• Sábado, 27 de abril de 2024
  • Receba nossos relatórios diários e gratuitos
Scot Consultoria

Carta Conjuntura - Produzir sem destruir


Quarta-feira, 20 de junho de 2012 - 18h06

Zootecnista pela USP – Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA). Analista de mercado do boi gordo, atacado e varejo de carne e lácteos, sementes forrageiras e insumos agrícolas. Coordenadora da Rádio Scot. Editora da Carta Conjuntura.


A Rio+20, conferência que reúne líderes mundiais, integrantes do setor privado, ONGs e outros grupos para discutir como reduzir a pobreza, promover a justiça social e a proteção do meio ambiente, trouxe à tona o tema sustentabilidade, que está intimamente ligado à produção de alimentos e que se tornou o mais comentado assunto nas últimas semanas. Para muitos, a criação animal, principalmente a pecuária, é a vilã da sustentabilidade e da preservação do meio ambiente.

Sustentabilidade é um termo que define as ações e atividades humanas que visam suprir suas necessidades sem comprometer o futuro das próximas gerações. Ou seja, está diretamente relacionada ao desenvolvimento econômico e social sem degradar o meio ambiente, utilizando os recursos naturais de forma inteligente para que eles se mantenham no futuro.

A pecuária foi uma das principais atividades humanas responsável pelo desmatamento no Brasil nas últimas décadas e, hoje, carrega esse fardo, mesmo com a melhoria na produtividade e com o aumento do uso da estratégia de confinamento, que ocupa menos área do que a pecuária extensiva. Mas, vamos aos fatos: o rebanho bovino vem aumentando. De 2001 a 2011, o rebanho cresceu 21,9% enquanto que o desmatamento anual caiu 64,8%. Em 2011 ocorreu o menor nível de desmatamento desde 1988. Isso só foi possível através da melhoria na produtividade. Observe na figura 1.



Além do desmatamento, a pecuária acumula a bronca de ser umas das principais atividades responsáveis pelo efeito estufa. Dentre os vários gases causadores do problema, a pecuária contribui com a emissão de metano e gás carbônico, provenientes da ruminação e da degradação de seus dejetos no solo. Mas será que é isso mesmo?

Estudo divulgado pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO, sigla em inglês) mostra que, entre 1996 e 2006, houve estabilização nos níveis de metano na atmosfera enquanto que, no mesmo período, a população de ruminantes aumentou em nível mundial. Logo, não se pode culpar exclusivamente o rebanho bovino como causador do efeito estufa.

A relação maior entre pecuária e efeito estufa é a conversão de florestas em sistemas agropecuários, mas não se pode deixar de considerar a emissão dos gases vinda de atividades humanas, como a indústria, aterros sanitários, automóveis e dos dejetos gerados nas cidades.

Diversos estudos apontam o potencial das pastagens em acumular carbono, de forma semelhante à vegetação nativa, porém poucos consideram este potencial de forma signitificativa e, para um país como o Brasil, com aproximadamente 180 milhões de hectares de pastagens, isto pode fazer a diferença em relação ao equilíbrio das emissões de gases da atividade.

A pecuária brasileira não precisa desmatar para aumentar a produção de carne. Precisa, isso sim, de difusão e aplicação de tecnologias que garantam maior produtividade e incentivos governamentais através da facilitação de crédito rural.

A FAO estima que, para alimentar a população mundial em 2050, a oferta de carne precisará ser de 470 milhões de toneladas e que 70% da produção será consumida nos países em desenvolvimento, os que crescem em maior ritmo. Nos próximos dez anos, a organização estima que o consumo de carne deva aumentar 1,5% ao ano até 2020.

Em 2011 a população mundial atingiu sete bilhões de pessoas. A Organização das Nações Unidas (ONU) projeta que em 2025, a população mundial sera de oito bilhões de pessoas. Em 2083, estará em 10 bilhões. Paralelamente, a expectativa de vida mundial, que em 1950 era 48 anos, atualmente está em 69 anos. Ou seja, serão mais pessoas e mais longevas, consequentemente maior será a necessidade de alimentos.

A agropecuária moderna tem sido vilanizada por muitos que apoiam a alimentação vegetariana e/ou orgânica como única forma saudável e viável de se alimentar. Mas a utilização apenas destas tecnologias não são eficientes para alimentar a população mundial, que cresce a cada dia. O problema da fome no mundo não será resolvido apenas pela ajuda direta aos países necessitados. Investimentos devem ser feitos no setor agropecuário destes países para que possam produzir sem destruir.

As pessoas precisam compreender que a melhor ferramenta para alimentar o mundo de forma economicamente sustentável e conservando o meio ambiente é uma agropecuária forte, com alta tecnologia e sem criminalizar a produção.



<< Notícia Anterior Próxima Notícia >>

Buscar

Newsletter diária

Receba nossos relatórios diários e gratuitos


Loja