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Scot Consultoria

Preço dos alimentos em alta no Reino Unido


Quarta-feira, 17 de outubro de 2012 - 11h03

Engenheira agrônomo pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – USP. Analista junior de mercado do boi gordo, reposição, carnes, leite e derivados, grãos, algodão e insumos agrícolas.


O menor volume de grãos colhido no Reino Unido somado ao constante aumento mundial nos preços contribui para a pressão de alta.


No país, foi registrado o segundo verão mais chuvoso da história e agricultores anunciaram que as colheitas do Reino Unido ficaram arruinadas, ocasionando aumento de preços dos alimentos.


A produção de trigo na Inglaterra está quase 15% abaixo da média dos últimos cinco anos. A União Nacional dos Agricultores (NFU, sigla em inglês) informou que as áreas do Oeste da Inglaterra foram as mais afetadas pelas chuvas de verão.


A produtividade média do trigo de inverno, que está sendo colhido no Reino Unido, está em apenas 6,8 toneladas por hectare. A redução aconteceu depois das chuvas que prejudicaram a produção nesta temporada, de acordo com a consultoria Offre & Demande Agricole UK.


A consultoria reduziu sua estimativa de safra em 1 milhão de toneladas, em relação à projeção divulgada no mês passado, caindo para 13,6 milhões de toneladas. O país deve se tornar um importador de trigo em 2012/13, exportando 1 milhão de toneladas e importando 1,5 milhão de toneladas. O consumo doméstico de trigo deve aumentar.


Os preços dos grãos já aumentaram em escala mundial nos últimos meses, consequência de uma forte onda de calor na Rússia e da pior seca dos últimos 50 anos nos Estados Unidos, que destruiu 45% das plantações de milho e 35% das culturas de feijão e de soja.


No Brasil, de acordo com a Companhia Nacional do Abastecimento (CONAB), o preço pago ao produtor de trigo do Paraná pela saca de 60kg passou de R$25,32, em setembro de 2011, para R$33,07 em setembro desse ano, aumento de 30,6%. No Rio Grande do Sul esse aumento foi de 14,5% no mesmo período.


A associação de comércio British Retail Consortium afirma que há pressões sobre os preços provenientes das fracas colheitas de trigo no país, mas os preços também sofrem influência de outros países produtores. Dados recentes mostram que os preços do trigo subiram 29% em relação ao mesmo período do ano passado.


Segundo a CONAB, o cultivar Soft Red Winter está cotado a R$321,89/t no mercado de Chicago, aumento de 29% ante os R$249,46/t no mesmo período do ano passado.


De acordo com a Embrapa, o Brasil ocupa o primeiro lugar em volume de produção mundial de trigo. A produção anual oscila entre 5 e 6 milhões de toneladas. É cultivado nas regiões Sul (RS, SC e PR), Sudeste (MG e SP) e Centro-oeste (MS, GO e DF). O consumo anual no país tem se mantido em torno de 10 milhões de toneladas.


Os dados mostram que os preços dos alimentos no varejo inglês tem subido pouco, em média 3,1% nos últimos meses, valor inferior aos últimos dois anos. Os preços dos alimentos não sobem neste momento, mas há pressões que farão com que isso ocorra num futuro próximo. O mercado altamente competitivo no varejo faz com que os consumidores fiquem mais protegidos das piores pressões de alta nos preços.


De todas as variáveis que compõem o mix de marketing, o preço é aquele que mais rapidamente afeta a competitividade, o volume de vendas e a lucratividade das empresas varejistas, tornando a política de preços um fator crucial de seu posicionamento estratégico (Parente-2000).


Assim, as decisões de preços são analisadas sob uma visão ampla e coerente com o mercado de atuação da empresa.


Dentre os principais fatores de formação de preços estão os consumidores e as empresas concorrentes. Por mais que o custo de produção do alimento aumente, em diversas situações o repasse imediato dos preços ao consumidor final não é possível.


O verão extremamente úmido - o mais chuvoso desde 1912, de acordo com registros da Met Office (agência do governo britânico voltada à meteorologia) - retardou também o desenvolvimento de frutas e legumes, acarretando baixos rendimentos e perda de qualidade. O aumento de 30% no preço do trigo em relação ao ano passado também pressionou a suinocultura e avicultura, que dependem de grãos para alimentar os animais.


A oferta mundial de grãos está menor devido a situações climáticas adversas em grandes centros produtores mundiais, fazendo com que os preços aumentem.


Os grãos são fortemente utilizados para composição de ração de bovinos em confinamento, suínos e aves. O aumento no preço dos grãos acarreta o aumento nos custos de produção destes animais e, consequentemente, nos preços das carnes.


Os grãos compõem 50% dos custos na criação de suínos e 60% dos custos de produção das aves. Assim como os produtores brasileiros, os britânicos estão optando por reduzir a produção, devido à alta nos custos de produção.


A mudança climática está prejudicando a produção de alimentos e elevando preços. A situação tende a se agravar. O sistema agrícola necessita se reinventar para enfrentar os desafios de alimentar uma população mundial crescente e, ao mesmo tempo, não degradar os recursos naturais do planeta.


Fonte: The Guardian. 10 de outubro de 2012.


Traduzido, adaptado e comentado por Maisa Vicentin, analista júnior da Scot Consultoria.



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