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Terça-feira, 28 de agosto de 2007 - 15h34

Engenheiro Agrônomo


Numa mesma fazenda, no mesmo período, diferentes especialistas podem acabar diagnosticando diferentes custos de produção na atividade. Nem por isso um estará certo e outro errado. São diferenças entre critérios. Este é o maior problema da falta de uma metodologia padronizada para cálculos de custos de produção na agropecuária. ATRIBUIÇÃO DE VALORES Mesmo que existisse um padrão para o cálculo dos custos de produção, ainda assim, os critérios esbarrariam na metodologia de atribuição de valores. Um exemplo típico – qual é o custo da mão-de-obra familiar? É normal encontrar análises em que é considerado, no componente de custos, o valor da mão-de-obra familiar. No entanto, muitas vezes o valor atribuído pode não refletir a realidade, ficando abaixo do normal. Quanto se deveria pagar a um funcionário para que ele cuidasse da empresa como se ela fosse dele? Observe que a qualidade da mão-de-obra familiar e os valores que serão atribuídos devem se equiparar aos melhores salários pagos por agricultores e pecuaristas na região em que a empresa atua. Ainda assim, em situações de equivalência de salários, a grande maioria dos funcionários de hoje acabaria preferindo a produção agrícola, tendo em vista a menor exigência da rotina operacional. Sendo assim, é possível estabelecer uma base de mercado regional para salários de bons funcionários para trabalhar na atividade leiteira. O valor não deve ser mais alto, nem mais baixo do que o mercado pagaria. CHIFRE EM CAVALO Como gostam de falar por aí, tudo isso parece “poesia”, “filosofia rural”, etc. Mas não é! Estabelecer tais critérios não se trata de dificultar o processo de controle de custos. Trata-se simplesmente de estabelecer bases decisórias para o gerenciamento da empresa. A gestão dos custos de produção tem o único propósito de subsidiar decisões. De nada adianta conhecer os custos apenas por conhecer. Se a gestão dos custos não se transformar em decisões, não haverá nenhum benefício prático ao empresário. Nas fazendas, todas as entradas de capital, assim como todas as saídas, devem ser criteriosamente detalhadas e classificadas. É preciso compreender quais são os maiores gargalos da empresa, os resultados, as relações entre benefícios e custos de cada componente envolvido no fluxo de caixa da empresa. Novamente exemplificando. O custo de uma operação mecanizada não é apenas o diesel consumido, pois envolve outros recursos, cujos desembolsos foram feitos anteriormente (investimentos). No entanto, um dia, tais desembolsos terão de ser feitos novamente, visando substituir os bens que estão sendo utilizados. Nada mais razoável do que planejar estes re-investimentos. Ainda, no caso da mão-de-obra familiar, devem-se computar os encargos e demais custos de funcionários ou não? Observe que caso o produtor não tenha a referência dos custos dos encargos, ele acabará tendo uma “surpresa” quando aparecer a necessidade de ampliar a mão-de-obra de sua empresa, ou mesmo substituir o serviço de um filho ou filha que, por qualquer razão, deixa de se empregar nos negócios da família. Tendo base para prever as alterações nos custos de produção na necessidade de qualquer mudança, os produtores decidirão com “pé no chão”, reduzindo a possibilidade de erros. Erro numa atividade de margens apertadas, como é a pecuária leiteira, é a diferença entre o lucro e prejuízo. EXEMPLO EM NÚMEROS Observe na figura 1 e na tabela 1, a estimativa de resultados e disponibilidade de recursos para empresas familiares. Os números foram obtidos com base em empresas de alta tecnologia e produção superior a 800 litros de leite por dia, divididas em dois sistemas – pasto e confinamento no inverno e confinamento total – com diferentes escalas de produção. Caso o produtor possua menor escala, em áreas também menores, os custos operacionais tendem a ser mais baixos do que os relacionados na figura 1. Isso ocorre desde que a empresa não tenha realizado investimentos desnecessários em relação à área disponível para a pecuária leiteira. Quanto menor a área, menor disponibilidade de capital para investimentos em máquinas, tratores, benfeitorias e equipamentos. Portanto, a empresa será mais dependente do esforço manual, evitando aumentar os custos das depreciações, principalmente. Também foram adotados valores médios de 2,5 salários mínimos com incidência de 100% de encargos, incluindo décimo terceiro e férias, para a mão-de-obra familiar. O valor da administração adotado foi de R$1,8 mil por mês. LUCRO E ENTRADAS DE CAPITAL Na tabela 1 pode-se verificar a diferença entre o que foi denominado de lucro aparente e lucro operacional. Para facilitar o exemplo, adotou-se custos operacionais de produção em R$0,55/litro (média da figura 1) e preços de leite em R$0,56/litro. Padronizando o caso de duas empresas - uma com 100% da mão-de-obra familiar, enquanto outra com apenas 30% de mão-de-obra familiar - observe que para cada R$0,01/litro de lucro operacional, outros R$0,06 a R$0,12/litro entram como recursos líquidos diretos para a família proprietária da empresa. Este recurso líquido já desconta os R$0,06/litro de leite que devem ser direcionados para provisionar o re-investimento na atividade. Em economia, tal provisionamento são as chamadas depreciações. Na situação analisada, para cada litro produzido entram de R$0,11 a R$0,18 em recursos financeiros para a família, distribuídos em salários, encargos, recursos para re-investimentos, administração e lucro propriamente dito. Por isso que, na prática, a produção de leite com alta tecnologia é uma excelente opção para pequenos produtores, principalmente aqueles que empregam mão-de-obra familiar. No entanto, nem todas as vantagens são relacionadas ao lucro operacional. Todas as outras entradas de capital, identificadas na tabela 1, devem ser consideradas como vantagens para o produtor. A grande diferença entre classificar tudo como lucro ou classificar como custos, salários, administração, etc., conforme sugerido no artigo, é a qualidade das decisões dos produtores. No exemplo, caso o preço do leite fique abaixo dos R$0,55/litro, o produtor saberá que já está numa situação desfavorável que, na prática, significa que tem recursos insuficientes para manter os re-investimentos necessários. Será preciso cautela na hora de decidir se expande o negócio, se contrata auxiliares ou não. O mesmo raciocínio vale para os salários. Conhecer os números, e analisá-los criteriosamente, é fundamental para estabelecer um bom planejamento da atividade.
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