidade. Ao invés de resolver a questão, a prefeitura agiu de maneira atabalhoada. Depois, decidiu contar com a participação do estado, o que, ao invés de melhorar, somente piorou a situação. E o resultado foi que a dispersão criou, na cidade, uma quantidade de bolsões - pequenas cracolândias - em várias partes.


Recentemente, um destes bolsões surgiu num túnel de enorme movimento na cidade de São Paulo, conhecido como Túnel Noite Ilustrada, ligando a Avenida Rebouças à Avenida Dr. Arnaldo e ao Estádio do Pacaembu. Em plena luz do dia, são vistos vários destes usuários de crack, dentro do túnel, drogando-se. Trata-se de um grupo de verdadeiros zumbis urbanos que, em sua pequena coletividade, utilizam-se da droga para satisfazer sua triste dependência. Logo, logo, sem dúvida, a criminalidade na região aumentará, uma vez que estes usuários buscarão dinheiro para sustentar seu incontrolável vício.


E como está o poder público nessa hora? Amorfo é a resposta. Os agentes públicos não sabem o que fazer com os usuários de crack, por dois motivos: (ll) a vida do usuário é curta; e (ll) em razão disso, qualquer custo na recuperação será efetivamente desperdiçado. O que fazer, então, é a pergunta.


Alguns consideram a liberalização das drogas a panaceia que resolverá esse problema. No caso brasileiro, esta ingênua alternativa tem à sua frente figuras de enorme peso político que, equivocadamente, abraçaram uma bandeira que é de extremo prejuízo à sociedade, no geral, e ao usuário, em particular. Para ilustrar sobre as razões da liberalização, citam, invariavelmente, o caso da Holanda, além do fato de que outros vícios, como álcool e cigarro, viciam mais e também custam muito.


Para estes dois argumentos, duas respostas: (l) a Holanda vem, paulatinamente, buscando livrar-se dessa reputação, que lhe prejudicou enormemente o turismo porque o tipo de turista atraído não é o melhor para o país; e (ll) a questão de a sociedade ser complacente com alguns vícios não implica necessariamente que precise liberar todos os outros, particularmente quando um é tão daninho à sociedade. A maconha é um primeiro passo para drogas mais pesadas. Não significa que o será, em todos os casos. Mas é um começo. E triste.


Recordo-me, neste sentido, dos meus dias como missionário da Igreja Mórmon, caminhando pelas ruas de Lisboa, ao final da década de 1990, quando me deparei com vários usuários de heroína. Invariavelmente, a porta de entrada tinha sido a maconha. Novamente, não quero dizer que todo usuário de maconha virará um dependente de heroína ou outras drogas mais pesadas. Somente estou sinalizando que é uma porta de entrada. E das mais amplas.


Ainda não tive a oportunidade de conversar com nenhum usuário de crack. Pelo que observei na condição humana em que se encontram, não acho que extrairei muita informação. Só temo pelas famílias, desoladas, neste momento, que esperariam encontrar um poder público mais eficiente. Tanto pelas famílias dos usuários como pelas famílias daqueles que poderão vir a ser usuários. Neste caso, somos eu, você, enfim, todos nós.


O que fazer então? Aqui recorro a duas fórmulas tradicionais: (l) fortalecer as famílias, dando-lhes condições de que os pais possam efetivamente criar seus filhos e não terceirizar o processo, como muitos têm feito. Isto quer dizer: menos creches, menos impostos e mais dinheiro na mão das famílias para que os pais possam assumir o sacrifício e a inconveniência que possa parecer para alguns de criar seus filhos; e (ll) tolerância zero com o traficante e tratamento imediato e compulsório do usuário, até como penalidade. Para tanto, o estado precisará mudar a sua perspectiva quanto ao assunto.


Zumbis urbanos: espero que o número ainda pequeno existente em São Paulo não se converta em maioria. Se a carruagem seguir no presente ritmo e o poder público seguir falhando, tenho sérias preocupações. É hora de agir!


Por Marcus Vinícius de Freitas



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