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Scot Consultoria

Dependência externa de fertilizantes

Importação de fertilizantes, exposição a riscos e compostagem de dejetos bovinos como estratégia de mitigação e redução de custos.


Foto: Freepik

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O Brasil é um grande importador de fertilizantes, condição evidenciada pelo volume recorde de 29,4 milhões de toneladas importadas de janeiro a agosto deste ano. Esse movimento reflete uma dependência estrutural do agronegócio nacional em relação a insumos importados, com uma taxa média de crescimento de 8,0% ao ano ao longo dos últimos cinco anos.

Tal dependência expõe o país a riscos, incluindo volatilidade de preços, custo logístico elevado e eventuais disrupções nas cadeias globais de suprimento. Um exemplo marcante ocorreu em 2022, quando o valor desembolsado na importação foi 2,2 vezes maior que em 2024, ainda que os volumes importados tenham sido equivalentes (figura 1).

Apesar do avanço na produção doméstica de fertilizantes intermediários**, cuja expansão foi de 8,9% até junho, totalizando 3,5 milhões de toneladas (ANDA), a escala atual é insuficiente para alterar significativamente a matriz de suprimentos do país. Dessa forma, mantém-se a vulnerabilidade estratégica do setor perante oscilações do mercado internacional.

Figura 1.
Volume acumulado e gastos com fertilizantes* importados de janeiro a agosto, em milhões de toneladas e em reais.
Fonte: COMEX / Elaboração: Scot Consultoria
* HS: 3101, 3102, 3103, 3104 e 3105
** Compostos químicos usados como matérias-primas na produção de fertilizantes mais complexos

Diante dessa vulnerabilidade, a compostagem de dejetos provenientes de confinamentos bovinos surge como uma estratégia inteligente para mitigar riscos e reduzir custos associados a variações dos insumos importados.

O confinamento, que abrigou um rebanho bovino estimado em 7,37 milhões de cabeças em 2024, representou 3,1% do rebanho nacional, gerando em média 3,3 kg de dejetos por animal, aproveitar este resíduo é um imperativo econômico e logístico.

Conforme evidenciado pela expedição Confina Brasil 2024, organizada pela Scot Consultoria, a maioria (92,5%) dos confinamentos coleta esses dejetos, sendo o destino a adubação de lavouras próprias a prática predominante (96,2%). No entanto, é através da compostagem que este material atinge seu máximo potencial e valor.

Este processo, que envolve a mistura dos dejetos com aditivos como fosforita, bagaço de cana e corretivos, seguida de aeração periódica em leiras, transforma o resíduo bruto em um fertilizante orgânico de alta qualidade, estabilizado e sanitariamente seguro.

Os teores de macro e micronutrientes deste composto é considerável. Estudos, como o de Junior et al. (2012), atestam a presença significativa de macronutrientes essenciais, com resultados médios de 35g/kg de Nitrogênio (N), 22g/kg de Fósforo (P) e 60g/kg de Potássio (K) em compostos derivados de dejetos bovinos alimentados com dietas com duas relações volumoso:concentrado.

Dessa forma, a expansão da compostagem em confinamentos de bovinos representa uma medida estratégica para reduzir a pressão sobre os custos com fertilizantes importados. A estimativa para 2025 aponta para 8,25 milhões de cabeças confinadas, com uma projeção de produção de dejetos de 2,7 milhões de toneladas – considerando 100 dias de confinamento.

Com base na composição média, este volume potencializaria a recuperação de:

0,035kg de N/kg do composto - 94,5 mil toneladas

0,022kg de P/kg do composto - 59,4 mil toneladas

0,060kg de K/kg do composto - 162,0 mil toneladas

O total seria de 315,9 mil toneladas em nutrientes, representando um incremento equivalente a 4,5% da produção nacional de fertilizantes intermediários em 2024. Vale ressaltar que, ainda que este volume não altere sozinho a dependência das importações, a compostagem agrega valor a um resíduo que carecia de utilidade sistemática e representava um passivo ambiental.

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